Campos Neto: BC tenta 'recuperar credibilidade' após divergência do Copom
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
20/08/2024 11h07
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (20) que a autoridade monetária tenta "recuperar a credibilidade" após a decisão dividida do Copom (Comitê de Política Monetária) que definiu o corte de apenas 0,25 ponto percentual da taxa Selic, para 10,5% ao ano, em maio. Durante exposição no Macro Day 2024, evento promovido anualmente pelo BTG Pactual, ele destacou que a equipe está mais unida, como indicaram os últimos vereditos a respeito da taxa básica de juros.
O que aconteceu
Presidente do BC avalia que os diretores da autoridade monetária estão mais unidos. Segundo ele, "a equipe está focada e comprometida em levar a inflação para meta", depois que a divergência no encontro do Copom de maio gerou incertezas. "A gente entendeu que teve um problema que gerou um prêmio de risco, que não foi bom para o Banco Central e nem para a economia", reconheceu,
Ele vê a necessidade de "recuperar credibilidade" após o ocorrido. Em maio, os quatro diretores indicados pelo presidente Lula se manifestaram favoráveis a um corte de 0,5 ponto percentual da taxa básica de jutos e os outros cinco saíram vitoriosos com a decisão pelo corte de 0,25 ponto percentual.
A nossa tarefa é não olhar tanto para esses ruídos de curto prazo e a mensagem é muito parecida com a da ata. Vamos fazer o que tiver que fazer e, se tiver que subir os juros, vamos atual.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Mundo
Campos Neto avalia que os riscos globais para a economia reduziram nos últimos meses. Segundo o presidente do BC, as previsões de queda dos juros nos Estados Unidos estão mais favoráveis, com o aumento das chances de corte para o mês de setembro diante dos dados que indicam para a perda de força da economia local. "Hoje, o cenário de uma desaceleração organizada dos Estados Unidos é o que prevalece", pontuou ao avaliar o cenário como positivo.
Possível recessão nos Estados Unidos preocupou o mercado. Campos Neto avaliou que o temor surgiu por um conjunto de fatores em um curto intervalo de tempo. "A gente veio de um cenário onde dados mais fracos norte-americanos eram vistos com otimismo. Mas o mercado ficou receoso com um conjunto dados mais fracos durante uma semana que gerou uma desarrumação do mercado", observou ele.
Existe uma percepção de que a barra é muito mais alta para governo e bancos centrais socorrerem a economia, como aconteceu no passado.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Entrevista
Presidente do BC defende "transição tranquila" na diretoria da autoridade monetária. Próximo de deixar o cargo, Campos Neto disse em entrevista publicada nesta manhã na coluna da jornalista Míriam Leitão, no jornal O Globo, estar "preocupado com a continuidade" do trabalho desenvolvido nos últimos anos. "Quero ajudar na transição e tenho certeza de que quem entrar vai conversar comigo e falar: 'o que você acha disso?'", ponderou.
Comentou as críticas e divergências com o presidente Lula e lideranças do PT. Para Campos Neto, o discurso é "mais político do que técnico". Questionado sobre a presença em uma homenagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freiras, ele relatou ter participado de eventos semelhantes, sem a mesma repercussão, em Mato Grosso e no Rio de Janeiro. Sobre ter vestido uma camisa da seleção brasileira na eleição de 2022, uma referência dos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele avaliou que hoje "teria feito diferente".
Campos Neto também comentou a possibilidade de futuras elevações da taxa básica de juros. Segundo Campos Neto, "há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos" que serão levadas para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). "Não lembro de ter tido espírito de equipe tão grande entre todos nós", contou a respeito dos últimos dois encontros do colegiado.
Comandante do BC diz que a autoridade considerou intervir para derrubar a cotação do dólar. "Chegamos perto de fazer a intervenção", disse na entrevista. Segundo ele, a possibilidade foi rejeitada pela diretoria da autarquia. "Se mostrou uma decisão bastante boa não intervir: o câmbio voltou, a taxa de juros longa voltou", declarou.