Bolsa fecha em baixa, e dólar sobe. O que aconteceu no mercado hoje?
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL
25/09/2024 10h16Atualizada em 25/09/2024 17h16
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda nesta quarta-feira (25). Depois de abrir em alta, impulsionado por mais uma medida para estimular a economia chinesa, o Ibovespa virou o sinal ainda pela manhã. Terminou o dia em baixa de 0,43%, indo a 131.586 pontos, com os investidores sendo afastados pelo risco fiscal.
O dólar fechou em alta de 0,29%, indo a R$ 5,476. O dólar turismo ia a R$ 5,68.
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O que aconteceu
O Banco do Povo Chinês deu continuidade nesta madrugada ao anúncio de medidas para estimular a economia chinesa. Desta vez, diminuiu as taxas de empréstimos de um ano de 2,3% para 2%. A instituição, com todas as medidas tomadas até agora, espera liberar 1 trilhão de yuans (US$ 142 bilhões) na economia do país.
O pacote de incentivos chinês continuou estimulando os preços do minério de ferro. Pelo segundo dia consecutivo, os valores tiveram alta. E isso ajudou novamente as ações da Vale (VALE3) a subir. O papel teve valorização de 0,56%, indo para R$ 60,68, conforme dados preliminares.
Por que a Bolsa caiu e o dólar subiu?
O efeito de alta provocado pelas medidas chinesas foi momentâneo. A China anunciou na terça-feira (24) o maior pacote de estímulos já lançado desde a pandemia na tentativa de tirar o país da crise.
Ontem, mercados de todo o mundo reagiram bem ao conjunto de medidas, inclusive o Brasil. Mas não foi o suficiente para segurar o Ibovespa hoje. "Esse movimento de alta provocado pelas notícias da China foi passageiro porque o risco continua grande para os investidores estrangeiros por conta da situação fiscal do Brasil", diz Ariane Benedito, cofundadora e economista-chefe da Eai Invest.
O risco fiscal dificulta a entrada de dólares no país, diz a economista. Esperava-se que, com a queda de juros nos Estados Unidos e a alta da Selic aqui, os investidores emprestassem dinheiro lá para aproveitar a taxa maior no Brasil — operação conhecida por "carry tade" ou diferencial de juros. Mas isso não vem acontecendo.
Os juros nos EUA continuam altos, apesar do corte de 0,50 ponto percentual. A taxa americana é a segunda mais alta dentre as 20 maiores economias do mundo, segundo o C6 Bank. Com juros entre 4,75% e 5% ao ano, ela só perde para a britânica, que é de 5%. Então, entre aplicar no Tesouro americano ou apostar arriscando no diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, o investidor prefere ficar na segurança da aplicação estrangeira.
"A situação fiscal brasileira impede que o país aproveite esse diferencial de juros", diz Ariane. Para o investidor de fora, o ganho não compensa o risco que, na verdade, é de inflação: quando o governo gasta mais do que arrecada, a moeda se desvaloriza.
Ele só viria para cá se o prêmio fosse ainda maior, a ponto de compensar a perda com a inflação. Essa é uma das justificativas que o mercado usa para pressionar por uma nova alta da Selic. O problema é que quanto mais os juros sobem, pior para as empresas listadas em Bolsa. A dívida delas cresce e o valor das ações cai.
Os dados de investimentos estrangeiros provam essa aversão a risco, diz a economista. O Brasil teve déficit em transações correntes maior do que o esperado e investimentos diretos abaixo da previsão. As transações correntes registram a transferências de bens, serviços e as doações recebidas pelo país.
O déficit atingiu US$ 6,59 bilhões em agosto, com perdas acumuladas em 12 meses equivalentes a 1,75% do Produto Interno Bruto. Em agosto do ano passado as transações correntes haviam ficado negativas em US$ 969 milhões. As projeções eram de US$ 5,25 bilhões em agosto.
No mês, os investimentos diretos no país alcançaram US$ 6,1 bilhões. A expectativa era de US$ 7,5 bilhões. Os investimentos diretos no ano até agosto somam US$ 51,169 bilhões.
Petrobras
O J.P. Morgan passou a recomendar a compra das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4). Em relatório publicado nesta quarta, o preço alvo de PETR4 foi fixado pelo banco em R$ 46,50, enquanto para PETR3 foi R$ 49,00, implicando em potenciais de alta de 26,5% e 20,9%, respectivamente.
Por isso, mesmo em dia de queda do petróleo, as ações subiram. O barril do tipo Brent recuou 2,32%, para US$ 73,46. Mas PETR3 teve alta de 0,15%, para R$ 40,56, e PETR4 foi a R$ 37,03, com ganhos de 0,68%, conforme dados preliminares.
Inflação
Aqui, a inflação perdeu força, segundo o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). O índice, que é uma prévia da alta de preços de setembro, teve alta de 0,13%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Anteriormente, a variação havia sido de 0,19% dos preços em agosto. O índice acumula alta de 4,12% nos últimos 12 meses.
A expectativa do mercado era mais pessimista. Os especialistas previam aceleração para 0,28% em setembro. "Foi, na verdade, o melhor IPCA do ano", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Diante da prévia do IPCA abaixo do esperado, os juros futuros registram baixa hoje. "Isso reflete certo otimismo do mercado com o curto prazo, mas manutenção das expectativas para o longo", diz Felipe Castro, planejador financeiro e sócio da Matriz Capital.