Topo

Como maior greve em quase 50 anos nos Estados Unidos pode afetar o Brasil

Greve nos Estados Unidos bloqueia portos, como o de New Jersey Imagem: REUTERS/Shannon Stapleton

Do UOL, em São Paulo

02/10/2024 11h00

A maior greve portuária nos EUA das últimas décadas afeta o transporte de mercadorias essenciais, como alimentos e automóveis, em dezenas de portos, do Maine ao Texas, e pode causar prejuízos bilionários à economia americana. Especialistas explicam que a greve poderá gerar efeitos globais, atingindo inclusive o Brasil, com possíveis impactos na cadeia de suprimentos e na inflação.

Problemas no abastecimento de certos produtos

Trabalhadores portuários da Costa Leste e da Costa do Golfo dos Estados Unidos iniciaram nesta terça-feira (1) a primeira greve em larga escala em quase 50 anos. A paralisação interrompe cerca de metade do transporte marítimo do país.

Greve nos portos dos EUA gera incertezas sobre abastecimento.Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em Economia no Insper, aponta que o impacto da greve sobre o Brasil decorre principalmente da incerteza. A paralisação cria dúvidas sobre quando a situação será resolvida, especialmente porque envolve questões políticas e econômicas.

Isso significa que muitos países podem ter dificuldade em exportar e receber produtos. "Em caso de bens alimentícios, esse atraso pode significar a perda da carga como no caso da exportação de carnes de animais, por exemplo", declara Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio.

Atraso no retorno de contêineres

A sobrecarga nos portos dos EUA pode afetar a logística brasileira. De acordo com Roberto Uebel, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, a falta de contêineres pode gerar gargalos na logística internacional, impactando o Brasil. "A sobrecarga nos portos norte-americanos pode retardar o retorno desses contêineres ao Brasil, dificultando nossos processos de exportação e importação", diz.

Além dos contêineres, greve pode gerar impacto no frete marítimo. Ainda não se sabe por quanto tempo a greve se estenderá, o que é possível afirmar, segundo Brandão é que quanto mais demorada for a greve mais grave serão os impactos sobre o valor do frete e do seguro marítimo uma vez que muitos navios ficarão parados nos portos americanos. Dessa forma, isso pode impactar o preço final dos bens ao consumidor os tornando mais caros.

A greve se soma a uma série de desafios que o frete marítimo tem enfrentado como as secas que tem dificultado o uso do canal do Panamá, os conflitos internacionais que desviam rotas de comércio e aumentam o preço do frete pelo risco de perda de carga, a alta demanda pós pandemia e a dificuldade da indústria naval de atender a demanda por navios de carga.
Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio

Exportações brasileiras podem sofrer atrasos significativos. Segundo Uebel, outro efeito é o represamento das exportações brasileiras para os EUA. "Embora o Brasil não dependa tanto do comércio marítimo com os Estados Unidos, o atraso nas entregas pode gerar impactos indiretos, aumentando os custos e pressionando as expectativas de recebimento de produtos".

Se a greve vai se estender para os terminais de operações a granel, ou seja, aqueles terminais responsáveis por algumas das nossas principais exportações, como a soja, o Brasil pode ser rapidamente afetado.
Conrado Ottoboni Baggio, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco Granja Vianna

Pressão na inflação

Incertezas podem elevar custos no Brasil e pressionar a inflação. Inhasz também afirma que, à medida que os produtos americanos ficam mais escassos devido à greve, seus preços sobem, o que pode encarecer o custo de vida no Brasil. "Com o aumento dos preços dos produtos importados, especialmente de insumos industriais, isso pode elevar o custo de produção no Brasil, pressionando a taxa de câmbio e, eventualmente, importando inflação", explica a economista.

Entenda a greve

A greve foi deflagrada após a rejeição da proposta patronal. O sindicato Associação Internacional dos Estivadores (ILA, na sigla em inglês), que representa 45 mil trabalhadores portuários, não aceitou a última oferta apresentada pelo grupo patronal Aliança Marítima dos Estados Unidos (USMX). A proposta, segundo o sindicato, não atendeu às expectativas necessárias para a ratificação de um novo contrato.

A principal demanda envolve salários e automação portuária. O líder da ILA, Harold Daggett, afirmou que os empregadores não ofereceram aumentos salariais adequados e se recusaram a interromper os projetos de automação nos portos. A USMX, por outro lado, defendeu que a proposta incluía um aumento salarial de quase 50%, superior à oferta anterior.

Essa greve é resultado da falha de negociações que vinham acontecendo há mais de um mês entre a Associação Internacional de Estivadores, uma entidade que representa quase 50 mil trabalhadores que vinham pedindo aumento de salários, especialmente diante do crescimento da inflação nos Estados Unidos. Então, essa perda do poder de compra vinha causando uma pressão maior para que esses trabalhadores.
Conrado Ottoboni Baggio, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco Granja Vianna

Os portos afetados abrangem uma vasta região dos EUA. A greve, a primeira do sindicato desde 1977, impacta 36 portos, desde o Maine até o Texas. Estes portos são essenciais para o transporte de mercadorias em contêineres, afetando tanto exportações quanto importações cruciais para várias empresas.

O governo dos EUA acompanha de perto a situação. Embora tenha feito apelos por uma resolução rápida, a Casa Branca descartou o uso de poderes federais para encerrar a greve. O impacto inicial sobre os consumidores ainda é considerado limitado, mas medidas estão sendo avaliadas para mitigar potenciais prejuízos à cadeia de suprimentos.

Prejuízo para as eleições americanas. Para Rodrigo Reis, especialista em Relações Internacionais e diretor executivo do Instituto Global Attitude, a greve pode ter impactos não só financeiro para os Estados Unidos, mas também políticos."A greve pode impactar até mesmo as próprias eleições. Caso ela se agrave, isso com certeza vai ser uma possível linha de argumento do candidato republicado Donald Trump contra o governo democrata", diz. "Para o governo de Joe Biden, a greve não poderia vir em pior hora, faltando quase um mês para as eleições presidenciais. O aumento do custo de vida para a população vai prejudicar o desempenho do partido democrata, especialmente Kamala Harris", complementa Baggio.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Como maior greve em quase 50 anos nos Estados Unidos pode afetar o Brasil - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Economia