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Dólar sobe para R$ 5,78 e Bolsa cai com mercado ansioso por corte de gasto

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

31/10/2024 10h21Atualizada em 31/10/2024 19h26

O dólar subiu para R$ 5,781 nesta quinta-feira (31), o maior valor de fechamento desde 9 de março de 2021, quando a divisa chegou a R$ 5,7927. A moeda teve hoje alta de 0,31%. O dólar turismo avançou para R$ 6. No mês, a moeda americana acumulou valorização de 6,14% sobre o real. Em 2024, já são 19,70% de aumento.

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em baixa, com o Ibovespa caindo 0,70%, e atingindo 129.718 pontos. Em outubro, a Bolsa perdeu 1,59%. No ano, o Ibovespa já recuou 3,34%.

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O que aconteceu

O mercado continua ansioso pelas medidas de contenção de gastos do governo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite da quarta-feira (30), disse que há uma "forçação boba" em torno do tema. O ministro disse ainda que "não teve nada" na reunião de ontem da Junta de Execução Orçamentária (JEO).

A falta de urgência nas respostas pressiona significativamente o câmbio e a Bolsa. É o que diz Julio Mora, fundador e presidente da Choice Investimentos. "À medida que avançamos para o próximo mês, vemos espaço para uma piora nos índices caso não haja um anúncio consistente de corte de gastos. A demora só aumenta as expectativas", diz ele.

Dólar

Foi esse estresse de espera pelas medidas do governo que acelerou a cotação hoje. Internacionalmente, o câmbio esteve mais estável nesta quarta. O índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a seis moedas importantes está no zero a zero, quase não variou — mostrando um certo alívio do "Trump Trade" (a alta da moeda que a possibilidade de eleição de Donald Trump provoca).

Mas, no Brasil, hoje foi o último dia útil do mês. "Então tivemos aquela disputa pela formação da taxa Ptax. Nas horas cheias (10h, 11h, 12h e 13h) a moeda apresentou uma volatilidade um pouco maior ", explica Marcio Riauba, gerente de operações da StoneX Banco de Câmbio. A Ptax é a taxa de referência média diária do dólar, calculada pelo Banco Central, e, como diz o nome, é referência para reajustes de diversos contratos cambiais. Além disso, outras moedas de países exportadores de produtos básicos, como o Brasil, também tiveram queda nesta quinta.

Juros x Bolsa

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostrou hoje que a taxa de desocupação no Brasil foi de 6,4% no trimestre terminado em setembro. É o menor resultado para esse período do ano em toda a série histórica, iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A notícia é ótima mas tem seu lado ruim também. "O outro lado dessa história é a inflação", explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. Como a maior parte dos empregos no Brasil é de baixa qualidade — muitas vezes subempregos — esse aumento na taxa de ocupação acaba resultando em aumento na inflação, principalmente a de serviços. O aumento da taxa de empresa só para de impulsionar a inflação, diz Gala, quando ele acontece provocado pelo aumento da produtividade. "É quando as vagas são mais sofisticadas, os empregos são melhores", afirma.

Por isso, esse dado é mais um que pode levar o Banco Central a aumentar a taxa Selic no dia 6, ou seja, na próxima "super quarta". Na data, tanto o Banco Central brasileiro quanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) divulgam suas novas taxas de juros. Também é o mesmo dia em que saberemos o resultado das eleições americanas.

Melhores e piores do mês

Veja quais foram as ações que mais subiram e as que mais caíram em outubro, do dia 1 ao dia 30, conforme dados da Economatica:

Maiores altas:

  1. Yduqs (YDUQ3) 18,06%
  2. Cvc Brasil (CVCB3) 16,13%
  3. JBS (JBSS3) 16,03%
  4. Cogna (COGN3) 14,06%
  5. Marfrig (MRFG3) 12,98%

Maiores baixas:

  1. Carrefour (CRFB3) -19,24%
  2. Braskem (BRKM5) -11,29%
  3. Tim (TIMS3) -11,21%
  4. Hapvida (HAPV3) -10,00%
  5. CSN (CSNA3) -8,61%

Entre os papéis que mais subiram em outubro, estão ações ligadas ao consumo interno. "Elas se beneficiaram de uma percepção mais positiva em relação ao cenário doméstico, apesar da alta taxa de juros", diz Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital. No caso da Yduqs e Cogna, por exemplo, houve especulação sobre fusões, o que impulsionou as ações. "A CVC, que passa por uma reestruturação e reperfilamento de dívidas, também ganhou tração com a aprovação dessas medidas, o que foi bem recebido pelo mercado."

Do lado negativo, a maior baixa foi Carrefour. "A ação foi pressionada por desafios em sua estratégia, como a decisão de parcelamento em até três vezes sem juros, que afeta suas margens", diz Santos. Braskem continua sendo penalizada pelas incertezas em torno da venda de sua participação pela Novonor. Tim caiu após o lançamento da Nucel, operadora móvel virtual do Nubank. Hapvida já perdeu mais de R$ 7 bilhões em valor de mercado devido a preocupações sobre uma demora na recuperação das margens e fraqueza em sua performance comercial. CSN, que exporta para China, sofre com o encolhimento da economia no país oriental.

Indicadores internacionais

Nos Estados Unidos, o custo de vida aumentou ligeiramente em setembro e se aproximou da meta do Fed. Conforme divulgou o Departamento de Comércio nesta quinta-feira, o índice de preços de despesas de consumo pessoal (Personal Consumption Expenditures, ou PCE, na sigla em inglês) teve aumento ajustado sazonalmente de 0,2% no mês, com a taxa de inflação de 12 meses em 2,1%, ambos em linha com as estimativas do mercado.

Esse dado é importante porque o Fed usa a leitura do PCE como seu principal indicador de inflação. A meta do Fed é uma inflação anual de 2%, nível que não é alcançado desde fevereiro de 2021. Isso até permite ao Fed um corte mais agressivo de juros na semana que vem. Mas o mercado aposta em uma baixa mais suave.

Quanto maiores os juros nos EUA, pior para o Brasil. Os investidores tiram o dinheiro de aplicações arriscadas aqui e depositam no Tesouro americano, o investimento mais seguro do mundo — que atualmente paga taxas altas. Prova disso é que o fluxo cambial nacional total na semana passada ficou negativo em US$ 1,672 bilhão, resultado da entrada de US$ 15 milhões pela conta comercial e saída de US$ 1,687 bilhão pela via financeira, informou ontem o Banco Central. O fluxo total acumulado em outubro está positivo em US$ 244 milhões. No ano, já entraram US$ 6,763 bilhões.

Na Bolsa, especificamente, a situação é pior. A fuga de capital externo beira os R$ 2 bilhões este mês. No acumulado de 2024, a conta está negativa em R$ 30,177 bilhões.

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