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Negócio da China: Evelyn fatura até R$ 200 mil por mês com 'live shops'

Imagem: Divulgação/Kwai

Do UOL, em Hangzhou, na China*

13/11/2024 05h30

Nos cinco minutos em que você vai levar para ler esta reportagem, Evelyn Marques, 35 anos, vende mais ou menos 15 produtos em uma live em sua rede social. Parece pouco?

Pois saiba que a brasileira que vive há quase 10 anos na China é fenômeno em um modelo de negócio que começa a crescer no Brasil, mas, segundo a consultoria Statista, já movimenta R$ 3,9 trilhões (4,9 trilhões de yuans) por ano no país oriental: as live commerces ou live shops —transmissões ao vivo em redes sociais ou plataformas de compras, em que criadores de conteúdo sugerem produtos para sua audiência comprar.

Evelyn iniciou a carreira de live seller em 2018, com transmissões em inglês para o público chinês. Em 2020, foi convidada pelo Aliexpress para trazer o modelo de negócio ao Brasil.

Imagem: Divulgação/Kwai

A coisa decolou e ela logo passou a fazer transmissões em outras plataformas, além de lançamentos globais para grandes marcas. Em 2021, ingressou no Kwai, que atualmente é onde concentra a maioria de suas lives —e de seu faturamento, que é de R$ 150 mil a R$ 200 mil por mês.

Atualmente, ela tem 3,9 milhões de seguidores na rede social chinesa, onde chega a fazer duas transmissões ao vivo por dia —cada uma tem duração de duas a três horas. Em três anos, ela já vendeu mais de R$ 25 milhões somente no Kwai.

Em uma live convencional que realizou na última semana de outubro, a sul-mato-grossense teve uma venda bruta de R$ 21 mil e 524 pedidos. Já em uma live especial organizada pelo Kwai no início de outubro, com 10 horas de duração e ofertas agressivas, ela fez uma venda bruta de R$ 352 mil.

'Aprendi inglês sozinha, em 3 meses'

Evelyn Marques formou-se em negócios da moda aqui no Brasil e mudou-se para a China em 2015, quando o marido Márcio Osako (que não é de família chinesa) recebeu uma proposta para trabalhar lá.

Imagem: Divulgação/Kwai

"Quando cheguei, não falava nem inglês. Aprendi sozinha em três meses, vendo séries", conta Evelyn.

Após seis meses, ela começou a dar aulas de inglês para crianças e a participar de eventos de moda, que foi se envolvou com tecnologia. "Esse caminho acabou me colocando em contato com o mercado de live shops, que começou em 2016 aqui na China."

De consumidora —que comprava frutas, flores e outras coisinhas nas transmissões ao vivo— ela se tornou uma vendedora. Em 2018, o setor se consolidou na China e a brasileira começou a fazer lives em inglês em plataformas como Alibaba, Aliexpress e Shein, vendendo para o público oriental.

A carreira no Brasil

Imagem: Divulgação/Kwai

A sul-mato-grossense fez cursos em escolas chinesas, se especializou em live shops e, em 2020, recebeu um convite do Aliexpress para iniciar as transmissões da plataforma em nosso país.

"Minha primeira live para o público brasileiro foi em 6 de março, praticamente no início da pandemia da covid-19."

Como você deve se lembrar, os meses iniciais da pandemia foram o "momento ideal" para esse tipo de conteúdo ao vivo, quando houve um "boom" de lives —não só de vendas, como também de shows, de treinos e de debates sobre saúde, economia etc. Mas também foi um momento de muita dificuldade para todos, e para Evelyn não foi diferente.

"O dia da minha primeira live para o Brasil foi também o dia em que meu marido foi internado para tratar um câncer", lembra.

Imagem: Divulgação/Kwai

Por causa do coronavírus, os amigos do casal que viviam na China decidiram deixar o país. A empresária então se viu em um novo projeto, sem uma rede de apoio e com o marido internado de sete a dez dias a cada sessão de quimioterapia que precisava fazer.

"Passamos por todo esse processo sozinhos e eu acabei me apegando muito às lives, pois elas eram o que eu tinha naquele momento. Eram como um respiro diante de tudo que estava acontecendo."

Evelyn conta que fazia as transmissões de manhã e depois ia para o hospital fazer companhia para Márcio. Levava o computador e ficava trabalhando de lá, em reuniões e preparando o material das próximas lives.

"Algumas empresas grandes começaram a me chamar para lançamentos. Eu acordava às 4 da manhã para fazer lives globais ou para a América Latina para marcas como Xiaomi, Shein, Alibaba. As portas foram se abrindo no mercado brasileiro e eu nunca mais sai", lembra.

Em 2021, Evelyn treinou o primeiro time de "live sellers" do Kwai e começou a fazer transmissões na plataforma. Atualmente, ela é a principal produtora brasileira desse tipo de conteúdo e venceu duas edições do Prêmio Kwai na categoria criadora de e-commerce.

Conexão com o público

Em suas lives, Evelyn apresenta produtos selecionados por ela para sua audiência e interage com o público. "Vendo de tudo: roupas e acessórios, cosméticos, secadores de cabelo, produtos para casa e até varas de pescar e smartphones".

O usuário consegue fazer todo o processo de compra no aplicativo do Kwai, que permite que a pessoa coloque o produto apresentado pela live seller em seu carrinho, realize o pagamento e acompanhe o processo de entrega do que comprou.

Os produtos vendidos por Evelyn são de lojas aqui do Brasil ou de sua marca própria. Ela diz que, para atrair seu público, que está principalmente no Norte e Nordeste e é formado por mulheres com idade entre 20 e 65 anos, não basta só fazer uma boa seleção de mercadorias, mas também criar uma conexão com a audiência.

"O live seller não vende só o produto, vende emoções, inspirações e um estilo de vida. Não pode ser só algo comercial, pois estamos em uma rede social de entretenimento. Então, precisa existir uma interação, uma admiração, para que as pessoas queiram estar ali comigo nas lives, como se estivessem na sala tomando um café ao meu lado."

Um exemplo dessa conexão com o público que marcou Evelyn foi o de uma cliente que contou que assistia às lives enquanto fazia quimioterapia para tratar um tumor: "Ela mandava mensagem dizendo que era bom me escutar naquele momento, que eu era a companhia dela", lembra a empresária, que também foi a única companhia que o marido tinha na China durante seu tratamento de câncer.

Imagem: Divulgação/Kwai

Marca própria e capacitação de 'live sellers'

Especialista em moda, Evelyn criou a É Acessórios, marca de semi joias e bijuterias, que tem produtos com a curadoria da empresária —e ela usa e vende seus acessórios nas lives, claro.

A ideia da sul-mato-grossense é em médio prazo passar a desenvolver os próprios acessórios. E ela também vai lançar em breve uma marca de tênis, que serão produzidos aqui no Brasil. A inspiração para criar seus calçados veio da afinidade com a moda, mas também de uma live marcante:

Em julho deste ano, Evelyn vendeu 260 pares de tênis de um fabricante brasileiro em apenas duas horas. O sucesso foi tão grande e inesperado que a empresa precisou dedicar 20 dias de sua produção para atender a demanda dos produtos comprados pelo público da live seller.

Evelyn Marques e o marido Márcio Osako também criaram a Star Live, empresa com base no Brasil que capacita e agencia "vendedores de live shop".

Queremos ajudar a construir essa profissão no Brasil e hoje já temos 20 pessoas em nosso time, com live sellers em São Paulo, Belo Horizonte e na Bahia"

Imagem: Divulgação/Kwai

O casal já apresentou um projeto para o Sebrae para criar um curso de formação de live sellers. Por causa da experiência pessoal e todo o conhecimento que adquiriram na China, os dois acreditam muito no potencial que esse modelo de negócio tem para mudar a vida das pessoas.

"Na nossa equipe, temos ex-donas de casa ou entregadores de comida que começaram a fazer as lives para ter uma renda extra. Hoje, as vendas nas transmissões ao vivo já se tornaram sua atividade principal e há casos em que até outras pessoas da família deixaram seus empregos para auxiliar na curadoria de produtos e a fazer as lives", conta Osako.

*O jornalista viajou a convite do Kwai e do CICG Américas (Centro do Grupo de Comunicações Internacionais da China para as Américas)

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