Como é o estratégico megaporto chinês no Peru que preocupa os EUA
Do UOL*, em São Paulo
16/11/2024 05h30
O presidente da China, Xi Jinping, inaugurou nesta quinta-feira (14) um megaporto no Peru que vem causando preocupação nos EUA, conforme reportagem de Jamil Chade publicada no UOL.
Como é o porto de Chancay?
Teve investimento total de R$ 19,1 bilhões e conta com 15 canais. Chamado Chancay, o porto de águas profundas (cerca de 18 metros) está situado a 80 quilômetros ao norte da capital peruana e começou a ser construído em 2021.
Tem localização estratégica. A construção fica no centro da América do Sul e promete facilitar o transporte de mercadoria de todos os países da região, visando em especial a forte produção agroindustrial do Peru. Ele é parte de uma iniciativa lançada em 2013 por Xi Jinping para obras de infraestrutura que liguem os continentes como uma "nova rota da seda".
Estimativa é de receber um milhão de navios no primeiro ano. A estatal responsável pelo projeto prevê que o megaporto vire o "principal centro logístico da região sul-americana para o comércio".
Previsão é de redução de rota e de custos. Viagens diretas para a Ásia, em especial a China, serão feitas em até 20 dias a menos, segundo Raúl Pérez, ministro dos Transportes do Peru. Hoje, as mercadorias passam pelos portos de Manzanillo, no México, e Long Beach, na Califórnia (EUA). Segundo Pérez, o objetivo é transformar o país na "Singapura da América Latina".
O porto recebeu críticas por impacto à flora. ONGs já alertaram que a escavação subaquática impactou a flora e a fauna. "Toda a estrutura destas áreas marinhas foi alterada. Muitas espécies foram embora ou morreram", disse o biólogo Antony Apeño, da ONG CooperAcción. O temor de moradores de Chancay é que a pesca e a agricultura se tornem inviáveis com o intenso fluxo de navios.
Por que megaporto preocupa os EUA?
Porto faz ligação direta com a América Latina, já que as mercadorias não precisarão mais passar pelos EUA. Há ainda o temor de que a influência da China avance em uma região naturalmente sob forte influência comercial norte-americana.
A América Latina não fazia parte da nova rota da seda quando a iniciativa foi lançada, mas depois de alguns anos a China a incorporou como parte de seu projeto para se consolidar como uma potência mundial, um projeto econômico e comercial com o qual pretende fortalecer sua presença global.
Óscar Vidarte, professor de relações internacionais da Universidade Católica do Peru, à AFP
O megaporto faz parte da luta pela influência geopolítica na região. Chancay dá à China uma certa vantagem sobre os Estados Unidos.
Francisco Belaunde, analista e professor de direito internacional à AFP
O nível de envolvimento chinês em Chancay gerou alertas nos EUA sobre a possibilidade de o Peru ser usado por navios militares chineses como ponto de apoio nas Américas, segundo reportagem do The Washington Post. A general do Exército americano Laura Richardson, ex-chefe do Comando Sul, destacou o potencial de uso militar do megaporto —os 15 ancoradouros são capazes de acomodar os maiores navios do mundo, incluindo os de guerra. Mas um porta-voz do governo chinês rechaçou a acusação, dizendo que a obra não é uma "ferramenta para a competição geopolítica".
*Com informações da coluna do Jamil Chade e da AFP.