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Além do Carrefour, outras empresas francesas atacaram produtos do Mercosul

Vice financeiro da Danone na França anunciou que grupo não compraria soja brasileira Imagem: Danone/Divulgação

Danielle Castro

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

26/11/2024 16h03

O CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard, não foi o único líder de multinacional francesa a criticar e tentar desmerecer os produtos do Mercosul este ano em prol de interesses unilaterais. Danone, do setor de laticínios, e Tereos, uma das maiores produtoras de açúcar do mundo, ambas de origem francesa, já haviam acusado o agro sul-americano de falta de sustentabilidade e até de concorrência desleal.

O que aconteceu

Desentendimento entre franceses e brasileiros teve seu auge com anúncio do Carrefour, na semana passada. Depois de a rede varejista dizer que as lojas da França não comprariam carne do Mercosul, em retaliação ao possível acordo entre o bloco e a União Europeia, produtores do Brasil decidiram boicotar a marca também aqui no país.

A saia-justa fez o governo federal brasileira exigir um pedido de descupas do CEO francês do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard. Nesta terça-feira, o executivo não só se desculpou como ainda elogiou a carne brasileira.

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Reclamações francesas seguem um padrão. José Carlos de Lima Júnior, professor da pós-graduação em Administração da Harven Agribusiness School, destaca que as falas das três empresas são similares e se somam em um padrão. "Primeiro foi a Danone [em outubro], cujo vice-presidente financeiro [Juergen Essen] disse que a empresa deixaria de comprar soja do Brasil. Um mês depois, o presidente do Carrefour seguiu a mesma posição em relação à carne brasileira nos supermercados da França. Agora Tereos vê seu presidente [Olivier Leduc] passar a defender um fim na 'concorrência desleal' dos produtos 'sul-americanos'", lembra o docente.

Executivo encabeçam pressão contra acordo. Bompard afirmou na rede social X que as unidades francesas do Carrefour não comprariam mais carnes do Mercosul por não respeitarem "exigências e padrões" franceses, o que foi desmentido pelo setor e gerou boicotes à rede de supermercados.
Pouco depois, Leduq, veio a público se posicionar contra o acordo bilateral que está prestes a ser assinado entre União Europeia e Mercosul. A proposta de livre comércio, se vier a ser concretizada, trará isenção de impostos para produtos comercializados entre os dois blocos.

Unidades sul-americanas são prejudicadas pelas matrizes. Para Lima Júnior, há uma tentativa clara de alinhamento político das empresas com os produtores franceses, que são contrários ao acordo. As unidades dessas empresas no Brasil, entretanto, têm sofrido com a crise gerada junto a seus fornecedores e não parecem tão afins à postura pouco global dos representantes europeus.

A presidente da Danone na América Latina, Silvia Dávila, teve que declarar publicamente que a empresa "continua comprando soja brasileira." Em nota publicada nas redes sociais, o Carrefour Brasil informou lamentar "profundamente a atual situação", reafirmando a "estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre" manteve "uma relação sólida e de parceria" nos últimos 50 anos.

O boicote do Carrefour foi duramente criticado pelo setor agropecuário nacional. Entidades do agronegócio emitiram nota conjunta defendendo que a "produção de proteína do bloco econômico sul-americano chega a todos os países do mundo, incluindo os mercados mais exigentes, entre eles as maiores economias mundiais." Disseram ainda que os produtores do Mercosul passam periodicamente por auditorias e certificações dadas por "centenas de missões sanitárias internacionais e também por clientes", incluindo "as do BRC (British Retail Consortium), principal referência global em qualidade quando o assunto é produção de proteína."

Resposta atacou CEO da rede varejista. A nota do setor agropecuarista nacional afirmou que se para Bompard "o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês - que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano", os produtores do bloco também não serviriam "para abastecer o Carrefour em nenhum outro país".

Bares e restaurantes também aderiram ao boicote ao Carrefour. A Fhoresp (Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado
de São Paulo) anunciou que "condena veementemente as declarações" de Bompard e a decisão do supermercado, tomadas "sob alegações infundadas e sem comprovação técnica" em uma "ação meramente protecionista." A federação, que representa cerca de 502 mil empresas no Estado, convocou o setor de hospedagem e alimentação "a agir com reciprocidade", deixando de "comprar nas redes Carrefour, Atacadão e Sam's Clube, do grupo Carrefour."

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