Gastos do governo voltam a crescer e ampliam pressão por ajuste fiscal
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
03/12/2024 17h30
Após recuar 0,3% no segundo trimestre, as despesas de consumo da administração pública aumentaram 0,8% entre julho e setembro. A expansão acende um novo sinal de alerta sobre as contas públicas e necessidade de um ajuste fiscal rigoroso para cumprir as metas do arcabouço fiscal e limitar o avanço do dólar.
O que aconteceu
Gastos do governo voltam a subir no terceiro trimestre. Segundo dados apresentados nesta terça-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as despesas da administração pública cresceram 0,8%, na comparação com a queda de 0,3% registrada nos três meses anteriores. Na análise contra o mesmo período do ano passado, o avanço totaliza 1,3%.
Cenário eleva a cobrança por ajuste fiscal consistente. Diante da evolução das despesas públicas, a pressão por medidas para equilibrar as contas públicas é colocada novamente nos holofotes. "É urgente que a credibilidade fiscal seja restaurada por meio de um controle rigoroso dos gastos públicos e uma comunicação clara e assertiva", destaca a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Somente dessa forma será possível garantir um crescimento econômico mais equilibrado para a indústria e promover investimentos, gerando emprego e renda de forma sustentada para a população.
Firjan, em nota.
Controle dos gastos públicos ajuda a conter alta do dólar. "Sem o governo demonstrar uma preocupação com a responsabilidade fiscal, o dólar não vai cair, e o câmbio alto pressiona a taxa de juros", afirma Marx Gabriel, CEO da MB Consultoria. "[O ajuste] é fundamental para reduzir o risco-país, aliviar a pressão cambial e possibilitar uma redução sustentável da taxa de juros", reforça a Firjan.
Ajuste anunciado pelo governo é considerado insuficiente. Para Gabriel, ainda há muitas incertezas na proposta anunciada na semana passada pela equipe econômica com a previsão de economizar R$ 71,9 bilhões até 2026. "Esperava-se que o governo apresentasse algo concreto para a redução de despesas e o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad colocou algo muito macroeconômico", avalia.
Aquecimento da economia pode contribuir para o ajuste fiscal. Róridan Duarte, membro da Comissão de Política Econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia), afirma que a alta do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre eleva as receitas públicas sem aumento de carga tributária. "O ajuste [fiscal] pode se dar pelo lado das receitas, com menor necessidade de se depender apenas de cortes de despesas", diz.
Mercado financeiro não reage animado à alta do PIB. Diante das incertezas, o crescimento econômico não foi recebido positivamente em meio aos temores fiscais, afirma Felipe Sant´Anna, especialista da mesa proprietária Star Desk. "A curva de juros parece não ter tomado conhecimento de qualquer bom humor do governo", diz ele. "Pesa a situação do risco fiscal, as indefinições do governo e a falta de credibilidade na política econômica brasileira. O mercado não está nada animado para o final deste ano", complementa Sant´Anna.