Juros e busca por moradia no centro explicam alta dos domicílios alugados
Os domicílios alugados ganharam espaço nos últimos anos e abrigavam um em cada cinco (20,9%) brasileiros em 2022, segundo dados do Censo Demográfico apresentados nesta semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O que aconteceu
Proporção de imóveis alugados dispara 8,6 pontos percentuais em 22 anos. A evolução tem início entre 2000 e 2010, quando o percentual de residentes caiu 4,1 pontos percentuais, de 12,3% para 16,4%. O resultado interrompeu a tendência de queda dos lares locados nas duas décadas anteriores, segundo os dados do Censo.
Domicílios próprios são predominantes no Brasil desde 1980. Conforme o histórico da análise entre os aspectos sociais pesquisados pelo Censo, o percentual de lares pertencentes a um dos moradores apresentou um caminho inverso em relação às locações. O modelo avançou de 64,5% para 76,8% entre 1980 e 2000, mas recuou 4,1 pontos percentuais nas décadas seguintes, para 72,7%, em 2022.
Perspectivas indicam um aumento na proporção de lares locados. Evandro Luis, economista do Grupo QuintoAndar, observa que o crescimento previsto da população adulta e do número de famílias unipessoais tendem a aumentar ainda mais o percentual de imóveis alugados até o próximo Censo, previsto para ser coletado em 2030.
O Brasil ainda é um país com um estoque muito alto de pessoas morando em um imóvel próprio quando comparado a outros países. E ainda existe uma margem considerável para se transformar o estoque existente em moradia para alugar.
Evandro Luis, economista do QuintoAndar
Salários
Renda das famílias não evolui em linha com o preço dos imóveis. Coriolano Lacerda, gerente de pesquisa do Grupo OLX, cita os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e analisa que a renda nominal dos brasileiros evoluiu 10,5% nos últimos 12 anos, período em que o valor das residências saltou 28,4%.
Durante esse intervalo, fatores como o aumento do desemprego durante a pandemia impactaram diretamente a renda das famílias, resultando em uma queda significativa entre 2020 e 2021.
Coriolano Lacerda, gerente de pesquisa do Grupo OLX
Evolução populacional
Brasil vive momento de alterações demográficas e geracionais. Luis afirma que o aumento das famílias compostas por uma pessoa e a maior aceitação em morar de aluguel, principalmente entre os mais jovens, contribuem para o avanço das locações nos últimos anos.
Morar de aluguel acaba sendo uma opção mais acessível e com mais flexibilidade quando comparada às alternativas de financiar um imóvel a longo prazo ou de permanecer coabitando com os pais e outros familiares.
Evandro Luis, economista do QuintoAndar
Vida no centro
Procura por imóveis em bairros centrais também pesa no resultado. "Mudanças no perfil das famílias têm intensificado a busca por moradias em áreas mais centrais, que historicamente concentram os maiores preços devido à proximidade com os polos de emprego e serviços", explica Lacerda.
Comodidade estimula a preferência por imóveis alugados. Luis afirma que altas proporções de população morando de aluguel são comuns em países desenvolvidos. Para atender a demanda em expansão, ele defende a ampliação do "debate sobre o déficit habitacional, o investimento em urbanização e novas construções".
As pessoas muitas vezes querem morar nos mesmos lugares nas cidades, mais próximos aos centros urbanos e com melhores condições de infraestrutura e serviços.
Evandro Luis, economista do QuintoAndar
Juros altos
Taxa de juros elevada dificulta o acesso das famílias ao crédito. Essenciais para a aquisição de moradias no Brasil, os financiamentos ficam mais difíceis em períodos de aumento dos juros. "Esse cenário reforça a dificuldade da renda média em acompanhar o crescimento dos preços imobiliários, restringindo o acesso à compra de imóveis, principalmente em regiões urbanas", reforça Lacerda.
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Quero receberA recente restrição de crédito, causada pela alta de juros, tem dificultado ainda mais o acesso à moradia nessas regiões [centrais]. Como consequência, muitas famílias passaram a migrar para o mercado de locação, que apresenta alta demanda contínua.
Coriolano Lacerda, gerente de pesquisa do Grupo OLX
Efeito cascata atinge até mesmo preço das locações. Com o crédito mais escasso para ampliar a venda dos imóveis, Luis destaca que o cenário interfere diretamente no valor dos aluguéis. "Se o custo de financiar é alto, a longo prazo isso também acaba aumentando a demanda pelos aluguéis e pressionando o valor para cima", afirma ele.
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