O que está por trás da fake do Pix e de outras mentiras sobre a economia
Do UOL, no Rio e colaboração para o UOL, em Campinas (SP)
16/01/2025 10h44
Desde dezembro, diversas fake news envolvendo supostas novas tributações se disseminaram nas redes sociais. A falsa taxa do Pix é uma das que mais repercutiram, e teve consequência na vida prática das pessoas. Após a polêmica, governo recuou e revogou as normas com as mudanças no Pix.
Para especialistas ouvidos pelo UOL, ações como essas podem provocar desestabilização econômica.
O que aconteceu
UOL Confere desmentiu, ao menos, 19 conteúdos sobre temas econômicos desde dezembro. Nos últimos dias, publicações desinformativas sobre uma falsa taxação do Pix têm dominado redes sociais.
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Transações com Pix diminuíram no começo do ano. Segundo o Banco Central, as transações registram uma queda de 15,3% nas primeiras duas semanas de janeiro em relação ao mesmo período de dezembro.
Notícia falsa já corre solta e provoca impactos ao consumidor. Para Marie Santini, coordenadora do Netlab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais) da UFRJ, a fake news sobre o Pix é um exemplo prático da relação de causalidade entre a desinformação e o impacto no cotidiano da população.
Acho que neste caso, é uma oportunidade de mostrar que mesmo o governo tentando desmentir, fazendo uma série de conteúdos para redes sociais, isso teve uma modificação no comportamento das pessoas.
Marie Santini, coordenadora do Netlab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais) da UFRJ
Postagens podem afetar estabilidade econômica. Além da alteração de padrões de consumo, Ricardo Motta, sócio da área de Relacionamento com o Mercado pelo Viseu Advogados, entende que as fake news geram oscilações nos mercados financeiros, prejuízo à reputação empresarial e até afetar as relações internacionais.
A proliferação de fake news está intimamente ligada a fatores estruturais e interesses específicos, como o lucro e monetização digital, além da manipulação política e econômica.
Ricardo Motta, advogado e sócio da área de Relacionamento com o Mercado pelo Viseu Advogados
Baixa educação midiática é o que provoca onda de desinformação. Motta considera que a população não está preparada para identificar e combater informações falsas, "tornando-se mais vulnerável a conteúdos manipulativos". Os efeitos podem ser devastadores para a economia brasileira.
Ação pode ser coordenada e fake news do Pix não é caso isolado. Para a pesquisadora da UFRJ, existe uma coordenação para disseminar desinformação em economia, já que o tema mexe com o medo imediato dos cidadãos, além de ser um assunto com atualizações constantes, o que torna difícil para a população acompanhar essas mudanças.
A questão da economia mexe com o medo e o bolso das pessoas, e isso tem crescido. A gente sabe que uma parte dessas campanhas de desinformação vem de motivações políticas e isso passa a ser uma pauta importante: a desinformação pautada na economia.
Marie Santini, coordenadora do Netlab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais) da UFRJ
A desinformação mina a legitimidade de governos e instituições financeiras, desestabilizando moedas e prejudicando o crédito. Fora isso, a desconfiança nos canais oficiais leva à migração para o mercado informal, afetando a arrecadação de impostos e ampliando desigualdades.
Ricardo Motta, sócio da área de Relacionamento com o Mercado pelo Viseu Advogados
Cronologia das fakes: de taxa a pets a Pix
Em dezembro, publicações desinformativas alegavam que o governo ia cobrar imposto de donos de pets. Os posts distorciam o teor de um projeto de lei, de iniciativa parlamentar, que estabeleceu a criação de um cadastro nacional de animais de estimação para a implementação de políticas públicas para o bem-estar animal.
A falsa taxa para pets continuou circulando no começo de janeiro com um vídeo manipulado por IA de Haddad. Na entrevista original, o ministro negava a intenção do governo em aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como uma medida contra a alta do dólar. Em momento algum Haddad fala sobre taxar pets e grávidas.
No começo de janeiro, conteúdos desinformativos sobre o Pix começaram a circular. Na época, uma entrevista com informações erradas sobre uma instrução normativa da Receita Federal viralizou. As publicações reproduziam uma entrevista veiculada pela PUC TV, de Goiás, em que um membro do Conselho de Contabilidade dizia que pessoas físicas seriam obrigadas a declarar suas movimentações financeiras à Receita Federal. A emissora e o Conselho Regional de Contabilidade de Goiás corrigiram a informação em seguida.
Mas as fake news sobre taxação do Pix não pararam por aí. Posts nas redes sociais comparavam as medidas do Governo Lula com as de Jair Bolsonaro sobre o Pix de forma enganosa. Nem Lula criou taxa para Pix de pessoas físicas e nem a tecnologia foi criada pelo governo Bolsonaro.
Também passaram a circular imagens fraudulentas sobre uma falsa limitação de saques nos bancos a partir do segundo semestre deste ano. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nega que exista perspectiva de limitação de saques em qualquer momento.
Por último, o boato sobre um estudo para criação de uma "taxa ambiental veicular" passou a circular. Terça (14), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a fazer um alerta sobre a notícia falsa de que o governo criaria uma taxa ambiental para veículos com mais de 20 anos de uso.