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Vale tem prejuízo de R$6,66 bi no 3º trimestre com impacto cambial

Por Marta Nogueira e Gustavo Bonato
Imagem: Por Marta Nogueira e Gustavo Bonato

22/10/2015 14h12

Por Marta Nogueira e Gustavo Bonato

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A mineradora Vale registrou prejuízo líquido de 6,663 bilhões de reais no terceiro trimestre, principalmente devido ao efeito contábil da forte desvalorização do real ante o dólar em sua dívida e em meio aos baixos preços do minério de ferro.

O prejuízo é quase duas vezes maior que as perdas registradas no mesmo trimestre do ano passado, de 3,381 bilhões de reais, segundo relatório financeiro publicado pela maior produtora global de minério de ferro nesta quinta-feira.

Em dólares, o prejuízo da Vale no trimestre foi de 2,117 bilhões, em linha com pesquisa da Reuters com sete analistas, que projetou prejuízo médio de 2,28 bilhões de dólares.

A desvalorização do real ante o dólar no período de 28,1 por cento produziu, principalmente, segundo a Vale, perdas não caixa de 6,221 bilhões de dólares no lucro antes do imposto de renda. As perdas são contabilizadas ao converter a maior parte das dívidas da empresa, que estão em dólar, para a moeda brasileira.

"Tivemos muita volatilidade no mercado de câmbio no Brasil com a desvalorização muito significativa do real brasileiro que fechou o trimestre a 3,97 com impacto sobre as contas de balanço da companhia de forma importante, justifica, dessa forma, o prejuízo que a companhia registrou no trimestre", afirmou o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, em vídeo publicado no site da companhia.

O analista do Citi Alexander Hacking afirmou que o "principal aspecto positivo" do balanço foi uma redução de 2,3 bilhões de dólares na dívida líquida em dólar da companhia, que teve a contribuição da venda de ativos.

MINÉRIO DE FERRO

Os preços do minério de ferro, que são agora cerca de um quarto dos registrados em 2011, também contribuíram com o fraco desempenho da companhia. No terceiro trimestre, o minério teve preço médio de 46,5 dólares por tonelada, ante 50,6 dólares no trimestre anterior.

Em contrapartida, Siani ressaltou pontos positivos, como a forte produção de minério e o avanço físico de 75 por cento das obras de seu principal projeto S11D, no Pará, que entra em operação em 2016 e vai acrescentar 90 milhões de toneladas de minério de ferro de baixo custo na produção anual da Vale.

Entre julho e setembro, a companhia produziu 88,225 milhões de toneladas de minério de ferro, melhor resultado trimestral de sua história.

O Ebitda ajustado, uma importante medida de geração de caixa da companhia, alcançou 6,816 bilhões de reais no terceiro trimestre, muito parecido com o resultado do trimestre anterior (6,817 bilhões) e do terceiro trimestre de 2014 (6,854 bilhões).

O desempenho semelhante foi atribuído "principalmente ao maior volume de vendas na maioria dos segmentos de negócios, que foi parcialmente compensado pelos menores preços de venda e maiores custos", destacou a Vale.

"Os resultados operacionais foram em grande parte como esperado, com maiores volumes e menores custos de minério de ferro compensando o preço mais baixo", afirmou Hacking, do Citi, em relatório enviados para clientes.

Já o analista do UBS Andreas Bokkenheuser ressaltou que o processo da Vale de redução da produção de minas com maior custo, que somará capacidade anual de 25 milhões de toneladas, poderá comprometer a meta de 2016.

"Nós acreditamos que a orientação da produção para 2016 em diante está em risco de ser revisto para baixo, possivelmente no Vale Day no início de dezembro", afirmou Bokkenheuser.

Como ponto positivo, o analista do UBS destacou que a mineradora está ganhando competitividade nos custos de produção em relação aos seus principais concorrentes.

A redução de custos de produção e a busca por melhores valores de frete são extremamente importantes para que a Vale possa ganhar competitividade frente as suas maiores rivais, as mineradoras gigantes australianas BHP Billiton e Rio Tinto , que estão mais próximas do gigante asiático.

REDUÇÃO DE CUSTOS

A Vale acredita que poderá reduzir o custo de produção de minério de ferro para 10 dólares por tonelada, ante os 12,7 dólares registrado no último trimestre, após a entrada do projeto S11D e com melhorias no Sistema Sul, considerando a manutenção do dólar médio a 3,5 reais.

"Se pegar Carajás no terceiro trimestre e também o Sistema Sudeste, ambos já estão em ritmo de 10 dólares por tonelada. O custo (da produção total) é um pouco maior, por causa do Sistema Sul de Corumbá, que estamos otimizando", afirmou o diretor-executivo de ferrosos da companhia, Peter Poppinga, em teleconferência com analistas de mercado sobre o trimestre.

A redução do custo de produção, que ficou em 15,8 dólares por tonelada no segundo trimestre, foi bastante comemorada pela companhia.

"É o menor custo da indústria em todo o mundo", comentou Siani, em sua mensagem gravada.

O desempenho foi impulsionado pelas iniciativas de redução de custos em curso e pelo aumento da produção nas minas de N4WS e N5S, localizadas no complexo de Carajás, no Pará, e de alguns dos projetos de Itabiritos, em Minas Gerais.

Poppinga disse ainda que a Vale, a maior produtora global de minério, deverá reduzir estoques em 3 milhões de toneladas este ano, para cerca de 55 milhões a 57 milhões de toneladas, e que possivelmente haverá redução adicional de 10 por cento em 2016.

A queda dos estoques será possível graças ao aumento da capacidade de escoamento em trens da MRS no Sistema Sul, devido à redução da produção de minas menos competitivas e também a uma menor compra de terceiros.

(Reportagem adicional de Stephen Eisenhammer)