UOL - Quais serão as mudanças do transporte público para os próximos anos?
James Bellini - Tudo passa por uma integração de vários modais. Não é possível atravessar a cidade de bicicleta ou patinete. Se todo mundo andar de carro, ninguém se mexe, as vias já estão sobrecarregadas.
O sistema de mobilidade precisa ser repensado. É necessário haver integração entre o metrô, grandes ônibus que circulam em corredores, o articulado, o biarticulado, e até mesmo, no último pedaço, uma bicicleta ou um Uber ou qualquer outro veículo menor.
Pela legislação vigente, as empresas de ônibus são obrigadas a circular e ter uma frequência mínima em determinados locais "X" vezes por dia. Há ônibus enormes circulando vazios. Isso é incoerente e inviabiliza o sistema de transporte.
Precisamos de transporte sobre demanda. Um ônibus menor, por exemplo, vinculado a um aplicativo que vai determinar qual a melhor rota daquele ônibus para atender à demanda daquele momento. Não é uma competição entre trem, metrô, avião. É uma integração entre todos esses modais [tipos de transporte].
Isso vai atrair o passageiro, que, por sua vez, vai remunerar o operador, que vai tratar de ter uma frota renovada, com ônibus novos, confortáveis, e isso vai trazer mais passageiros. A questão é a organização do sistema.
O ônibus elétrico é uma alternativa para melhor o sistema de transportes?
Principalmente na questão do transporte urbano. A primeira questão é a da sustentabilidade, das emissões, e da necessidade de trabalharmos com energia limpa.
Em 2020, fizemos alguns projetos importantes, lançamos o primeiro articulado elétrico em parceria com a BYD. Um projeto para São José dos Campos [SP], de 12 articulados.
O segundo aspecto da eletromobilidade, principalmente no urbano, diz respeito à viabilidade econômica do sistema. No Chile, por exemplo, há em torno de 200 ônibus elétricos em operação em um modelo de negócio diferente.
A provedora de energia elétrica entra como player no sistema e financia a compra do equipamento [ônibus]. Esse sistema acaba subsidiando o transporte e faz com que a tarifa fique mais acessível para o passageiro.
Como a Marcopolo contribui com o desenvolvimento do sistema de transportes nas cidades?
A Next [divisão de novos negócios da Marcopolo] é o nosso braço de inovação. Com ela, deixamos de ser uma simples provedora de material rodante e passamos a ajudar no desenvolvimento dos sistemas de transportes nas cidades.
Fruto do trabalho da Next, criou-se uma área que se chama Marcopolo Consulting, na qual temos consultores e especialistas em sistemas de transporte, em urbanismo, e que estão ajudando as cidades e prefeituras a repensar os seus sistemas de transporte.
Passamos a participar do início do processo e não apenas ficamos reféns de um sistema existente que está muito comprometido.