UOL - Como a Coca-Cola vê o Brasil no contexto global?
James Quincey - O Brasil é um mercado muito grande para a Coca-Cola. Estamos investindo aqui há cerca de 70 anos, é o quarto maior país do sistema Coca-Cola, então o Brasil é muito importante para nós.
Estivemos aqui nos anos bons e nos difíceis. Agora o país está saindo da recessão profunda dos últimos anos, e nós vemos oportunidade de a economia começar a crescer novamente e a renda da população aumentar. Então estamos muito otimistas em relação ao futuro do Brasil.
A crise econômica mudou os hábitos do consumidor?
Em uma crise, geralmente as pessoas se tornam muito mais sensíveis aos preços, à acessibilidade dos preços. Elas contam cada centavo. Isso foi muito real no caso recente do Brasil.
O que nós aprendemos é que é realmente importante focar em tentar manter os preços baixos.
Uma das razões pelas quais nós gastamos tanto dinheiro nos dois últimos anos investindo em garrafas retornáveis é porque isso permite que mantenhamos o preço mais baixo do que o de uma Coca-Cola em garrafa descartável. Isso permite que os consumidores comprem Coca-Cola e que consigamos nos sair bem mesmo em anos ruins.
Também é ótimo para o meio ambiente, para reduzir a pegada de carbono. Isso dá uma boa ideia de por que crescemos no ano passado e estamos crescendo neste ano: nós conseguimos permanecer em contato com o consumidor por meio de preços acessíveis.
Quais são os desafios que uma companhia grande como a Coca-Cola enfrenta no Brasil?
Provavelmente são os mesmos desafios que os de outras grandes companhias estrangeiras aqui e até mesmo que os de grandes empresas nacionais
Todo grande mercado atrai muitos investimentos porque tende a ser mais competitivo, já que é onde as pessoas e o dinheiro estão.
O desafio é que esses mercados realmente exigem que você faça o seu melhor, tenha o melhor desempenho, seja percebendo o que está acontecendo com o consumidor, seja na inovação, em novas bebidas, ou no marketing.
O sr. acompanha a situação política no Brasil? Como ela interfere nos negócios da Coca-Cola?
Não acho que a política, por si só, interfira. Cada país tem um sistema político, um governo e uma agenda, e cada governo que assume tem a sua própria pauta. É o papel do governo estabelecer as regras para os negócios, e o papel das empresas é se adaptar a essas regras.
Estamos investindo no Brasil há muito tempo e achamos que o país tem um futuro brilhante. Claro que nós temos um ponto de vista sobre quais são as políticas que mais estimulam crescimento e investimentos e compartilhamos esse ponto de vista com os governos que encontramos no mundo todo.
Quais são essas políticas que vocês defendem?
Em relação a investimentos, sempre defendemos que haja a maior transparência possível e estabilidade em relação às leis, ou seja, que elas não mudem o tempo todo.
Defendemos que os países tentem seguir políticas que estimulem ao máximo o investimento e o crescimento econômico e então usem parte dos benefícios desse crescimento para investir em políticas sociais.
Embora nós não sejamos exatamente uma companhia de comércio global, já que nossos negócios são locais, nós acreditamos que comércio global tende a criar mais crescimento, o que gera mais dinheiro para as pessoas gastarem e, consequentemente, ajuda nossos negócios.
Por isso, somos sempre a favor de melhorar os acordos comerciais e de políticas focadas no investimento. Então, com os benefícios do crescimento econômico, faz sentido implementar políticas sociais.
O consumidor brasileiro tem alguma característica que o distingue, em relação a outros mercados?
Todo mercado tem características próprias, e o brasileiro não é diferente. Há algumas coisas muito, muito brasileiras. Há as frutas que são típicas daqui e que são usadas para produzir suco e bebidas, como o Mate Leão, que nós vendemos e é um produto único no mundo. Há coisas que são inerentemente brasileiras porque há produtos agrícolas que só são cultivados aqui, e eles chegam às comidas e às bebidas.
Também há questões culturais, claro. É um país imensamente diverso. Existem vários hábitos que são muito brasileiros, como praia e churrasco e a maneira como isso combina com tudo.
Há algum aspecto do nosso mercado que acha difícil de entender?
É um país muito grande e diverso. São vários estados, e todo mundo precisa entender o que acontece em cada estado. Mas nós temos uma equipe fantástica aqui, a Coca-Cola Brasil, e temos engarrafadores parceiros que empregam milhares de pessoas. Praticamente todos que trabalham aqui são brasileiros e entendem o país.
Nossa estratégia é reconhecer que cada país tem suas diferenças e sua maneira de fazer as coisas. Então, é muito importante para nós atuar localmente. É por isso que estimulamos negócios e empregamos muita gente local, para que as coisas aconteçam da maneira que devem.