UOL - Em 2017, a Volks pagou R$ 300 milhões com impostos sobre a folha de pagamento. O que o senhor acha das reformas trabalhista, fiscal e da Previdência?
Pablo Di Si - O Brasil está num contexto mundial de concorrência por postos de serviços. Quanto mais eficientes somos aqui no Brasil, maior possibilidade de exportação teremos. A capacitação das pessoas no Brasil é altíssima. Aqui, você encontra profissionais de altíssimo nível intelectual e comprometidos e apaixonados. Esse não é o problema.
O problema é toda a ineficiência que temos em várias cadeias. A reforma trabalhista é um dos passos necessários na direção correta porque diminui muito o litígio desnecessário, o custo Brasil de que falamos muitas vezes.
O país, como outros da América latina -e a Argentina é ainda pior que o Brasil- tem um desequilíbrio fiscal. Esse ponto precisa ser trabalhado de forma responsável para reduzir isso e as ineficiências que nós temos, como na área de logística, para podermos ser mais competitivos e podermos exportar mais carros para outros países.
Muitas vezes, quando exportamos veículos ou outros serviços, o custo do produto leva o imposto brasileiro para o exterior. E você concorre com países altamente competitivos, como o México. A diferença não está nas pessoas, mas na baixa complexidade e no baixo custo que eles têm.
Melhorando a competitividade, o brasileiro terá um carro mais barato?
A competência existe no Brasil. Somos pessoas excelentes, temos tecnologia, inovação. Muitas das inovações da Nova Volkswagen são desenvolvidas aqui por engenheiros brasileiros. Temos uma boa base.
Mais de 55% do valor do carro é imposto, na Argentina é 56%. Claro que é possível [diminuir o preço do carro]. Muitos jornalistas me perguntam sobre os subsídios que a indústria recebe, e acho que alguns deles são para compensar, às vezes, a ineficiência tributária que existe no Brasil, na Argentina e em outros países.
É claro que ninguém gosta de subsídios, mas também não gosta de exportar US$ 3.000 ou US$ 4.000 de impostos daqui para o México. É preciso estar equilibrado com uma reforma tributária muito mais simples, muito mais moderna, com cargas justas para as pessoas e para as empresas, mas que incentive a produção.
Outro exemplo além dos tributos é a logística. Em países como o México, quando importam ou exportam carros, o navio demora de dois a três dias no porto, no máximo, porque é tudo muito mais online, mais digital, menos burocrático.
Aqui no Brasil, e principalmente na Argentina, o carro fica parado no porto de duas a quatro semanas. Isso é um capital [que fica imobilizado]. Essa ineficiência impacta na cadeia produtiva onde o carro será vendido.
Como é a relação hoje com os sindicatos?
A relação com o sindicato é muito profissional. Os sindicatos são muito bem preparados. As conversas são muito profissionais.
Estive recentemente com um membro do sindicato de Taubaté [SP], e acordamos um plano de melhoria de absenteísmo [faltas] e de indicadores que não foram cumpridos.
Tenho uma boa experiência com os sindicatos. Eles entendem muito bem do negócio, entendem muito bem a crise que o Brasil passou nos últimos anos e também entendem muito bem o futuro da Volks.
Eles defendem os seus interesses, nós também defendemos os nossos, mas de uma forma profissional. Tento sempre ter uma proximidade, não somente com o sindicato, mas com as pessoas, porque é importante ter esse diálogo com eles, mesmo sem ter que tomar uma decisão. Essa conexão com os parceiros de negócio -e o sindicato é um deles- é fundamental para o sucesso da empresa.
Como a situação política interfere nos negócios?
Eu te falo da Volkswagen, e eu não estava no Brasil na época [assumiu a presidência em outubro de 2017]. A Volkswagen, em 2016, que foi um dos piores anos da crise, anunciou um investimento de R$ 7 bilhões. Acredito que para qualquer empresa, para qualquer conselho mundial, tem que olhar o país e acreditar no médio e longo prazo.
Nosso conselho mundial olhou para o Brasil e acreditou no curto, no médio e no longo prazo, mesmo que tenha volatilidade. E em 2016, sem saber quem iria ser o próximo presidente, decidiu investir esses R$ 7 bilhões.
A médio e longo prazo acreditamos no Brasil, estamos investindo. Obviamente nós esperamos que as regras do jogo sejam claras, transparentes, que tenhamos um horizonte de cinco, dez anos sem que mudem as regras. Isso favoreceria a ter investimentos adicionais.
E a corrupção? Como o senhor explica os acontecimentos no Brasil à matriz na Alemanha?
Como América Latina, não entramos muito em detalhe na política e na corrupção até porque a empresa é apolítica. O que temos dentro da nossa empresa são normas muito claras, muito simples e muito pragmáticas contra todo esse mecanismo de corrupção.
Nós ficamos fora desse negócio, e você tem que acreditar no país no médio e longo prazo e colocar o seu investimento no país. Os nossos R$ 7 bilhões estão aqui, e é muito dinheiro, porque nós acreditamos que as coisas vão melhorar.
Por outro lado, é preciso respeitar as instituições. Nenhum país é perfeito, mas o Brasil tem instituições fortes, podem até não ser perfeitas, mas tem um sistema Judiciário, um Banco Central, um Ministério da Fazenda [Economia], onde as coisas são tratadas nos âmbitos independentes.
O que o senhor espera deste novo governo?
Espero do novo governo regras claras, e acho que qualquer país deveria olhar para quais são as indústrias estratégicas. Quais deveriam ser as medidas, e não estou falando de benefícios, mas medidas claras, para ter uma visão estratégica de para onde vai o país.
Também ter uma visão estratégica dos problemas que existem aqui. A parte fiscal é um problema sério, que precisa ser resolvido não de forma urgente, mas precisam ser tomadas algumas medidas para ir corrigindo esses desvios fiscais que nós temos no país. Com regras claras, a empresa vai se adaptar à regra que o país colocar.
Como a crise do Dieselgate [falsificação de testes de emissões de poluentes] impactou nos negócios da Volks e qual o aprendizado?
O principal aprendizado foi olhar dentro da nossa empresa no nível mundial, e primeiro reconhecer o erro. Nós erramos. Depois obviamente houve mudanças de pessoas importantes em nível mundial, e uma mudança cultural.
Acredito que essa mudança cultural foi fundamental para a Nova Volkswagen. Como aprendizado, dar mais responsabilidades às pessoas que estão próximas ao negócio. Mas para isso você tem que ser crítico com você mesmo e assumir que errou.
Não foi um processo fácil dentro da empresa nos últimos anos. Mas de uma forma profissional, com alto nível intelectual, com um "mea culpa" intenso. Ainda não corrigimos tudo, estamos no processo de mudar. Acredito que estejamos no caminho certo.