Estudos recentes mostram que a estrutura produtiva da economia de um país condiciona a desigualdade e, quanto mais complexa ela for, menor a desigualdade no local.
Isso porque uma economia com mais complexidade, com indústrias fortes, tecnológicas, exige um aumento de produtividade do trabalhador, que passa a produzir bens mais valorizados e, assim, também recebe melhores salários.
Pesquisadores da Cornell University, nos EUA, combinaram métodos para mostrar que os países exportadores de produtos complexos (medidos pelo Índice de Complexidade Econômica) têm níveis mais baixos de desigualdade de renda do que os países que exportam produtos mais simples.
Segundo eles, os resultados obtidos "documentam uma correlação forte e robusta entre o índice de complexidade econômica e a desigualdade de renda".
Os pesquisadores exemplificam coletando dados de Chile e Malásia. Enquanto o país sul-americano tem renda per capita de US$ 21.044 e escolaridade média de 9,8 anos, ele é apenas o 72º colocado no ranking de complexidade econômica. Dessa forma, tem o Coeficiente de Gini de 0,49 (que vai de 0 a 1, sendo que 0 significa menos concentração de renda).
Já a Malásia, de acordo com o estudo, tem renda per capita de US$ 22.314 e escolaridade média de 9,5 anos, ambos bem próximos ao Chile, possui Gini de 0,39 (melhor que o chileno) e ocupa a 24ª posição no ranking de complexidade econômica.
Isso é um resultado empírico. Todos os países do mundo que não têm uma indústria desenvolvida, high e midle tech, são os mais desiguais. As sociedades com mais indústria têm uma classe média mais ampliada, uma boa rede de empregos, melhores salários e produtividade. Isso faz com que a desigualdade seja menor.
Paulo Gala, diretor-geral da Fator Administração de Recursos e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Esse não é o único fator de desigualdade. Mas Gala exemplifica que, enquanto países como Chile e Malásia ficam próximos em fatores como renda per capita e escolaridade média, a Malásia tem uma complexidade econômica muito maior (exporta principalmente eletrônicos) do que a chilena (exporta principalmente cobre).
Isso faz com que o índice de Gini da Malásia seja melhor que o do Chile, ou seja, há menor desigualdade no país asiático do que no sul-americano.
Como são atividades que produzem bens mais complexos, caros e valorizados no mercado mundial, isso permite pagar à mão de obra um salário maior. Também possibilita mão de obra com melhores empregos.
Fernanda Cardoso, professora de ciências econômicas da UFABC.
"As pessoas que começam a compor a massa trabalhadora vão fazer esse grande recheio de mercado interno, que, por sua vez, vai servir de estímulo para que nos próximos ciclos se criem novas atividades produtivas", disse ela.
Assim, um país que não tenha grandes indústrias manterá sua desigualdade, como no caso do Brasil. Mesmo as políticas de transferência de renda positivas, como as implantadas no país nas últimas décadas, não são suficientes para uma diminuição sustentável da desigualdade.
A desigualdade dos últimos anos diminuiu por conta de política de transferência de renda. Só que, agora, percebe-se justamente que não tivemos uma sofisticação produtiva e avanço industrial. Por isso, com a crise, a desigualdade voltou a ocorrer.
Paulo Gala