Dá para lucrar com eleição?

Período com muita instabilidade exige atenção aos investimentos; veja dicas para se proteger

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, de São Paulo

As eleições trazem incertezas para os investidores. Decisões populistas de governantes, interferência política nas estatais e nas empresas de capital misto podem mexer com ações, juros, câmbio — o que mina a confiança do mercado.

Por isso, analistas recomendam que os cuidados sejam redobrados em ano de disputa nas urnas. É preciso proteger o patrimônio das oscilações, fugir dos riscos de perda e, se possível, aproveitar as oportunidades que possam surgir no horizonte.

Evandro Buccini, sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos, recomenda que o investidor diversifique suas aplicações, inclusive geograficamente. Veja abaixo outras dicas de analistas:

Getty Images/iStock

Fuja de empresas sob a influência do governo

Empresas que estão atreladas à cartilha do governo devem ficar de fora da lista de melhores opções em 2022, afirmam analistas. Isso porque elas costumam ganhar destaque nas discussões durante o período de eleição presidencial, o que aumenta a instabilidade.

A Eletrobras é um dos focos de incertezas para os investidores. A companhia voltou à pauta das privatizações do governo depois do sinal verdade dado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), em 18 de maio.

Agora, o Palácio do Planalto busca formas de seguir com a venda do controle da companhia antes de agosto, para fugir do calendário eleitoral. Para isso, terá de atender às exigências da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e da Securities and Exchange Comission (a SEC, dos Estados Unidos), além de conversar com potenciais grupos interessados em investir na companhia.

O ideal é evitar alguns investimentos em estatais, como Petrobras, Eletrobras, que são pauta nas eleições. Nos debates presidenciais, por exemplo, pode vir algum assunto sobre essas empresas e causar impacto no valor das suas ações. O risco político causa muita oscilação nas estatais maiores, por isso é melhor evitar tê-las em carteira ou reduzir a participação.

Bruno Brostoline, analista de Crédito da Ativa Investimentos

Petrobras segue sob o impacto da guerra e pressão nas bombas

Neste ano em particular, o tema da alta do petróleo e a política de paridade de preço entre a cotação internacional do barril do tipo brent e o valor na bomba de combustível dão ainda mais projeção a uma empresa em particular: a Petrobras.

A troca do presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, na noite de segunda-feira (23) após 40 dias no cargo, é um exemplo de como a pressão do eleitor, fotografada nas pesquisas de intenção de voto, pode tirar o sono dos investidores.

Quarto nome que deverá comandar a petroleira em três anos e cinco meses de governo, Caio Paes de Andrade pode ter pela frente a missão de colocar em prática o plano de Jair Bolsonaro (PL) de alterar o modelo de reajustes dos preços dos combustíveis.

Renda fixa é a opção mais segura para quem busca se proteger

Em um ano de eleições, o aumento da volatilidade pode provocar muita oscilação nos preços de ativos de renda variável, moedas e renda fixa prefixada. Com isso, segundo Gustavo Asdourian, sócio-fundador da Guardian Gestora, uma das formas de reduzir os riscos é investir em renda fixa pós-fixada. Entre elas, estão os LFTs (que são títulos de crédito de baixo risco indexados ao CDI), ou ainda os fundos de investimento imobiliário (FIIs) de papel (crédito) com carteiras de baixo risco.

Por causa da volatilidade do período eleitoral, a recomendação dos especialistas é aumentar a proporção do total de investimentos em renda fixa. A estratégia se torna ainda mais atraente por causa dos juros elevados. A taxa Selic, hoje de 12,75% ao ano, está no maior nível desde fevereiro de 2017.

A inflação em níveis elevados, como vistos agora, também torna a renda fixa promissora — no caso, é claro, de ativos atrelados a um índice inflacionário. Essa cautela protege o investimento de perdas provocadas pela alta generalizada de preços.

Eleições ocorrem a cada quatro anos e costumam trazer um pouco mais de volatilidade. Portanto, se o investidor quer menor risco, deve investir mais em ativos de renda fixa pós-fixados, aproveitando a elevada taxa de juros atual e nos próximos meses.

Evandro Buccini, sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos

Cautela por causa das incertezas

Além de indicar investir mais em renda fixa e se manter longe das estatais, Bruno Brostoline, analista de Crédito da Ativa Investimentos, indica cautela com as empresas de small caps — classe de empresas negociadas na Bolsa que possuem menor valor de mercado. Para o especialista, essas companhias podem apresentar um risco maior neste momento.

O analista da Ativa Investimentos também desaconselha aportes no setor imobiliário, sujeito à sentir uma queda na demanda neste período. Outro investimento para fugir são aqueles atrelados ao câmbio, "que, assim como pode disparar [de valor], pode cair, como se viu em março".

Outro investimento arriscado em ano de eleição são os BDRs, os Brazilian Depositary Receipts — como são chamados os recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na Bolsa brasileira. Como eles estão atrelados à moeda nas quais as Bolsas operam, como o dólar, também estão sujeitos a sofrer em caso de variação cambial.

Títulos de renda fixa com componentes prefixados também tendem a flutuar mais no período, diz Igor Cavaca, gestor da Warren Asset Management.

Já Asdourian, da Guardian Gestora, pede cautela com ativos de empresas com elevado nível de endividamento, chamado no mercado de alta alavancagem. Isso porque, se essas companhias precisarem refinanciar suas dívidas em momentos de mercado estressado, elas poderão estar expostas a quedas significativas: há o risco de não conseguirem a renegociação, ou de se submeterem a condições que podem não ser as melhores.

Dá para mudar os investimentos pelos resultados das pesquisas?

Os especialistas aconselham os investidores a não correr atrás dos resultados de cada pesquisa eleitoral na tentativa de ajustar os investimentos e buscar ganhos maiores. Para Cavaca, gestor da Warren Asset Management, as pesquisas são apenas um fator que deve ser avaliado.

"Seria uma avaliação adicional a ser levada em conta, principalmente com variáveis econômicas. No entanto, não recomendo muita movimentação nas carteiras, porque isso tende a aumentar os custos e ter baixo potencial de melhora do retorno ou do risco", afirma Cavaca.

Buccini, da Rio Bravo Investimentos, diz que as recalibragens em carteiras devem ser feitas com baixa frequência, e sem movimentos bruscos. É melhor ter um total de investimentos que mantenha o risco adequado àquele que o investidor tem capacidade de correr.

Asdourian, da Guardian Gestora, recomenda que a posição de investimentos tenha o horizonte de longo prazo, baseada no estudo de cada investidor e não na volatilidade de curto prazo. A mudança de investimento só seria recomendada se a base usada para tomar a decisão mudasse radicalmente.

Eleições são importantes, mas há infinitos fatores que afetam os retornos de uma carteira, não é possível ficar se movimentando por causa de todos eles. Não é uma boa ideia ficar reagindo a notícias e a ruídos de alta frequência.

Evandro Buccini, sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos

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