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Petrobras, na encruzilhada em difícil ano eleitoral

08/04/2022 13h09

Brasília, 8 Abr 2022 (AFP) - A Petrobras, maior empresa do país, encontra-se em um momento delicado com a destituição de seu presidente, general Joaquim Silva e Luna, por Jair Bolsonaro, contrário à alta dos preços dos combustíveis a seis meses de sua tentativa de reeleição.

Segundo nome a ocupar o comando da empresa desde o início do atual governo, em janeiro de 2019, o general Joaquim Silva e Luna foi demitido pelo presidente Bolsonaro em 28 de março, que descreveu o aumento dos preços dos combustíveis como um "crime" contra a população. Os preços subiram 33%, em média, no ano passado.

"É impagável", declarou Bolsonaro dias antes da demissão.

Seu principal adversário na eleição de outubro e favorito nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), também prometeu, caso vença, intervir na escalada de preços, impulsionada pela guerra na Ucrânia.

"Se preparem: vamos 'abrasileirar' o preço do combustível", declarou Lula.

As regras da companhia, listada nas Bolsas de Valores de São Paulo e dos Estados Unidos, somadas à falta de autossuficiência do Brasil em petróleo bruto, impedem, porém, a intervenção do Estado, seu principal acionista.

A demissão de Silva e Luna, um ano após a de seu antecessor imediato, Roberto Castello Branco, pelos mesmos motivos, foi um gesto político de Bolsonaro "para satisfazer seu eleitorado", avaliou Gesner Oliveira, economista e professor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.

Uma pesquisa de março do Instituto Datafolha revelou que 75% dos brasileiros culpam o presidente pela alta da inflação - 10,54%, em um ano -, alimentada em grande parte pelo combustível.

Silva e Luna declarou à revista Veja que foi "pressionado" pelo presidente a conter os preços. Sua gestão foi marcada por aumentos de 32% no preço da gasolina, e de 56%, no diesel.

Em relação aos resultados, a Petrobras encerrou 2021 com lucro recorde de US$ 19,8 bilhões, um aumento significativo (1.641%) em relação a 2020, quando a pandemia de coronavírus atingiu o mercado de energia em geral.

- Busca por presidente -A nomeação do novo presidente não é uma tarefa fácil: o candidato inicialmente indicado pelo governo, o economista Adriano Pires, declinou, após ser escrutinado por um possível conflito de interesses, devido à sua atuação na iniciativa privada. O presidente do Flamengo, Rodolfo Ladim, foi outro que renunciou ao convite.

O Executivo finalmente escolheu José Mauro Coelho, ex-secretário do Ministério de Minas e Energia, com mais de 25 anos de experiência no setor, para presidir a companhia. Sua candidatura precisa ser aprovada em 13 de abril na assembleia de acionistas da petroleira.

Em outubro passado, Coelho defendeu a paridade de preços com o mercado internacional, alegando que preços artificiais gerariam "risco de desabastecimento". Se confirmado, o ex-secretário será o 40º presidente da petroleira em seus 68 anos de existência.

"É um cargo cuja substituição supõe uma resposta política fácil para um problema difícil e econômico", explicou o analista Adriano Laureno, da consultoria local Prospectiva.

- Privatização -Esse momento delicado para a Petrobras traz de volta à mesa um antigo debate sobre a possibilidade de privatizá-la, algo a que Bolsonaro tem sido favorável.

Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, tentou colocar o assunto em pauta, defendendo que a Petrobras "não dá satisfação a ninguém".

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em Paris que privatizar totalmente a empresa é seu sonho, embora tenha descartado que vá acontecer "no primeiro mandato" de Bolsonaro.

A venda da empresa, que teria de ser aprovada pelo Congresso para se concretizar, enfrenta resistência da maioria dos parlamentares e também dos brasileiros (54%), segundo levantamento da consultoria Poderdata.

"Há uma visão de que a Petrobras é o grande patrimônio do Estado brasileiro", explica Laureno.

Sua reputação foi, no entanto, severamente afetada entre 2014-2017, quando sofreu perdas significativas pelo escândalo decorrente da "Lava Jato". Esta operação revelou um gigantesco esquema de corrupção montado entre empresários, políticos e ex-funcionários da companhia para desviar recursos públicos por meio de contratos.

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