De onde vem o dinheiro que o BC está usando para baixar o dólar?

Desde quinta-feira (12), o Banco Central já vendeu US$ 20,75 bilhões para tentar segurar a alta do dólar. Mas de onde é que vem esse dinheiro? UOL buscou especialistas do mercado para eles explicarem a importância das reservas internacionais do país.

De onde esses dólares estão vindo?

A autarquia tem reservas internacionais que somavam, até segunda-feira (17), US$ 357,118 bilhões. Elas são como um colchão financeiro que dá segurança para o país. "A Argentina, por exemplo, tem pouquíssimas reservas. Então, num momento de crise, os vizinhos precisam recorrer ao FMI [Fundo Monetário Internacional]. O Brasil, não. Por isso ele é considerado mais seguro pelos investidores", explica Rafael Ribeiro, professor de economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador do Made (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades), da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo).

Como são formadas essas reservas?

Do dinheiro de exportações do Brasil. Quando, por exemplo, um exportador de soja vende para China, ele recebe em dólares. Mas ele troca esse dinheiro em qualquer banco por reais. "O Banco Central compra esses dólares do sistema bancário e assim se formam as reservas", explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online. Mais da metade das reservas vêm de dólares. Mas há também a participação de outras moedas, como euro e yuans.

No final dos anos 90, o BC tinha cerca de US$ 68 bilhões em reservas. De 2010 para cá, esse volume tem se mantido acima da casa dos R$ 300 bilhões. "Com o chamado 'boom das commodities', no qual o Brasil se beneficiou da forte expansão da demanda no mundo por minério e matérias-primas, especialmente da China, a balança comercial teve sucessivos resultados positivos, gerando uma entrada forte de dólares no país", explica Douglas Ferreira, diretor da mesa de câmbio da Planner Investimentos.

Em 2007, pela primeira vez, as reservas passaram de US$ 100 bilhões. Em 2008, chegaram, a US$ 200 bilhões. O ano até agora com maio valor reservado foi 2018, com R$ 379,722 bilhões.

Na prática, para que servem essas reservas?

Essencialmente, para controlar o câmbio. O BC, se quisesse, até poderia torrar todo o dinheiro. Mas isso provocaria inflação. Por isso, muitas vezes o banco faz leilões com recompra de dólares no futuro, para evitar inundar o mercado de dinheiro, o que elevaria a inflação.

Mas, desde 2022, o Banco Central tem preferido controlar o câmbio — não por meio de leilões de dólares — mas pelo aumento da Selic, a taxa básica de juros nacional. Funciona assim: com juros mais elevados no Brasil, muitos investidores emprestam dinheiro em países onde a taxa é baixa e aplicam aqui, o que traz maior fluxo ao mercado brasileiro, o que ajuda a controlar o dólar.

A intervenção era mesmo necessária. "De outubro para cá, o dólar passou de R$ 5,30 para R$ 6,30. É uma alta muito forte em pouco tempo, então era necessário, sim, fazer os leilões", diz Eurico Ribeiro, gerente comercial da B&T Câmbio. "É difícil dizer se o BC estava certo ou errado", complementa. Mas, no mercado, a visão é que o BC demorou muito para agir. Com esses leilões só agora, ele sinaliza que algo pior pode estar por vir.

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Esse dinheiro vai fazer falta ao Brasil?

A princípio, não. O governo reaplica as reservas no mercado e tem rendimentos com elas. O total gasto até agora é de aproximadamente 5% do total que o BC tem. A questão é se o valor fará diferença. Em relação ao mercado de dólares brasileiro — que é de aproximadamente US$ 75,214 bilhões e equivale ao superávit das exportações versus as importações do ano — os R$ US$ 20,75 bilhões leiloados até agora são, sim, expressivos.

É difícil mensurar qual o valor suficiente para conter a alta. "Ontem (quarta, 18), por exemplo, houve uma piora substancial do cenário externo após a decisão do Fed à tarde, o que limita e muito o impacto dos leilões. Se continuarmos a observar um fluxo excessivamente negativo, novos leilões devem acontecer para evitar uma volatilidade exacerbada da taxa de câmbio", diz André Valério, economista sênior do Inter. Ele se referiu à decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de fazer só mais dois cortes de juros nos EUA em 2025. Juros altos por lá também prejudicam o câmbio aqui.

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