IPCA
0,46 Jul.2024
Topo

Empresas de turismo interno podem explorar 'tour da experiência' no país

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

13/03/2015 06h00

Quando examinamos o panorama turístico brasileiro observa-se que ele ainda se sustenta muito no próprio mercado interno, pois temos um país continental que atiça muito os próprios brasileiros a conhecer os muitos destinos, regiões e atrativos que possuímos.

Mesmo com o cenário atual de fraco crescimento econômico, juros e dólar em alta, inflação idem, pouca geração líquida de empregos e perspectivas desfavoráveis, o desejo e quase necessidade de viajar, para escapar da rotina diária, para conhecer, ampliar os horizontes, viver situações novas são grandes e poderosos motivadores.

As análises mundiais realizadas pela Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas (UNTWO) captam que ante situações desfavoráveis, no geral, as pessoas tendem mais a diminuir o número de dias da viagem, o padrão da hospedagem etc. do que propriamente cancelá-las.

Ou seja, pode-se até esperar que diminua o número de conterrâneos que viajam para o exterior, e que se inclinará a viajar no país. Outros podem apertar os cintos e procurar fazer viagens menos caras. E que uma parcela, de fato, vai adiar os planos de viajar. Entretanto, a necessidade de lazer, de descanso, de vivenciar experiências novas, continuará a puxar o turismo interno.

No flanco externo, com dólar forte e moeda local enfraquecida, seria fantástico se nossos governantes e empreendedores ligados ao turismo investissem as fichas em promover ainda mais o Brasil no exterior. Viajar para cá ficou ainda mais barato. Decerto que a comunicação “real time” da crise política, moral e econômica não nos ajuda.

Entretanto, no quadro atual, ainda temos grande cacife sobre o qual capitalizar tanto para nós mesmos quanto para os que vem de fora: belezas naturais, ecossistemas interessantes, parques de preservação, um povo ainda muito hospitaleiro e alegre, que gosta de receber o estrangeiro, folclore, gastronomia, sítios históricos, cultura, museus, eventos, festivais, festas populares, clima ameno (no geral), entre outros.

Temos destinos dos mais desejados: Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu, Amazônia, Florianópolis, praias do nordeste. E temos uma boa infraestrutura turística para oferecer.

Além dos pacotes e roteiros massificados, dos atrativos apontados pelos guias e sites turísticos como praticamente obrigatórios para visitação, cada vez mais as tendências indicam que o turista tem fome de experiências que fujam do comum. Quer experiências significativas, muito marcantes, autênticas. Relacionar-se, ser envolvido, viver sensações e emoções únicas, alcançar satisfação e prazer.

Deseja não mais ser um “peixe no aquário” (expressão minha) – ver a cidade, o local, os nativos – por meio dos vidros do ônibus ou da van do “sightseeing tour”. Quer interagir de fato, sentir na pele, ver como o habitante local vive, como as coisas são feitas, vivenciar os bastidores, beber da ótica daquele que vive, trabalha, se diverte e até sofre ali.

Aqui me lembro de um pesquisador estrangeiro que visitou São José dos Campos e pediu ao meu marido para conhecer um pé de café. Imagine se tivéssemos um lugar em que se mostrasse o cafezal, o processo de colheita, a separação de grãos, a secagem em terreiro (modo antigo), beneficiamento e torrefação? E em que depois pudesse passar o café e saboreá-lo com outras guloseimas ali fabricadas?

Esta possibilidade se alinha com o que indicam Joseph Pine e James Gilmore a respeito da economia da experiência, em que chamam a atenção para o fato do consumidor querer novos aspectos dos produtos e serviços. Deseja mais agregação de valor na experiência que irá vivenciar. Demanda que os fornecedores apresentem novas formas de envolvê-los e encantá-los.

De fato o Ministério de Turismo, juntamente com o Instituto Marca Brasil e o Sebrae Nacional, desde 2006, já incorporaram as ideias defendidas no livro "A Sociedade dos Sonhos" por Rolf Jensen e por  Pine e Gilmore na Economia da Experiência (ambas publicações de 1999) fazendo experiência piloto com vários municípios da região de uva e vinho do RGS.

Se consultarem o site Tour da Experiência poderão ver que já ampliaram a iniciativa para Belém, Costa do Descobrimento, Serra Carioca e Bonito. Mostram muitos exemplos de tour de experiência em que já se incorporaram aspectos da história, da cultura, da gastronomia, da tradição, do artesanato à vivência proporcionada ao turista.

Os empreendedores e interessados encontram neste site vários recursos – manuais para que se entenda o conceito de experiência, como aderir, a metodologia para implantar e como conquistar a marca Tour da Experiência. Podem pesquisar também outros exemplos (neste e em outros sites) para saber como formatar uma experiência turística diferenciada, que valorize os atores, recursos e aspectos locais.

Assim, percebe-se que há muito a ser explorado e ampliado tanto pelos empreendedores (de todos os portes) e diferentes atores locais de modo a atiçar o desejo dos turistas e mobilizá-los para gastar viajando em busca da “Experiência” que prepararam cuidadosamente para eles.

Experiência que, além de ser entesourada na memória, será contada, fotografada, filmada e compartilhada podendo atrair mais turistas.