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Para driblar concorrência chinesa, produtores investem em cogumelos frescos

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

13/01/2014 06h00

Para contornar a concorrência chinesa, produtores de cogumelos da região de Pinhalzinho (SP) mudaram o foco de seu negócio, colocando o produto em conserva em segundo plano e investindo nos cogumelos frescos.

A medida foi tomada para driblar a crise que atingiu o setor em 2008, quando uma cobrança de US$ 1,05 por quilo (equivalente hoje a R$ 2,48) deixou de ser aplicada sobre os cogumelos chineses. Isso fez com que o número de produtores de cogumelo da região paulista diminuísse de 48 para 10 em um ano.

Em 2010, passou-se a cobrar uma tarifa de 35% sobre os cogumelos em conserva importados. Ainda assim, o volume continuou subindo, e chegou a 10 mil toneladas em 2013, contra 700 toneladas em 2008, de acordo com dados da ANPC (Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos).

Com o investimento em produtos frescos, no entanto, a produção total de Pinhalzinho voltou a subir. Hoje chega a 800 toneladas anuais, 60% a mais do que o que se produzia antes da crise.

A principal variedade cultivada é o cogumelo-de-paris, também chamado de champinhom. Ele responde por 80% do mercado nacional de cogumelos, de acordo com Daniel Gomes, pesquisador da Apta (Agência Paulista de Tecnologia de Agronegócios), que orientou os produtores na adaptação.

"[Os cogumelos-de-paris frescos] possuem sabor intenso, amadeirado, alto valor nutricional, baixo valor calórico e não possuem conservantes, geralmente utilizados nos cogumelos cozidos e industrializados", afirma Gomes.

Os preços variam com a época do ano, e caem na época do frio, quando a produção aumenta. A estimativa de Gomes é de que o cogumelo cozido dê lucro de R$ 2 a R$ 5 o quilo, enquanto o produto fresco dá lucro de até R$ 15 o quilo.

Para investir na produção e distribuição de cogumelos frescos, os agricultores criaram, em junho de 2012, o Grupo de Produtores de Cogumelos de Pinhalzinho, que conta com 14 membros. Eles passaram a vender em conjunto e investiram em três câmaras frias para estocar os cogumelos e num caminhão para distribuí-los.

Por não exigirem gastos com o cozimento --que também faz com que o produto diminua de volume em cerca de 30%--, os cogumelos frescos têm custo de produção menor, de R$ 6 a R$ 8 por quilo contra a faixa de R$ 8 a R$ 10 por quilo dos cogumelos cozidos.

"Com a venda dos cogumelos cozidos, nós só pagávamos o custo de produção", afirma o produtor Carlos Oliveira, que faz parte do grupo. Com o novo mercado, o número de produtores da região voltou a subir, e chega hoje a 22.

Cogumelos frescos valem até o dobro dos cogumelos em conserva

Os cogumelos são cultivados dentro de galpões, que, em Pinhalzinho, medem de 50 m² a 150 m², em sacos cheios de palha coberta por 2 cm de terra.

Os cogumelos-de-paris frescos são vendidos em bandejas e têm de 3 a 10 cm de diâmetro, enquanto que o produto em conserva, colhido quando tem de 1 a 3 cm de diâmetro, é vendido em potes.

O produto fresco é vendido por até R$ 22 o kg, com a vantagem de não ter concorrência direta da China.

Os cogumelos em conserva, por outro lado, são vendidos pelos produtores brasileiros por no mínimo R$ 9 o quilo, enquanto que o produto chinês chega ao Brasil custando cerca de R$ 4,80 o quilo, já contabilizada a taxa de importação.

Como alternativa, os produtores de Pinhalzinho também investiram nas variedades shiitake e shimeji, usadas na culinária japonesa, e no cogumelo portobello. Apesar disso, o cogumelo-de-paris ainda responde por 80% da produção local.

Gomes afirma que, enquanto o cogumelo-de-paris em conserva é usado como petisco, no estrogonofe e em pizzas, o produto fresco tem um aroma melhor, é mais saboroso e também serve para saladas, molhos, assados, carnes e churrascos.

Além de Pinhalzinho, Mogi das Cruzes (SP) e Castro (PR) são os principais polos produtores de cogumelos do país. Cerca de 95% dos produtores são pequenos ou médios.

"Produto in natura é sempre melhor", afirma nutricionista

Para o técnico em nutrição do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) de São Paulo Marco Aurélio Carreira Silva, "o produto in natura é sempre melhor".

"A vantagem do [cogumelo] industrializado é a comodidade, porque o produto pode ser estocado e os preços, padronizados o ano todo. Mas, em questão de nutrição, a desvantagem é muito grande", afirma.

De acordo com ele, o cozimento feito com os cogumelos antes de serem colocados em conserva faz com que as vitaminas B e C sejam perdidas. Outra desvantagem é a presença de sódio na água usada na conserva. A substância pode contribuir para o aumento da pressão arterial, afirma.

Ele também alerta que o benzoato de sódio, geralmente adicionado à conserva para matar bactérias e fungos, produz substâncias cancerígenas quando combinado à vitamina C, que pode estar na água.

Danos às embalagens também podem fazer com que se desenvolvam bactérias que causam doenças como o botulismo.

Silva alerta, no entanto, que o cogumelo fresco pode apodrecer rapidamente. Por isso, é importante seguir as orientações de refrigeração da embalagem do produto. Caso não haja orientações, ele recomenda manter o cogumelo refrigerado a temperaturas de 2°C a 5°C por até três dias.