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Ruptura de negociações ameaça a ampliação do canal do Panamá

05/02/2014 16h48

MADRI, 05 Fev 2014 (AFP) - A ruptura das negociações, anunciada nesta quarta-feira, entre Sacyr e a Autoridade do Canal do Panamá pelo sobrecusto da ampliação do canal, ameaça uma das maiores obras civis do mundo, e a empresa espanhola prevê anos de litígio nos tribunais.

Cem anos depois da inauguração do canal, pelo qual passa 5% do comércio marítimo mundial, está difícil terminar seu terceiro jogo de eclusas até 2015 como estava previsto, devido à lentidão das obras e semanas à espera de uma solução para o conflito.

Uma solução que deveria ter sido tomada na terça-feira, data limite para as negociações entre a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) e o Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), o consórcio internacional encarregado pelas obras e liderado pelo espanhol Sacyr.

Contudo, esse último comunicou nesta quarta-feira a surpreendente ruptura das negociações, apesar de, na segunda-feira, o presidente do país, Ricardo Martinelli, ter afirmado que as partes estavam "perto" de chegar a um acordo.

"A notícia é inesperada", admitiu nesta quarta-feira o vice-presidente da Comissão Europeia, Antonio Tajani, em um comunicado.

"Confio e espero que ambas as partes reconsiderem suas posições nos próximos dias já que uma interrupção das obras seria uma má notícia para o emprego, a economia global, a ampliação do canal e as próprias partes", acrescentou.

A ministra de Fomento (obras públicas) espanhola, Ana Pastor, afirmou que "pedimos às partes que cheguem a um acordo porque está em jogo uma grande infraestrutura que repercute na economia não só de lá, do Panamá, mas sim de todo o mundo".

Sacyr afirma que o consórcio "continua buscando uma solução de financiamento para terminar o projeto e as obras em 2015", e atribui o fracasso das negociações à ACP.

"A ruptura das negociações põe a expansão do Canal do Panamá e até 10.000 postos de trabalho em risco iminente", afirma Sacyr.

"Sem uma solução imediata, Panamá e ACP enfrentarão anos de disputas nos tribunais nacionais e internacionais sobre os passos que levaram o projeto à beira do fracasso", alertou o grupo espanhol, cujas ações caíam 6,11% a 3,37 euros na Bolsa de Madri às 12h07 (de Brasília).

Na origem do conflito está uma fatura muito mais cara que o previsto inicialmente: o consórcio pede 1,6 bilhão de dólares a mais para cobrir sobrecustos devido a "condições geológicas imprevistas".

Essa quantia "é uma carga de tal magnitude que nenhum contratista ou empresa privada pode suportá-la por si mesma", afirma GUPC, que integram também a italiana Salini-Impregilo, a belga Jan De Nul e a panamenha Constructora Urbana.

O consórcio tinha ameaçado, no final de dezembro, suspender os trabalhos caso essa quantia não fosse paga, o que significa metade do contrato inicial fixado em 3,2 bilhões de dólares.

O grupo de empresas propõe compartilhar "a carga do financiamento até o término do projeto através de um co-financiamento 50%-50%" e depois "um tribunal internacional de arbitragem decidirá quem é responsável pelos sobrecustos adicionais e que deve pagar por isso".

"Nós estamos lutando até o último momento porque estamos convencidos que nossa oferta é a melhor", afirmou o presidente de Sacyr, Manuel Manrique, à rádio pública espanhola, afirmando que a última hora de terça-feira "enviamos uma carta à ACP pedindo a reconsideração da situação e estamos esperando sua contestação".

"É injusto e impossível para a ACP e o Panamá esperar que as empresas privadas financiem por si mesmas 1,6 bilhão em custos em um projeto que deveria ser financiado em sua totalidade pela ACP", afirma o consórcio.

A obra, que o grupo afirma ter concluído em 70%, acumula um atraso de nove meses, sem contar os reveses destas últimas semanas. Os construtores consideram, segundo uma estimativa da seguradora Zurich, a conclusão do projeto se atrasaria entre três e cinco anos se não houver acordo.

O canal do Panamá, de 80 km, foi inaugurado em 1914 e explorado pelos Estados Unidos até sua devolução ao Panamá em 1999.

Sua ampliação permitirá a passagem de navios de mais de 12.000 contêineres, três vezes maior que atualmente.