IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Donos de navios lucram com oferta abundante de petróleo

Manisha Jha

30/12/2015 11h53

(Bloomberg) -- O colapso mais destrutivo do petróleo em uma geração está rendendo aos proprietários de navios um lucro bilionário inesperado.

Como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo está abandonando os limites à produção para defender participação de mercado, há uma demanda por navios que transportam até 2 milhões de barris por viagem para levar petróleo do Oriente Médio à Ásia e à América do Norte. Embora os preços do petróleo tenham caído cerca de 35% em 2015, os lucros médios desses cargueiros deram um salto para US$ 67.366 por dia, maior desde 2009, pelo menos, segundo a Clarkson, maior corretora de navios do mundo.

"As estrelas estão alinhadas para nós no momento", disse Nikolas Tsakos, CEO da Tsakos Energy Navigation, em entrevista, no escritório da Bloomberg em Nova York, acrescentando que a queda dos preços do petróleo provavelmente vai estimular a demanda e os carregamentos no ano que vem.

Os analistas especializados em navios petroleiros preveem que o aumento na taxa vai persistir por muitas das mesmas razões que analistas de petróleo estão pessimistas. A Opep não está dando sinais de que vai reverter sua estratégia de mercado, e o Irã traçou planos para ampliar as exportações assim que as sanções econômicas contra o país forem canceladas. Ao mesmo tempo, os EUA acabam de revogar um limite de quatro décadas às suas exportações.

Com os estoques em terra já em níveis recorde, isso poderia significar que mais barris acabarão sendo armazenados em navios, o que vai aumentar ainda mais os lucros, disse Tsakos.

Maiores operadoras

As maiores operadoras de navios petroleiros que gerenciam frotas da Europa são a Euronav, com sede em Antuérpia, na Bélgica, a DHT Holdings, a Frontline Management, que administra a frota de navios petroleiros do bilionário de origem norueguesa John Fredriksen, e a Tsakos Energy, da Grécia. As ações de todas elas subiram neste ano, enquanto a maior parte das produtoras de energia caiu.

"Estamos aproveitando este ambiente que agora é desafiador para o setor de energia", disse Svein Moxnes Harfjeld, co-CEO da DHT, por e-mail. "Esperamos que 2016 seja um ano de recompensas".

Tsakos, cuja empresa subiu 4,3% nas negociações em Nova York neste ano, disse que o aumento deveria ter sido mais elevado, considerando que "o negócio principal vai muito bem". Muitas vezes os navios petroleiros estão ligados a outros serviços da indústria do petróleo nas cabeça dos investidores, disse ele.

"Os investidores veem os navios petroleiros como um serviço de petróleo, e de fato eles são", disse Tsakos. "Mas acho que muito poucos identificaram que este lado é o único do serviço de petróleo a ser afetado positivamente pela queda nos preços do petróleo. Espero que no próximo ano isso seja reconhecido e que os preços de nossas ações avancem na direção certa".

O dobro dos lucros

A previsão é que as taxas caiam em 2016, mas os navios ainda renderão US$ 46.400 por dia, gerando o segundo melhor ano desde 2009, segundo a mediana de seis analistas consultados pela Bloomberg e dados históricos da Clarkson. O cargueiro médio tem cerca de 332 metros de comprimento, mostram dados da IHS.

Os ganhos dos cargueiros vão mais que dobrar neste ano, segundo estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg. As taxas extras renderiam mais de US$ 5 bilhões em receitas adicionais se aplicadas a toda a frota.

"No cenário de preços do petróleo bruto reprimidos ao longo de 2016, essa situação poderia levar a uma explosão dos ganhos dos navios petroleiros de magnitude comparável à de 2007-08", disse Tim Smith, analista sênior da Maritime Strategies International, em um relatório.

Ao mesmo tempo, os baixos preços do petróleo têm servido para estimular o consumo mundial de petróleo, que aumentou em 1,8 milhão de barris por dia em 2015, a maior alta em cinco anos, segundo a Agência Internacional de Energia. Como cerca de 40 por cento do petróleo do mundo é transportado pelo mar, isso vai resultar em 1,4 milhão de barris a mais por dia em cargas neste ano, segundo dados da Clarkson.