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Medalha de ouro de compra de ativos no Brasil vai para a China

Vinicy Chan

19/08/2016 13h57

(Bloomberg) -- Pode ser que a China esteja ficando para trás no ranking de medalhas da Olimpíada do Rio de Janeiro neste ano, mas ela está ganhando a disputa por ativos brasileiros.

Nenhum país fez mais aquisições no Brasil neste ano do que a China, que conquistou o primeiro lugar na classificação por valor de transação pela primeira vez na história, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As empresas chinesas anunciaram US$ 4 bilhões em compras no Brasil até agora neste ano, o total mais alto para um período comparável desde 2010.

A maior economia da América Latina se tornou um terreno fértil para chineses porque as empresas brasileiras buscam compradores que possam ajudá-las a enfrentar a recessão mais longa do país em décadas. A queda de 50 por cento do real nos últimos cinco anos aumentou o poder aquisitivo das empresas chinesas e a oposição política às aquisições é um obstáculo menor que nos EUA e no Reino Unido.

"O Brasil deu as boas-vindas ao investimento chinês por causa dos desafios econômicos que o país enfrenta", disse Joseph Gallagher, chefe de fusões e aquisições para a região Ásia-Pacífico do Credit Suisse, em uma entrevista em Hong Kong. "O apetite chinês por ativos brasileiros vai continuar sendo alto."

Reduzir a dívida foi uma motivação importante para os vendedores. Em julho, a Camargo Corrêa, construtora com sede em São Paulo que vem tentando reduzir sua alavancagem, decidiu vender sua participação de 24 por cento na CPFL Energia para a State Grid Corp. da China. No mês passado, a Vale, que está vendendo ativos para reduzir sua dívida, decidiu vender três navios para um grupo chinês por US$ 269 milhões.

Para os compradores chineses, acostumados a avaliações elevadas em seu país, as empresas brasileiras parecem pechinchas. Cerca de 11 por cento das 473 empresas de capital aberto do Brasil estão sendo negociadas a menos da metade de seu valor contábil, mostram dados compilados pela Bloomberg. A desvalorização do real para mais de 4 por dólar tornou os ativos brasileiros especialmente atraentes no início deste ano, apesar de a moeda já ter se recuperado mais de 30 por cento em meio a uma alta generalizada nos mercados emergentes.

Recuperação das commodities

Uma recuperação dos preços das commodities desde janeiro poderia dar ainda mais um motivo para os compradores chineses aproveitarem. A Vale está perto de um acordo para vender sua unidade de fertilizantes, que inclui minas no Brasil, segundo pessoas familiarizadas com as negociações. A empresa com sede no Rio de Janeiro também está negociando com o fundo soberano China Investment Corp. um acordo para a venda antecipada de minério de ferro que poderia chegar a US$ 9 bilhões, disse uma pessoa com conhecimento do assunto neste mês.

"Surgiram sinais de recuperação e estabilidade nos preços das commodities", disse Brian Gu, um dos chefes de fusões e aquisições para a região Ásia-Pacífico do JPMorgan Chase & Co. "Isso dá certo conforto aos compradores que buscam ativos em metais e mineração, coisa que o Brasil tem em abundância."