Relação Brasil-China muda de patamar às vésperas de nova era Trump

A declaração conjunta feita por Brasil e China nesta quarta-feira (20) dá novo status para a relação entre os dois países e faz com que o Brasil deixe de ser apenas um exportador de commodities para se tornar um parceiro comercial do país asiático, enquanto o mundo se prepara para uma nova era Trump.

Entenda

"Futuro compartilhado" entre os dois países sinaliza aproximação inédita. Em declaração divulgada nesta quarta-feira (20), os países se comprometeram a criar uma "comunidade de futuro compartilhado". Segundo Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, a declaração "sinaliza uma aproximação que nunca existiu entre Brasil e China".

Paramos de ser apenas um fornecedor de commodities para ser um parceiro numa ampla integração econômica com os chineses. No contexto do mundo, isso tem um sentido muito especial. É um preparativo dos dois lados para uma era Trump de maior confronto comercial.
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM

Acordos favorecem o agronegócio e a reindustrialização do Brasil. Os 37 acordos firmados entre os dois países atendem a demandas do agronegócio brasileiro e também favorecem a inserção do Brasil nas cadeias produtivas chinesas. "Amarramos o PAC e, principalmente, o Nova Indústria Brasil — o processo de reindustrialização do Brasil — ao contexto chinês", diz Trevisan.

China deve apoiar Brasil em rota de escoamento de produção via Peru. Outro ponto de destaque é o apoio chinês para a criação de rotas de integração sul-americanas, com foco especialmente em ferrovias e no escoamento de produção via Chancay, no Peru, onde a China acaba de inaugurar um megaporto.

Abrangência dos acordos chama a atenção. A mudança de status da relação entre os dois países se expressa no número e na abrangência dos acordos assinados. Dentre os 37 acordos estão temas como tecnologia, ajuda nuclear, satélites, bancos estatais, TVs públicas e bioeconomia.

Acordos mostram que relação vai além da balança comercial. Para Hsia Hua Sheng, professor de finanças internacionais da FGV, os acordos e a declaração conjunta dos dois países evidenciam uma relação mais profunda.

Esses acordos mostraram que, na verdade, a relação Brasil-China é mais que só balança comercial. É também na área social, os dois têm como propósito reduzir a pobreza, reduzir a fome, e também no lado cultural e de pesquisa. A relação não se restringe a negócios.
Hsia Hua Sheng, professor de finanças internacionais da FGV

Acordo envolvendo BNDES e banco chinês abre espaço para negociações sem uso do dólar. Sheng destaca o papel dos financiamentos e investimentos entre os acordos firmados, dentre eles o acordo que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o CDB (China Development Bank). "Os acordos mostram que Brasil e China poderiam ser financiados em moeda não dólar, que o Brasil e a China têm alternativas para financiar seus projetos prioritários", diz.

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Relação mais próxima ocorre às vésperas de uma nova era Trump. Para Trevisan, "não há dúvida que o comunicado traz a mensagem: 'Estamos nos preparando para a era Trump'". O presidente eleito dos Estados Unidos deve capitanear um período de maior confronto comercial. Sheng, porém, pondera que os acordos seriam assinados, independentemente de quem fosse eleito nos Estados Unidos. "Brasil e China têm suas prioridades em comum. Independente se Trump ou Kamala fossem eleitos, esses acordos teriam sido assinados", diz.

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