Por que Magalu e Casas Bahia estão caindo com o tarifaço de Trump?
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Desde a última segunda-feira, quando entraram em vigor as novas tarifas de importação determinadas pelos Estados Unidos, o mercado de ações está em queda no mundo todo.
Na lista de empresas que estão tendo desempenho ruim na Bolsa, chama atenção é a queda de empresas de varejo, como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3). Se elas atuam no mercado doméstico, não são exportadoras e nem dependem de produtos taxados pelos EUA, por que estão caindo?
O que está acontecendo?
No Brasil, empresas de varejo estão entre as maiores quedas desde que o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou em vigor. Enquanto o Ibovespa acumula queda de 2,6% acumulada na segunda (7) e na terça (8), algumas caíram mais de 10%, como mostra o levantamento da Economatica:
- Magazine Luiza (MGLU3) -15,7%
- Casas Bahia (BHIA3) -10,1%
- Lojas Renner (LREN3) -3,2%
- Pão de Açúcar (PCAR3) -2,5%
Fonte: Economatica
O que explica essa queda?
Teoricamente, como não são empresas que exportam ou dependem massivamente de produtos importados, as varejistas não deveriam sentir os impactos do tarifaço. Mas o problema são os juros. "A questão é o impacto nos juros futuros: com o aumento da percepção de risco global, houve uma abertura das curvas de juros futuros, afetando especialmente setores mais sensíveis a esse movimento — como o varejo, que depende fortemente do crédito e da confiança do consumidor", diz Willian da Rocha, alocador estratégico da Nippur Finance.
O que é a curva de juros?
É um gráfico em que o mercado expressa suas expectativas sobre a taxa básica de juros. Ou seja, com o tarifaço, os investidores acreditam que a Selic deve subir mais no futuro. O Banco Central elevaria a taxa para conter a inflação, que acaba sendo pressionada pelo dólar, que só esta semana passou de R$ R$ 5,836 para R$ R$5,910 (dólar comercial) até o fechamento da terça-feira (8).
Com a tendência de que o custo do dinheiro para empréstimos aumente, o investidor vende essas ações. Ele acredita que o consumidor final irá comprar menos dessas companhias, que vendem muito a crédito. Além disso, elas têm dívidas que são corrigidas pelos juros de mercado, o que diminui seu caixa.
As ações também caem por realização de lucros. Os investidores vendem para embolsar a alta que aconteceu anteriormente. "Nos primeiros meses de 2025, o setor varejista vinha se beneficiando de uma recuperação gradual na economia brasileira", explica Rocha. Só Magazine Luiza, por exemplo, foi a segunda ação mais valorizada do Ibovespa, com alta de 41,96%. "Esse bom desempenho também tornou esses papeis mais suscetíveis a movimentos de correção em momentos de estresse", diz Rocha.
Também existe uma migração para outras ações ou investimentos. "Quando há tanta incerteza, é comum que investidores se movimentem, migrando para ativos considerados mais seguros", diz Adriano Morais, professor de economia da faculdade ESEG e economista chefe da consultoria VizzEcon.
E o dólar?
Ele também atinge as varejistas. "O real vem se desvalorizando e isso impacta diretamente as empresas de varejo, especialmente aquelas voltadas para bens duráveis", diz Morais. Eletrônicos, principalmente, dependem de componentes importados e cotados em dólar. "Com um dólar mais forte e o real mais fraco, os custos sobem. Isso, geralmente, leva a um repasse para os preços, ou seja, os produtos ficam mais caros. Assim, há uma expectativa de aumento nos preços desses bens, o que pressiona ainda mais o setor", explica o especialista.
Custos mais altos. O aumento das tarifas, principalmente sobre produtos importados, pressiona diretamente a estrutura de custos dessas empresas. "Tudo isso pressiona as margens das varejistas para baixo e obriga a companhia a repassar o aumento para o consumidor final", acrescenta Elaine Domenico, sócia da The Hill Capital. No fim das contas, o tarifaço termina afetando o volume de vendas.
Essa queda vai continuar?
Vai depender do cenário das tarifas. Vários países estão tentando negociar com os Estados Unidos. "Vamos ter que esperar para ver os impactos do tarifaço para saber se essa projeção de juros continuará em alta", explica Lucas Barbosa, analista da Ativa Investimentos. Por isso, na terça, o Citi rebaixou as ações do Magazine Luiza para venda e cortou o preço alvo de R$ 8 para R$ 7,70, o que implica em uma desvalorização de mais de 20% em relação ao fechamento de segunda-feira.
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