IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Jovens bilionários mudam a cara da filantropia em medicina

Caroline Chen

02/12/2016 16h39

(Bloomberg) -- Sean Parker decidiu enfrentar o câncer ignorando tradições arraigadas da pesquisa médica, mas quase afastou os acadêmicos que queria atrair.

Uma das curiosidades sobre o instituto estabelecido em abril por Parker -que foi o primeiro diretor do Facebook e cofundador do Napster- é que os cientistas precisam prometer colaborar e não competir e precisam se concentrar em criar medicamentos em vez de publicar estudos. Descobertas com potencial de chegar ao mercado serão trabalhadas em grupo, com acordos colaborativos de licenciamento - não importa quem tenha liderado a pesquisa.

Muitos dos grandes especialistas em câncer que se reuniram em São Francisco três anos atrás para ouvir o que Parker tinha a dizer ficaram perplexos quando ele explicou que os lucros seriam distribuídos entre as instituições. Os principais investidores receberiam fatias maiores dos ganhos e o Instituto Parker para Imunoterapia do Câncer também tiraria uma participação. Muita gente esperta naquele salão do Hotel Ritz-Carlton não entendeu como aquilo iria funcionar.

"As pessoas estavam pensando: Isso é para valer? Vocês estão querendo ganhar dinheiro?", lembra Jeffrey Bluestone, presidente do instituto e pesquisador de imunologia na Universidade da Califórnia em São Francisco. Para muitos, era nadar contra a maré, mas hoje mais de 300 pesquisadores participam do projeto e testes clínicos já estão em curso.

Parker, 36 anos, é um dos poucos filantropos muito ricos que estão entrando em arranjos nada convencionais na corrida para levar medicamentos revolucionários ao mercado mais rapidamente. O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, 32 anos, e sua esposa de 31 anos, a pediatra Priscilla Chan, colocaram a questão da seguinte maneira: "Curar, prevenir ou administrar todas as doenças" até o fim deste século.

Parker fundou seu instituto com US$ 250 milhões em capital semente. Segundo ele, não faz sentido trilhar caminhos demasiadamente percorridos. "O mundo está cheio de fundações travadas que preferem fazer coisas bem seguras. Prefiro ver o que acontece quando se tenta algo totalmente diferente, que nunca foi tentado."

No momento, o entusiasmo em relação a esses doadores é cauteloso, considerando a situação do financiamento pelo governo federal dos EUA. A maior parte do dinheiro para pesquisa vem dos Institutos Nacionais de Saúde, cujo orçamento está praticamente inalterado há 13 anos. Não se espera mudança nessa trajetória.

"As pessoas estão ficando criativas", disse Susan Desmond-Hellmann, presidente da Fundação Bill e Melinda Gates, que já fez pesquisa sobre câncer. "Juventude e inovação estão ditando uma agenda."

O advento de organizações sinérgicas pode sinalizar que a "torre de marfim acadêmica está indo embora lentamente", disse Christiana Bardon, diretora-gerente de um fundo focado em oncologia na firma de investimentos MPM Capital. O projeto de Parker em especial parece voltado a acordos com empresas farmacêuticas, o que representa "uma maneira bem diferente de enquadrar a questão e os objetivos finais", ela disse.

"Uma abordagem é 'Vamos ganhar prêmios Nobel', mas o modelo B é 'Vamos obter aprovação para três medicamentos que pesquisamos'. É bem mais pragmático, agressivo e impactante."