Empresária cria serviço de bufê com cascas e talos de alimentos
Pão de casca de abóbora, bolo de casca de banana e moqueca com cascas e talos de legumes. Essas são algumas das iguarias criadas pela empreendedora individual Regina Tchelly, 31, dona do bufê Favela Orgânica. Ela aproveita sobras de alimentos --cascas e talos--, que normalmente iriam para o lixo, como matéria-prima para as receitas que serve nos cafés da manhã e coffee breaks de eventos corporativos.
O negócio surgiu como um projeto social. Na própria casa, no morro da Babilônia, subúrbio carioca, Tchelly começou a dar aulas de gastronomia alternativa para moradores da comunidade. Nas aulas, ela ensinava os alunos a aproveitar sobras de alimentos na cozinha ou como adubo para pequenas hortas.
Com a aceitação da iniciativa, a empreendedora foi convidada a ministrar as oficinas na associação de moradores da comunidade. O projeto ganhou visibilidade. Empresas começaram a solicitar palestras para seus funcionários sobre aproveitamento das sobras dos alimentos e também a pedir o serviço de bufê para encontros, cafés da manhã e eventos corporativos.
Para atender à demanda destas empresas, a empreendedora precisava emitir notas fiscais. Foi aí que ela procurou o Sebrae, serviço de apoio à micro e pequena empresa, e formalizou o negócio. “Sem emitir nota fiscal, perderia muitos clientes”, afirma.
Entre as empresas atendidas estão a Philips, o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Além disso, no ano passado, Tchelly esteve na Rio+20, encontro das Nações Unidas para discutir práticas sustentáveis.
Empresária ficou chocada com desperdício de alimentos
A ideia de ensinar os moradores da comunidade a aproveitar as sobras dos alimentos surgiu de uma situação de indignação. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, a empreendedora –nascida na Paraíba– ficou chocada com a quantidade de frutas, verduras e legumes que era desperdiçada ao final das feiras livres.
“Na minha infância, aproveitávamos tudo o que dava dos alimentos. Aquilo que não servia para comer, dávamos aos animais”, declara. Tchelly afirma que nunca foi cozinheira profissional. A experiência que tem foi adquirida em cozinhas domiciliares enquanto trabalhou como empregada doméstica.
A empresária passou então a recolher as sobras ao final das feiras e a criar receitas para aproveitá-las. “Nestas partes rejeitadas está concentrada a maior parte dos nutrientes. Não era justo desperdiçá-las com tanta gente passando fome no mundo”, diz.
Hoje, as feiras são as maiores fornecedoras de matéria-prima para empreendedora. Tchelly possui parceria com seis delas, que doam os alimentos que jogariam fora. Donos de bares e lanchonetes na comunidade também doam as sobras que iriam para o lixo.
Falta de espaço limita atendimento de demanda
No entanto, o Favela Orgânica enfrenta dificuldades. Ainda sem sede própria, a empresária é obrigada a utilizar a cozinha de casa para preparar as receitas que leva aos eventos.
“Nossa cozinha é pequena para dar conta da demanda de trabalho. Com um espaço maior, poderíamos atender mais clientes com o serviço de bufê”, diz a empreendedora, que, em novembro de 2012, deixou o cargo de empregada doméstica para se dedicar ao negócio próprio.
Ainda no ano passado, Tchelly recebeu o prêmio de Mulher Empreendedora, concedido pela Aliança Empreendedora, organização sem fins lucrativos de apoio a microempresas. Apesar de ter virado um negócio, o Favela Orgânica ainda mantém as oficinas de gastronomia alternativa na associação de moradores.
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