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Duração do fôlego na Bovespa depende de Fed e sinais sobre economia

Paula Arend Laier

29/04/2015 12h17

SÃO PAULO, 29 Abr (Reuters) - A continuidade da valorização da Bovespa, que tem surpreendido gestores pelo desempenho bastante positivo em abril, dependerá de sinais mais concretos de melhora da economia brasileira e, principalmente, de nenhuma surpresa quanto a uma antecipação do aperto monetário norte-americano.

O principal índice da bolsa paulista acumula no mês, até o fechamento de 28 de abril, alta de 9,1%. Nos últimos 30 dias, o ganho supera 11%.

"Foi um movimento que surpreendeu não só pela intensidade, mas pela velocidade", disse o gerente-executivo de Fundos de Ações da BB Gestão de Recursos, Jorge Ricca.

A conjunção de fatores locais e externos que ajudou o mercado neste mês, contudo, não eliminou o ambiente ainda desafiador para as empresas brasileiras.

O BTG Pactual calcula alta de 16% do lucro das empresas brasileiras sob sua cobertura em 2015, mas a equipe liderada por Carlos Sequeira não descartou em relatório recente o risco de revisão para baixo devido à deterioração do cenário macroeconômico.

O novo patamar do múltiplo preço de ação versus lucro (P/L) das empresas do Ibovespa acima de 14 vezes corrobora a percepção de avanços mais contidos.

O estrategista de ações do Bank of America Merrill Lynch para a América Latina, Felipe Hirai, disse em relatório nesta quarta-feira que investidores parecem preocupados sobre o rali recente estar mostrando sinais de exaustão, diante do nível do múltiplo P/L e resultados corporativos negativos vindo à tona.

"A bolsa não está tão barata", reforçou Ricca, da BB Gestão de Recursos, avaliando que o principal índice acionário brasileiro pode se estabilizar na faixa entre 55 mil e 57 mil pontos até que apareça uma nova oportunidade.

O estrategista do BofA Merrill Lynch lembra que o histórico mostra que em oito das 11 vezes na qual o mercado viu a combinação de bolsa e moeda com valorização ao redor de 10% como observado no mercado brasileiro no último mês houve uma forte correção para baixo nos 30 dias seguintes.

O real  acumulava em abril até a véspera valorização superior a 8% frente ao dólar. Em um mês, a alta da moeda brasileira ultrapassa 10%.

Ricca, porém, avalia que uma realização de lucros mais forte só tende a acontecer diante de uma sinalização mais incisiva do banco central norte-americano, o Federal Reserve, no sentido de antecipar o início da alta dos juros nos EUA.

Nesta quarta-feira, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do banco central dos EUA divulga decisão de política monetária, mas analistas ainda não esperam alteração no tom quanto a manter os juros perto de zero por ora.

Dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA divulgados mais cedo reforçaram tal aposta ao mostrar que a maior economia do mundo cresceu a uma taxa anual de apenas 0,2% no primeiro trimestre, uma forte desaceleração ante a taxa de 2,2% do quarto trimestre, sendo também a leitura mais fraca em um ano.

"Se não houver uma reação clara da economia (norte-americana) nesse segundo trimestre, é muito provável que a normalização monetária (nos EUA) fique para 2016", escreveu o gestor e sócio da Canepa Asset Managemente, Alexandre Póvoa, em carta trimestral enviada recentemente a clientes.

A aposta na postergação de uma alta dos juros pelo Fed para o fim de 2015 ou até o início de 2016 está incentivando a procura por ativos de risco em mercados emergentes novamente, disse o operador Alexandre Soares, da Gradual Investimentos.

No caso da bolsa paulista, tal visão é referendada pelas entradas líquidas que já somam mais de R$ 7 bilhões em abril até o dia 27.

Em fevereiro, quando o Ibovespa subiu quase 10%, o ingresso líquido de capital externo foi de quase R$ 4,5 bilhões.

Apreensão menor

O arrefecimento de apreensões entre estrangeiros acerca de fatores domésticos também corroborou o aumento no ritmo alocação por parte de estrangeiros no mercado brasileiro.

O próprio BofA Merrill Lynch observou no início de abril investidores na Europa e nos EUA mais construtivos em relação ao Brasil, começando a acreditar que o ajuste nas contas públicas liderado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teria êxito.

Mas o ímpeto comprador na Bovespa neste mês também foi ajudado por um agressivo movimento de cobertura de posições vendidas, particularmente nas ações ordinárias da Petrobras em operações relacionadas à divulgação do balanço auditado de 2014 e da Vale  diante da recuperação dos preços do minério de ferro.

Nesta sessão, os papéis da Vale passavam por uma correção de baixa em meio à primeira queda em duas semanas do minério de ferro à vista na China, enquanto no caso da Petrobras analistas avaliam que os desafios para a estatal seguem elevados, particularmente no que diz respeito ao endividamento.