Como o Itaú demitiu o mais poderoso diretor de marketing do Brasil
Cem mil funcionários do banco Itaú receberam na noite desta terça-feira um email inusitado. "Plantão itubers" (eles se chamam assim, de itubers), dizia a notificação. O plantão parecia se justificar. Depois de um dia de boataria, o banco resolveu informar oficialmente que um dos seus principais diretores foi demitido por "mau uso do cartão de crédito corporativo". (O que deve ter de gente que ficou nervoso. Até eu fiquei nervosa.)
Eduardo Tracanella, o Traca, era o diretor de marketing mais poderoso do Brasil. Ele estava à frente de uma área no Itaú Unibanco que movimenta R$ 2 bilhões por ano. É tanto dinheiro que o banco pode se dar ao luxo de ter uma Madonna ou um Hamilton da vida como garotos propaganda. A Madonna, Madonna e o Hamilton, Hamilton. Não os sósias.
Traca estava havia 27 anos no banco, seis como diretor. Mas na sexta-feira, foi sumariamente demitido. No sábado, os donos das agências de publicidade que atendem o banco foram informados. Na segunda, Tracanella se despediu do Itaú nas redes sociais. Mas ainda na tarde de segunda-feira, 250 funcionários da área de marketing foram informados sobre o tal mau uso do cartão de crédito. A informação se alastrou feito pólvora no mercado publicitário. Todos ficaram estupefatos.
Enquanto ninguém sabia direito por que ele havia sido demitido, circulavam no LinkedIn rankings dos profissionais de marketing mais admirados do país feitos por uma consultoria renomada, a Scopen. Lá estava Eduardo Tracanella, em segundo lugar na lista.
Mais embasbacados ainda estavam os organizadores de um evento do Cenp, o Fórum de Autorregulação do Mercado Publicitário. Tracanella seria a atração principal do almoço de fim de ano da entidade, que reuniu a nata dos publicitários brasileiros no Hotel Tivoli em São Paulo nesta terça. Mas a ironia mesmo era o tema de sua exposição: "Guia de Boas Práticas sobre Relações Sustentáveis". Tracanella não apareceu.
No fim das contas, as relações eram insustentáveis e as práticas não tão boas. No comunicado aos funcionários, o Itaú diz: "Realizamos o desligamento do Eduardo Tracanella. A decisão foi tomada exclusivamente pelo mau uso do cartão de crédito corporativo. Todos sabemos que ética é inegociável no Itaú Unibanco."
A decisão de enviar uma carta oficial a todos os funcionários veio depois que uma onda de especulações e boatarias invadiu os mercados publicitários e financeiros. Falou-se de tudo. Desde que Tracanella teria se apropriado indevidamente de rebates da publicidade veiculado na Times Brasil, que tem licença para transmitir conteúdo da CNBC, até esquemas com as agências de publicidade que o atendiam.
Na tentativa de dissipar os boatos (já que isso afeta diretamente o compliance do banco), o Itaú informou no comunicado aos funcionários que a trajetória de Tracanella como diretor de marketing foi brilhante e garantiu que nada respingou na relação com as agências externas.
"É fundamental clarificar que o desvio de comportamento não representou dano material ao banco e que nossos robustos processos de gestão de mídia, publicidade e parceria com agências externas permanecem íntegros e ilesos."
Ninguém sabe no que Tracanella gastou. Na verdade, apenas quatro pessoas do banco sabem.
Com a nota que blinda as agências, Africa e Galeria (duas das maiores do país) seguem sendo as contratadas do Itaú. A Africa, famosa por ter sido fundada por Nizan Guanaes, hoje é comandada por Sergio Gordilho e Márcio Santoro (que estava no Cenp). Já a Galeria foi criada há apenas três anos, em uma dissidência da DPZ. Na oportunidade, os sócios da Galeria levaram o Itaú junto como cliente. Eduardo Simon, um dos fundadores, também estava no evento do Cenp.
Agora é esperar o disse me disse no Oscar da publicidade brasileira, o prêmio Caboré, que acontece nesta quarta-feira. Era para eu estrear como colunista aqui no UOL somente depois do Caboré. As notícias se impuseram.
Então aguardem, logo vocês me verão sempre por aqui, falando de marketing, propaganda, de fofocas, quero dizer, de notícias, mídia e todo o resto que envolve a comunicação. Vocês vão amar a coluna porque além de jornalista também sou empreendedora (eu que fundei a TixaNews, BRASEW) e estou todo dia sendo desafiada na forma de se construir uma marca.
Josette Goulart é a fundadora da TixaNews, onde a política e a economia ganham uma dose de humor e leveza. Com 25 anos de jornalismo, ela já brilhou em grandes redações como Valor Econômico, Gazeta Mercantil, Estadão, Folha de S.Paulo, revista piauí, Veja e Brazil Journal. Agora no UOL, vai escrever sobre marketing, misturando negócios (ela está construindo sua própria marca) com o toque sarcástico da Tixa.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.