Big techs impulsionam o retorno da energia nuclear
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Depois de perder espaço na expansão por meio da desativação de importantes usinas nos anos subsequentes ao desastre nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, a geração de energia nuclear voltou a receber investimentos, principalmente das big techs, por conta da demanda crescente de data centers.
O grande atrativo da fonte é entregar uma energia estável, previsível, e sem emissões de gases causadores de efeito estufa. Os empreendimentos são mais caros em comparação com fontes renováveis como eólica e solar fotovoltaica, com obras mais complexas e demoradas, mas a vida útil é mais longa, e pode ser prorrogada por décadas.
O Brasil, que não chega a ser uma referência em geração nuclear, atualmente tem em curso o projeto de extensão de vida útil da usina de Angra 1 por 20 anos - ela completa 40 anos de operação em 2025.
Um painel fotovoltaico, por sua vez, tem vida útil estimada em 25 anos a 30 anos, com perda de eficiência, enquanto um aerogerador dura de 20 anos a 30 anos.
A geração de energia nuclear usa relativamente pouco combustível, e não é suscetível à variações de preços comuns em commodities que garantem suprimento de eletricidade, como o gás usado em termelétricas.
Essas características são necessárias para suprir a demanda crescente de data centers, muito acima das necessidades de processamento do desenvolvimento da inteligência artificial.
No Brasil, as big techs estão investindo em renováveis porque o acesso à rede existente garante estabilidade no fornecimento de energia, e porque ainda não temos uma demanda significativa atrelada à inteligência artificial. Neste momento, os data centers ainda atendem a expansão da computação em nuvem.
No contexto mundial, o crescimento da demanda de energia para inteligência artificial já é expressivo, justificando a retomada de plantas nucleares desativadas e a construção de novas usinas do zero.
Usinas reativadas e novos investimentos
Ainda que haja incerteza em relação ao consumo de energia dos data centers no futuro, até pelos avanços da chinesa DeepSeek com tecnologia desenvolvida a baixo custo e menor uso de processadores, o avanço da inteligência artificial ajudou a agitar o mercado desde o último ano e os anúncios continuam acontecendo.
Em setembro de 2024, a Microsoft fechou um acordo com a Constellation Energy para consumir os 837 MW (megawatts) da usina nuclear de Three Mile Island, desativada desde 2019 após 50 anos de operação.
Pouco tempo depois, a NextEra Energy anunciou avanços nos esforços para reativar a planta nuclear Duane Arnold em Iowa, com 600 MW de potência, desativada em 2020 após 45 anos.
Na semana passada, o Departamento de Energia dos Estados Unidos liberou garantias para um empréstimo de US$ 1,5 bilhão para que a Holtec reative a usina nuclear Palisades, em Michigan, que tem 800 MW e foi desativada em 2022 depois de 50 anos de operação.

A Holtec foi além, e assinou um acordo com a coreana Hyundai Engineering and Construction para construir uma frota de 10 GW (gigawatts) em pequenos reatores modulares. O plano é que a usina de Michigan seja a primeira nuclear reativada no país, ainda neste ano, assim que houver aprovação do governo federal.
Os pequenos reatores modulares, chamados de SMRs, na sigla em inglês, têm de 50 MW a 300 MW em potência instalada. Sua atratividade está na construção mais célere e custo menor que as usinas tradicionais, e estão na mira das big techs para o abastecimento dos data centers. A Alphabet, dona do Google, pretende inaugurar a primeira planta do tipo em 2030, quando a Amazon espera avançar em projetos semelhantes.
Recentemente, um grupo intersetorial formado por grandes consumidores de energia, incluindo Google, Amazon, Meta e Dow, assinou um compromisso para apoiar a meta de ao menos triplicar a capacidade global de geração nuclear até 2050, por meio da Associação Nuclear Mundial. Em 2023, a capacidade instalada da fonte era de 416 GW, com previsão de chegar a 650 GW em 2050, segundo números da Agência Internacional de Energia.
No cenário em que as emissões líquidas zero (o chamado "net zero") sejam atingidas em 2050, a capacidade nuclear chega a mais de 1.000 GW instalados no mundo - ainda aquém das metas das empresas do setor.
Para a nuclear ser o novo padrão energético das grandes empresas de tecnologia, há desafios a serem superados: concentração da tecnologia na China e na Rússia, estruturas de financiamento e aprovação regulatória para novas usinas. A digitalização, porém, não pode depender de fontes intermitentes de eletricidade, o que reforça a aposta nessa retomada de uma tecnologia que até pouco tempo atrás era tida como obsoleta.
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