2020, o ano que não acabou, pelo menos para Bolsonaro e Guedes
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Se o país terminou o ano com a triste marca de 200 mil mortos por conta do coronavírus, 2020 ainda deixa um saldo amargo para o presidente Jair Bolsonaro e para o seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
O fim do auxílio emergencial e a continuidade do vírus assolando a vida dos brasileiros vai exigir do presidente e do seu "Posto-Ipiranga' mais ação. Só discurso e estimativas positivas não serão suficientes para que o Brasil deixe para trás o peso de 2020.
Bolsonaro insiste em travar uma guerra contra as vacinas. Ignorando que já há diversos casos de reinfecção no país, diz que para ele a melhor vacina foi o vírus. Sua postura, negacionista desde o início da pandemia, não ajuda em nada. Pelo contrário, atrapalha.
O presidente foi pescar, jogou futebol, causou aglomeração nas praias e uma parcela dos brasileiros pareceu legitimar a atitude de Bolsonaro fazendo festas, lotando as praias e vivendo como se o vírus tivesse acabado com a virada do ano.
Infelizmente não. Enquanto assistimos atitudes irresponsáveis de quem deveria dar exemplo, ainda temos que conviver com o atraso na vacinação. Quanto maior a demora para que a população brasileira seja imunizada mais tempo levaremos para sair do buraco que 2020 nos colocou.
O engano do presidente, no entanto, é achar que a conta não vai chegar. A popularidade conquistada com o auxílio emergencial tende a minguar e o aumento do desemprego costuma cobrar um preço alto dos governantes.
Se em 2021, Bolsonaro deve embarcar mesmo na sua campanha pela reeleição em 2022, o presidente pode estar certo que a conta de 2020 vai pesar.
Discurso otimista (e utópico)
Guedes, por sua vez, não embarca no negacionismo, usa máscara sempre que pode, mas insiste que a economia cresce em "v" e que o país vai conseguir sair da crise, quase como num passe de mágica.
Com um discurso otimista demais, que amplia as ironias sobre "o fantástico mundo de Guedes", o mandatário da economia também tem muitas razões para continuar sentindo o peso de 2020.
A começar pelo déficit de mais de R$ 830 bilhões, que pode ser explicado pelas medidas emergenciais de combate a pandemia, mas que dificilmente não obrigará a criação de novos impostos, segundo especialistas.
Em uma nota informativa distribuída pelo Ministério da Economia nos últimos dias do ano, que trata da "evolução da economia ao longo de 2020: Retrospectiva e Perspectivas para 2021", a equipe de Guedes parece viver em um Brasil sem Bolsonaro e também sem uma disputa pelo comando da Câmara.
"Mesmo durante o recesso parlamentar o trabalho não para e consensos vão sendo construídos: as reformas tributária e administrativa, e as PEC´s emergencial e pacto federativo são exemplos de como tais consensos podem viabilizar a aprovação dessas importantes medidas em 2021", diz a nota técnica.
Não há "tais consensos". O que há até o momento e que tende a se acirrar ainda mais em 2021 é uma disputa pelo poder da pauta no Congresso. E, se depender de Bolsonaro, o que deve avançar caso faça o sucessor de Rodrigo Maia é a agenda de costumes.
Vacina lá fora já ajuda?
O documento da economia também traz um ponto curioso. Na única vez em que a palavra vacina é mencionada, não há um incentivo ou pelo menos um alerta da importância da imunização da população brasileira para que a economia possa voltar a crescer de forma sustentável, sem ameaças de novas quarentenas.
"Uma notícia positiva para a economia brasileira é que com a vacinação ganhando força no mundo o cenário internacional nos será propício: a taxa de juros internacional está baixa e deve continuar assim, o que nos favorece seja pela possibilidade de mantermos os juros internos baixos seja pelo estímulo a entrada de capitais internacionais que buscam melhores oportunidades de retorno", afirma a nota técnica.
Então, já que não temos vacina por aqui ainda vamos nos contentar que o mundo vacinado nos traga benefícios. É isso?
No documento, Guedes e sua equipe trocam de "semana que vem" para o "ano que vem" as suas promessas. E a maior parte delas infelizmente seguem quase utópicas. "No ano que vem será a vez das privatizações e da abertura econômica", afirmam.
2020 estava quase no fim quando Bolsonaro, na contramão da agenda de Guedes, não vendeu e sim criou a sua primeira estatal: a Nav Brasil.
Mesmo contrariado, Guedes disse a auxiliares que a alegação dos militares para incentivar a criação da estatal era "não demitir todo mundo pelas privatizações aeroportos". O ministro não quer a máquina pública inchada, mas também não quer ver o desemprego crescer. Equação difícil.
O resultado das contas do presidente e do seu ministro, infelizmente, tende a ser de mais um ano negativo, no vermelho, com a sombra das consequências de escolhas feitas em 2020, o ano que não teve fim no dia 31 de dezembro.
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