Vitória expressiva de Lira é risco para 'casamento' saudável com Bolsonaro
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Se antes da eleição para a presidência da Câmara acontecer já era possível ouvir "confissões" de auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com uma certa desconfiança da lealdade de Arthur Lira (PP-AL), agora já há quem aposte que a ampla vantagem de votos que garantiu sua vitória possa vir a ser um problema no futuro.
Apesar de celebrar o resultado de ontem, no Planalto há também a avaliação de que Lira, nome do Centrão apoiado pelo presidente, saiu mais forte do que esperado.
Com a vitória expressiva no primeiro turno, uma das principais dúvidas é se, com o capital político de 302 votos, o novo chefe da Casa baixa não vai tentar se descolar e buscar voo solo. E isso, como gosta de comparar o presidente, tende a causar problemas para esse novo 'casamento' entre Executivo e Legislativo.
Em 2015, o então deputado Eduardo Cunha foi eleito também no primeiro turno, mas com 267 votos. Na ocasião, o emedebista derrotou o candidato do governo Dilma Rousseff, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Depois de eleito, assim como fez Lira, Cunha fez um discurso conciliatório, mas em dezembro do mesmo ano decidiu abrir um impeachment que culminou com a saída de Dilma.
Começou cedo
A decisão de anular a eleição para a Mesa Diretora da Casa, e com isso excluir praticamente todos os adversários de cargos do comando da Casa trocando-os por aliados, deixou muita gente em Brasília surpreso.
Assessores palacianos admitiram que os primeiros minutos de Lira no poder causaram espanto, dado o tamanho do apetite que o parlamentar mostrou pelo poder. Por outro lado, há quem afirme que a decisão está em linha com o que quer o governo: "tirar o PT" do poder na Mesa.
O preço da fatura
Bolsonaro telefonou e também parabenizou Lira nas redes sociais pela vitória, com uma foto de ambos sorridentes.
Foi de fato um bom dia para o governo, com os dois candidatos apoiados pelo presidente chegando ao comando das duas casas no Congresso.
Mas como o ditado "cada dia sua agonia" costuma ser bem presente na realidade política de Brasília, há quem já faça apostas de quanto tempo vai demorar a "amizade" entre os dois.
Isso porque haverá uma fatura cara para ser paga. Nas negociações de bastidores houve promessa de liberação de cargos e emendas.
Mas, além dos ministérios que já estariam colocados nas negociações, o Centrão - esse sim o maior vitorioso da eleição - já quer colocar na mesa outras pastas até então fora do jogo como o Ministério da Educação.
Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo, na festa de celebração de Lira ontem à noite, em uma mansão em Brasília, a bolsa de apostas era de em quanto tempo Bolsonaro acabará enquadrado por Lira e terá de arrefecer a postura ideológica e entregar ao bloco do Centrão cargos de primeiro escalão. As previsões variavam de seis meses a um ano.
Além disso, Lira tem dito a aliados que não terá o mesmo apetite de Bolsonaro para colocar a agenda de costumes na pauta. Tem dito que vai tentar priorizar as medidas econômicas.
Ex-aliados
Nesses dois anos de mandato, Bolsonaro acumulou "casamentos" que não deram certo politicamente. Uma das separações mais marcantes foi com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que deixou o governo com acusações de interferência do presidente na Política Federal, que resultaram até em inquérito no Supremo.
A lista de "ex-amigos" ou "ex-aliados" de Bolsonaro, porém, é mais extensa. Só na Câmara há o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), que de aliado agora já até protocolou impeachment. E também a ex-líder Joice Hasselmann (PSL-SP), que ontem esteve na festa da vitória de Lira.
Ex-membro da "tropa de choque" de Eduardo Cunha (MDB) e político habilidoso como líder do Centrão, Lira tende a usar a cadeira e a caneta para reforçar o Poder do Legislativo.
Se num primeiro momento os 60 pedidos de impeachment podem ficar mais tempo na gaveta, há também quem acredite que o novo presidente da Câmara é um forte candidato a se tornar mais um dos "ex-amigos" do presidente.
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