Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Governo usa Deus, inverte a lógica e barra perguntas ao falar das suspeitas
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A entrevista coletiva do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, no início da noite desta quarta-feira (23), chamou atenção pela irritação que o auxiliar do presidente Jair Bolsonaro demonstrou ao defender o chefe em relação às suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.
Além disso, há pelo menos outros três pontos que merecem atenção nesta entrevista.
O primeiro deles é a inversão da lógica que cerca qualquer denúncia de irregularidade. É esperado que as autoridades peçam apurações sobre o tema para de fato garantir que não houve — por parte de nenhum responsável — algum tipo de fraude.
Onyx, no entanto, mirou sua artilharia contra o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, ao anunciar que ambos serão alvos de investigação.
O segundo ponto, não menos alarmante, foi o uso de Deus para encorpar as ameaças de que os "delatores" serão punidos. "Deus tá vendo", disse o ministro, acrescentando em tom ameaçador que os irmãos Miranda não pagarão apenas "perante a Deus". "O senhor não vai se entender só com Deus, vai se entender com a gente também".
O estado é laico. Não tem ou não deveria ter religião. O presidente Bolsonaro não liga para isso. Usa o bordão "Deus acima de todos" desde a campanha e, com isso, autoriza que seus ministros também usem Deus para defender seu governo de suspeitas de corrupção.
Por fim, após uma apresentação com dados de diversas vacinas e uma narrativa extremamente confusa do assessor especial da Casa Civil e ex-auxiliar do general Eduardo Pazuello na Saúde, Élcio Franco, o que podemos classificar como "a cereja do bolo": "Não haverá perguntas", disse o funcionário do Palácio do Planalto que acompanhava a fala do ministro a jornalistas.
Na semana em que Bolsonaro mais uma vez agrediu verbalmente uma repórter - por não gostar de suas perguntas — após uma suspeita de tamanha gravidade, se o governo tivesse realmente a intenção de esclarecer o tema o mínimo seria permitir que a imprensa fizesse questionamentos.
Mas não, em busca de reforçar a sua narrativa, Onyx tenta apenas com sua indignação convencer os brasileiros de que não há nada de errado com as suspeitas em torno da compra do imunizante indiano.
O caso, no entanto, não deve ficar por isso mesmo. Além da CPI da Pandemia, o TCU (Tribunal de Contas da União) já avalia o assunto. Mais cedo, o ministro Bruno Dantas, disse que espera que as "questões nebulosas", que cercam o contrato para a compra da vacina indiana, devem ser esclarecidas pela corte.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.