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Carla Araújo

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Com Ciro Nogueira ministro, governo espera reforma aprovada em retribuição

Do UOL, em Brasília

02/08/2021 04h00

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Os efeitos da chegada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) ao Palácio do Planalto serão testados agora com o fim do recesso parlamentar. O teste ocorrerá principalmente na Câmara dos Deputados. Apesar de ser oriundo do Senado, o líder do centrão e presidente do PP azeitou com parlamentares que é hora de mostrar serviço.

A expectativa do governo é aproveitar já nestas primeiras semanas o embalo do bom momento com os parlamentares para avançar a pauta econômica em pelo menos três frentes: tributária, Correios e MP do BEm, que trata do Programa Emergencial do Emprego e Renda.

Há ainda a aposta de avanço na polêmica reforma administrativa e na reforma eleitoral, conhecida como distritão. No calendário inicial dos trabalhos na Câmara ainda constam a expectativa de aprovação da regularização fundiária e do projeto que altera o uso de agrotóxicos e pesticidas.

"A base do governo está firme e animada com a expectativa de melhora no ambiente político com a ascensão de Ciro Nogueira", disse à coluna o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que perdeu espaço com as mudanças ministeriais promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro, também tem mostrado otimismo no avanço das reformas, segundo seus auxiliares. "Vamos aprovar coisas importantes já nessa primeira semana", tem dito o ministro.

Foco na tributária

Nas semanas de recesso, Guedes fez diversas reuniões com o relator da reforma tributária na Câmara, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), para fazer ajustes no texto e tentar diminuir a resistências ao projeto.

A avaliação do governo é de que com a chegada de Ciro Nogueira e o apoio público do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), abre-se uma janela de oportunidades que precisa ser aproveitada.

O governo trouxe o centrão para mais perto. Agora eles precisam retribuir, e o avanço da pauta econômica é fundamental, disse um interlocutor do presidente.

Na semana passada, Lira fez postagens nas redes sociais dizendo que havia conversado com o deputado Sabino para que o projeto mantenha as empresas do Simples isentas da taxação de dividendos, o que foi acatado por Guedes.

Lira, então, prometeu colocar o tema já nesta semana em votação.

"Como prioridade para o segundo semestre, teremos votações importantes. Logo na primeira semana, na volta do recesso, estamos com tranquilidade para votação da primeira etapa da reforma tributária, a que define as novas regras para o Imposto de Renda", escreveu o presidente da Câmara.

Apesar do otimismo do presidente, alguns parlamentares da base ouvidos pela coluna disseram que a discussão do tema pode se alongar mais do que deseja o governo, pois ainda não há consenso total sobre o texto.

Senado ainda com CPI

Se na Câmara o governo acredita que o "efeito Ciro" tem chances de surtir efeitos positivos na pauta econômica, no Senado, há outras preocupações neste primeiro momento.

A principal é a retomada dos trabalhos da CPI da Covid, que deve continuar a trazer desgaste para o governo.

Além disso, Bolsonaro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não atravessam uma fase de total harmonia, já que há a desconfiança de que Pacheco possa se lançar candidato contra o presidente em 2022.

Ainda há outra questão importante para resolver com esse lado do Congresso. Bolsonaro quer o nome de André Mendonça o STF (Supremo Tribunal Federal) aprovado pelos senadores.

Ciro Nogueira precisará aparar essas arestas para o avanço da pauta econômica, já que depois da Câmara as matérias terão que ser avaliadas pelo Senado.

O novo ministro da Casa Civil pediu a Bolsonaro autonomia nas articulações políticas. Bolsonaro diz que deu aval para que Ciro articule da forma que achar mais positiva.

Mas o "casamento" é cercado por desconfianças, já que o presidente acumula ex-aliados que também tinham "carta-branca" para trabalhar e acabaram frustrados e saíram do governo, como o ex-juiz Sérgio Moro, por exemplo.

Nos corredores de Brasília, uma das falas mais comuns nesses dias é de que Ciro é um ministro à prova de demissões. O presidente precisará do centrão se quiser governar para chegar competitivo à disputa eleitoral.

Em suma, são muitas cartas em jogo e a disputa começa para valer com retomada dos trabalhos no Congresso. E com Ciro Nogueira querendo mostrar sua força com a caneta do governo.