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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Governo diz que expandirá energia limpa, apesar de investir mais em fósseis

O ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque em pronunciamento - Reprodução
O ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque em pronunciamento Imagem: Reprodução

Do UOL, em Brasília

01/10/2021 04h00

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O Brasil ainda tem as termelétricas, movidas a combustíveis fósseis, como a principal fonte de novas energias até 2026. Apesar disso, o ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, afirmou à coluna que a previsão para os próximos dez anos é de forte expansão das fontes limpas de energia, como solar e eólica. Atualmente, a energia eólica representa 10,9% da matriz elétrica brasileira, e a energia solar, apenas 2%.

"Há uma grande diversidade das fontes renováveis mais tradicionais. Vamos continuar com grande participação de hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa. As fontes eólica e solar irão se expandir fortemente nos próximos 10 anos", afirmou o ministro.

Segundo o ministério, há "grandes chances de ampliar a participação de fontes limpas" na matriz brasileira, mas não informou para quanto. Hoje, segundo o MME, as matrizes energética e elétrica brasileiras estão entre as mais limpas e renováveis do mundo. De acordo com números oficiais, 46% da matriz energética no Brasil, que representa o conjunto de fontes de energia, é oriunda de fontes limpas. No mundo, esse percentual é de 14%.

"Além de diversificar a matriz, o objetivo é elevar esse percentual nos próximos dez anos. Destacam-se a biomassa da cana, a hidroeletricidade, eólica e solar", diz a pasta.

48% das novas energias virão de fósseis

Conforme mostrou reportagem da coluna, a potência total das usinas termelétricas contratadas pelo governo de Bolsonaro por meio de leilões nos últimos anos, e que já contam com alguma previsão de data para entrada em operação, supera tudo aquilo que entrará no sistema ao longo dos próximos cinco anos por meio de energia solar e eólica (também contratadas via leilões de energia).

Apesar disso, o governo diz que, para os próximos 30 anos, a maioria dos cenários indica capacidade solar instalada para atingir entre 30 e 90 GW em 2050, considerando apenas a geração centralizada. "Isso representará entre 5% e 16% do total. Em alguns cenários, chega a mais de 100 GW", afirmou o MME, em nota.

O ministério explica que a variação grande nas projeções —de 5% a 16%— se justifica pelo fato de que o desenho de estratégia de longo prazo leva em conta 64 cenários e, com isso, a participação das fontes na matriz elétrica até 2050 pode apresentar uma grande amplitude.

"Considerando os 64 cenários analisados, 63 apresentaram uma renovabilidade superior à observada em 2020, ou seja, a matriz elétrica brasileira, que já é uma das mais renováveis do mundo, tem grandes chances de ampliar a participação de fontes limpas", afirmou o MME. "A energia solar cresce mais e mais a cada dia e em breve ocupará lugar de destaque na matriz. E temos ainda a biomassa, o gás natural", completou a pasta.

À coluna, o ministro admitiu que ainda "há muito o que fazer", mas afirmou também que o país tem demonstrado ações de transição energética para fontes menos poluentes e com menor impacto ambiental. "O que fica claro é que o país não se furtará ao desafio de empreender sua transição energética, em bases limpas e mais eficientes", disse.

Impacto da crise hídrica

O MME diz que, desde outubro de 2020, tem adotado medidas para mitigar o impacto no setor elétrico do pior cenário de escassez hídrica em 91 anos e afirma que o uso das termelétricas é necessário para permitir um armazenamento maior de água nos reservatórios das hidrelétricas, garantindo a segurança energética do sistema.

Segundo a pasta, além do acionamento de termelétricas, para tentar conter os efeitos da crise hídrica, estão sendo tomadas outras medidas, como a importação de energia, entrada em operação de novos empreendimentos, programas de redução voluntária e campanhas de consumo consciente de energia.

Mercado para solar e eólica

O MME diz ainda que o investimento na geração elétrica por meio de energia solar se deve a uma combinação de fatores.

"Primeiro, a fonte não é mais uma novidade no Brasil. Superamos a fase inicial de implantação dos primeiros empreendimentos, e aqui ela vem se consolidando e amadurecendo. Este processo demorou relativamente pouco tempo", disse.

Segundo a pasta, o outro fator é que a fonte solar se tornou competitiva em relação a outras fontes no mercado nacional. "Junto com a energia eólica, tem sido a fonte mais competitiva nos últimos anos. No ano passado, a energia solar foi a fonte mais competitiva em nosso leilão para energia nova".

O MME destacou ainda que a energia eólica é hoje a segunda fonte de energia elétrica no Brasil, com mais de 8.500 aerogeradores e mais de 720 parques eólicos.

Carvão é vilão?

A pasta ainda justificou o alto uso de carvão como combustível e disse que atualmente o carvão supre mais de um terço (38,5%) da geração de energia elétrica no mundo. "Além de ser usado para a geração de energia elétrica, o carvão pode ser aproveitado na indústria química, bem como na produção de ferro e aço, cimento, e hidrogênio", disse a pasta.

Apesar de o uso de carvão ainda ser comum, segundo o MME, no Brasil, as termelétricas a carvão representam apenas 2% da capacidade instalada de geração de energia elétrica e 1,3% da produção de energia.

A pasta destacou ainda que o carvão possui grande relevância na economia de algumas regiões do sul do país. "O uso na geração de energia elétrica é uma das únicas formas de viabilizar o aproveitamento do carvão para segmentos das indústrias carboquímica, de fertilizantes, de olefinas, de plásticos, dentre outros", diz.

O ministério diz que está ciente de que o carvão é poluente e afirma que, desde agosto, tem trabalhado no âmbito do Programa Para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional, para neutralizar o impacto ambiental.

O programa prevê instrumentos para possibilitar a contratação de novas termelétricas tecnologicamente mais sustentáveis em substituição àquelas existentes e também considera que as usinas deverão ser desativadas até 2050, caso não ocorra desenvolvimento tecnológico capaz de neutralizar as emissões dessa geração.

"Portanto, não se trata apenas de escolher entre fontes fósseis ou renováveis para a geração de energia elétrica. Trata-se de um programa visando uma transição energética que permita o desenvolvimento de inovações tecnológicas até 2050, possibilitando outros usos ao carvão mineral da região ou a continuidade da geração termelétrica com emissões líquidas de carbono igual a zero", diz a pasta.