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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Para militares, ministro deixa debate com TSE mais político e menos técnico

General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira  - Reprodução/Exército
General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira Imagem: Reprodução/Exército

Do UOL, em Brasília

09/05/2022 20h20Atualizada em 09/05/2022 20h30

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O ofício enviado pelo ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no qual solicita que as demandas da Comissão de Transparência das Eleições (CTE) enviadas às Forças Armadas fossem centralizadas no ministério, foi visto dentro da caserna como uma mensagem do chefe da pasta de que agora o assunto não será mais técnico, e sim político.

Até então, o indicado como representante das Forças Armadas na Comissão era o Comandante de Defesa Cibernética do Exército, general Heber Garcia Portella. Agora, Paulo Sergio quer receber as informações como "autoridade representada naquela Comissão".

Oficialmente, o Ministério da Defesa informou que Heber continuará no cargo do CTE, mas, na prática, a função do general na comissão ficará de fato esvaziada, caso o TSE acate o pedido para repassar as informações ao Ministério da Defesa.

Segundo apurou a coluna, no Exército, a avaliação é que a solicitação do ministro demonstra que o tema envolvendo os questionamentos e sugestões ao TSE está encerrado do ponto de vista técnico e que não cabe mais ao general Heber ser o responsável pelo assunto.

Escolhido pela função

O general Heber assumiu o cargo no Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) em março do ano passado e foi o escolhido em setembro pelo então ministro da Defesa, general Braga Netto, para ser representante das Forças Armadas na Comissão, criada pelo ex-presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

Fontes militares dizem que a escolha de Heber não foi pessoal, e sim por conta do cargo que ele ocupava, já que o militar teria a sua disposição o corpo técnico com maior capacidade para tratar o tema de segurança cibernética.

Mesmo com a função na comissão do TSE, o general nunca deixou com comando do ComDCiber e, caso saia da função na CTE, não há previsão de que ele deixe o departamento de inteligência cibernética do Exército.

Silêncio no Exército

A ordem do atual comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, é tentar deixar o Exército fora da discussão direta com o TSE.

Justamente por isso, a avaliação é que o comandante não deve fazer manifestações públicas a respeito do imbróglio envolvendo os questionamentos das Forças enviadas ao TSE.

Na avaliação de militares da ativa, a situação atual do Exército é de "perde-perde", ou seja, não teria nada a ganhar em adotar qualquer posicionamento.

"Já estamos sendo utilizados pelos dois lados. Um para o presidente querer dizer que tem o apoio das Forças Armadas. E do outro para falarem que os militares vão dar o golpe. Nenhuma coisa e nem outra", resumiu um militar de alta patente à coluna.

Dança das cadeiras tornou Paulo Sergio político

Paulo Sergio foi alçado ao posto de ministro da Defesa em março deste ano, em razão da necessidade de descompatibilização de Braga Netto, hoje considerado o mais cotado para ser vice na chapa de Bolsonaro.

Antes de ganhar um cargo na Esplanada e evidenciar sua ligação e afinidade com o presidente Bolsonaro, Paulo Sergio estava no comando do Exército. A troca de cadeira de forma direta ampliou o desgaste para as Forças Armadas, que ainda tentam se reafirmar como instituição de Estado.

Alguns generais do Alto Comando afirmam, inclusive, que a decisão de Paulo Sergio assumir o protagonismo da CTE, agora que ele está em uma cadeira política, seria uma forma de tentar "preservar a instituição e as pessoas".