Deu aula de graça de Excel; hoje fatura R$ 48 mi com streaming de cursos
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
09/06/2024 04h00
João Paulo Martins, 31, era aluno universitário em 2015, quando percebeu a dificuldade de os colegas de turma conseguirem vagas de estágio por não saberem usar o Excel. O que ele fez? Deu uma aula gratuita sobre a ferramenta para cerca de 80 alunos. Isso virou negócio. Hoje, a sua empresa Hashtag Treinamentos tem duas trilhas de conhecimento, como um "streaming" de cursos, e faturou R$ 48 milhões em 2023.
Primeira aula de graça na faculdade
Martins cursou engenharia de produção na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ). Na mesma época, ele fazia estágio na L'Oréal.
Em 2015, ele percebeu a dificuldade de seus colegas de turma em serem aprovados em estágio. Um dos motivos é que não sabiam usar o Excel. "Como eu já tinha um bom conhecimento, reuni um grupo de alunos para uma aula básica, dentro da própria faculdade", diz.
A aula repercutiu dentro da faculdade e chegou a alunos de outras universidades, que passaram a pedir por aulas do tipo. Martins, então, alugou uma sala fora da universidade e estruturou a primeira turma paga. O custo era de R$ 300 por aluno, por 16 horas de curso. "Nesse início, era voltado especificamente para universitários que procuravam por vagas de estágio ou uma melhor preparação ao mercado de trabalho", afirma.
A alta procura pelas aulas e o crescimento rápido das turmas fizeram Martins perceber a oportunidade de negócio. No início de 2016, ele abriu a Hashtag Treinamentos. Seis meses depois, em junho de 2016, ele saiu do estágio na L'Oreal para se dedicar em tempo integral à Hashtag.
Empresa tem "streaming" de cursos
De 2016 a 2019, a Hashtag oferecia apenas Excel. De lá para cá, entraram outros cursos na grade, como de Power BI, Python, Power Point, SQL e Ciência de Dados.
Hoje, são duas trilhas que funcionam no modelo de assinatura, como um "streaming" de cursos. "Isso significa que o aluno tem acesso a todos os conteúdos daquela assinatura por um tempo determinado", diz Martins. Atualmente, são cerca de 35 mil assinaturas ativas.
A assinatura "Comunidade Impressionadora" custa R$ 1.497 com acesso por um ano. Inclui acesso a todos os cursos das ferramentas Office (Excel, Power BI e Power Point, entre outros) e aos cursos de linguagem (Python, JavaScript, HTML e CSS, entre outros). Já a assinatura "Ciência de Dados Impressionadora", que custa R$ 1.997 e dá direito a dois anos de acesso, inclui aulas e exercícios práticos sobre linguagens (como Python e SQL), ferramentas e estatística aplicadas em conjunto na análise de dados.
Nas duas trilhas, os alunos têm acesso ainda a mais dez cursos complementares, como soft skills e aplicações práticas de IA. Segundo ele, mais de 120 mil alunos já passaram pelos cursos pagos da empresa.
Há grande procura por cursos de programação. "Primeiro, porque existe um gap muito grande de profissionais preparados para isso no mercado; segundo, porque as empresas querem mesmo pessoas que saibam programar. Hoje, elas olham menos para a formação tradicional do profissional e mais para a formação técnica", declara.
O conhecimento avançado em ferramentas como Excel, Power BI e Python se tornou um diferencial no mercado de trabalho hoje. O ganho de eficiência e a produtividade são notados pelas empresas rapidamente. Portanto, são cursos que ajudam os profissionais a evoluir na carreira.
João Paulo Martins, CEO da Hashtag Treinamentos
Aulas gratuitas no YouTube
Até 2016, as aulas eram somente presenciais, em Niterói e no Rio. "Passamos a gravar alguns conteúdos e lançamos as primeiras aulas virtuais gratuitas no YouTube", diz Martins. No começo de 2017, a empresa lançou o primeiro curso online pago e, com a pandemia, a Hashtag passou a ser 100% digital.
A Hashtag possui plataforma própria. Além dos cursos, os alunos podem tirar dúvidas e têm acesso a recursos como um caderno virtual para anotações sobre as aulas, apostilas, materiais para exercícios e até banco de vagas das empresas parceiras.
A empresa oferece também aulas gratuitas nos canais do YouTube (Hashtag Treinamentos e Hashtag Programação), por meio de vídeos e lives. São cerca de 2.000 vídeos publicados e mais de 2 milhões de inscritos nos canais do YouTube.
Há intensivões (aulas ao vivo) gratuitos de uma das ferramentas (Excel, Power BI, Python ou JavaScript), uma vez por mês.
Outra ação da empresa é o banco de vagas. Nele, a Hashtag faz a conexão de empresas e alunos. "Ele funciona nas duas direções: os alunos podem pesquisar as colocações abertas e se candidatar, e as empresas podem buscar estudantes com as qualificações desejadas", afirma Martins. As empresas participantes não foram divulgadas.
A Hashtag tem hoje cinco sócios. Além de Martins, são sócios da empresa João Lira, 30, Alon Pinheiro, 29, Sérgio Tranjan, 28, e Diego Amorin, 27. Segundo Martins, todos começaram na empresa como professores, sendo que Pinheiro e Tranjan foram alunos da Hashtag e se tornaram sócios.
Em 2023, a empresa faturou R$ 48 milhões. O lucro foi de R$ 22,3 milhões.
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