Ele morou na rua e hoje fatura R$ 700 mil com aplicativo de viagens
Márcia Rodrigues
Colaboração para o UOL, de São Paulo
07/10/2024 05h30
A vida de Sérgio Brito, 44, como a de muitos brasileiros, foi marcada pelo trabalho duro, situações difíceis - ele conta que chegou a morar nas ruas - mas conseguiu mudar os rumos de sua história ao criar o aplicativo de viagens Te Levo Mobile. A empresa é uma concorrente da Uber em cidades do interior de Minas Gerais, de São Paulo e Goiás.
O que aconteceu
Tapa na cara e decepção com empresas de aplicativo. Em 2022, Brito criou a Te Levo Mobile, um aplicativo de viagens, após levar um "tapa na cara" de uma passageira. Hoje a empresa lucra R$ 700 mil por mês, virou franquia e atua em sete cidades.
Chuva molhava dentro do carro. Ele conta que, em uma viagem, pediu para a passageira fechar a janela porque estava chovendo muito e molhando o seu carro, mas ela se negou e começou a gritar. Ele explicou que, com o banco molhado, não poderia pegar outros passageiros. Mesmo assim ela manteve o vidro aberto. Ele, então, parou o carro e pediu para ela descer sem qualquer ônus. Inconformada, ela começou a discutir e deu um tapa na cara dele antes de sair do carro.
Eu pensei em ir atrás dela, mas respirei fundo e vi que não era a melhor solução. Fiquei parado, chorei e, mais tarde, relatei o ocorrido para a empresa que eu dirigia como parceiro, sem sucesso. Foi então que resolvi criar uma empresa que o cliente principal fosse o motorista, não o passageiro.
Sérgio Brito, Te Levo Mobile
Cartão saúde e desconto em autopeças e combustíveis
Investimento para começar o novo negócio. Para criar a Te Levo Mobile, o empresário contou com um aporte de R$ 35 mil, feito por um sócio investidor, o empresário Múcio Francisco Vale Júnior, dono da rede de postos de gasolina Deck, de Araxá. "Eu o conhecia há muito tempo, quando vendia pão de queijo de porta a porta e ele começou a comercializá-los nos seus postos. Quando tive a ideia de criar a Te Levo Mobile, eu fiz o projeto, apresentei para ele, e ele concordou em ser meu sócio."
O custo para desenvolver o aplicativo foi de R$ 5 mil. A divulgação nas redes sociais iniciou pelo próprio Brito, que buscou cursos no Youtube para aprender a fazer artes, peças e vídeos de divulgação. As plataformas utilizadas foram Canva (para artes) e CapCut (vídeo). A tecnologia do aplicativo é terceirizada.
Café e biscoito para parceiros. Brito adora dizer que a Te Levo Mobile trabalha para o motorista, e o passageiro é o cliente final. "Nós mimamos o motorista. Todos os dias, há café e biscoito na base para eles, que também podem usar banheiro, tomar água e esquentar suas marmitas."
Desconto em médico e exames. Entre os benefícios para os motoristas, estão: cartão saúde (que dá desconto de até 50% em atendimento médico e exames) e desconto na compra de autopeças e combustíveis.
Aplicativo tem 170 motoristas só em Araxá
Empresa virou franquia. Hoje, o aplicativo atende sete cidades: Araxá, Ibiá, Sacramento, Monte Carmelo e Guaxupé (MG), Catalão (GO) e Miguelópolis (SP).
R$ 700 mil só com a operação em Araxá. Só em Araxá são 170 motoristas que atuam na Te Levo Mobile. Por mês a unidade fatura R$ 700 mil com a soma de todas as viagens. Brito não soube falar o total de prestadores nas outras cidades.
Motoristas passam por treinamento. Para ser um dos prestadores de serviço do aplicativo, é preciso passar por um treinamento de 2 horas para falar sobre boas práticas contra racismo, homofobia, passageiro embriagado, assédio, entre outros. Além disso, como em outras plataformas, os interessados devem apresentar uma série de documentos como RG, CPF e atestado de antecedentes criminais.
Vida difícil
Situação precária. Brito lembra com tristeza a fase que passou na rua. "Primeiro fui enganado com a proposta de um emprego que ganharia bem trabalhando em uma plantação de café e poderia ajudar minha família, depois disso fiquei um ano na rua sem conseguir me reerguer."
Chance de emprego cada vez mais distante. "Sem dinheiro, em poucos dias caí nas ruas e não consegui mais sair. Afinal, sem banho, roupas limpas e cabelo e barba por fazer, ficou cada vez mais difícil conseguir um emprego."
Pai achou filho com ajuda de pastor. Nessa época, sem notícias do filho, o pai dele começou a ligar para as igrejas da cidade para ver se conseguia notícias de Sérgio. Até que soube, por um pastor, que ele ia lá todos os domingos.
Voz do pai soou como um sonho. "Meu pai, então, pediu para o pastor me deixar dormir em algum lugar e me segurar lá até o dia seguinte. Acordei com a voz do meu pai me chamando e cheguei a pensar que estava sonhando. Ele me acolheu e me levou para casa. Daí tive forças para começar a lutar de novo por uma vida melhor para a minha família."
De chef de cozinha a motorista de aplicativo. Nesse período, fez um curso de chef de cozinha usando o Fies (Financiamento Estudantil), conseguiu um emprego em um dos principais hotéis de Araxá (MG), porém, com a pandemia, foi demitido com todos os outros profissionais. E, para sobreviver, começou a trabalhar como motorista até nascer a Te Levo Mobile.
Esperança para quem mora nas ruas. "Gosto de contar minha história porque posso inspirar pessoas que, assim como aconteceu comigo, podem estar enfrentando dificuldades, e sem esperança de seguir em frente. Após ficar um período nas ruas, posso dizer que entendo aqueles que acabam se drogando ou bebendo. É uma vida muito difícil. Precisa ter muita fé para não seguir para este lado."