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Nem-nem: Dois em cada 10 jovens não estudam nem trabalham no país, diz Ipea

Do UOL, em São Paulo*

03/12/2018 18h09

Uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que 23% (dois em cada dez) dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam, são os chamados jovens nem-nem. A maior parte desse grupo são mulheres de baixa renda.

O número corresponde a um dos maiores percentuais de jovens nessa situação entre nove países da América Latina e do Caribe. Outros 49% dos jovens se dedicam exclusivamente a estudo ou capacitação, 13% só trabalham e 15% trabalham e estudam ao mesmo tempo.

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As razões para o significativo percentual de jovens nem-nem, de acordo com o estudo, são problemas com habilidades cognitivas e socioemocionais, falta de políticas públicas, obrigações familiares com parentes e filhos, entre outros.

Próximos ao número do Brasil estão o México, com 25% de jovens que não estudam nem trabalham, e El Salvador, com 24%. No outro extremo está o Chile, onde apenas 14% dos jovens pesquisados estão nessa situação.

 A média para a região é de 21% dos jovens, o equivalente a 20 milhões de pessoas, que não estudam nem trabalham.

O estudo "Millennials na América e no Caribe: trabalhar ou estudar?" sobre jovens latino-americanos foi lançado nesta segunda-feira (3) durante um seminário no Ipea em Brasília (DF). Os dados envolvem mais de 15 mil jovens com idade entre 15 e 24 anos de nove países: Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Haiti, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

Nem-nem

De acordo com a pesquisa, embora o termo nem-nem possa induzir à ideia de que os jovens são ociosos e improdutivos, considerando todos os países pesquisados, 31% dos jovens nem-nem estão procurando trabalho, principalmente os homens. E mais da metade (64%) se dedica a trabalhos de cuidado doméstico e familiar, principalmente as mulheres.

“Ou seja, ao contrário das convenções estabelecidas, este estudo comprova que a maioria dos nem-nem não são jovens sem obrigações, e sim que realizam outras atividades produtivas”, diz a pesquisa.

Apenas 3% deles não realizam nenhuma dessas tarefas nem têm uma deficiência que os impede de estudar ou trabalhar. As taxas são mais altas no Brasil e no Chile, com aproximadamente 10% de jovens aparentemente inativos.

Para a pesquisadora do Ipea Joana Costa, os resultados são bastante otimistas, pois mostram que os jovens não são preguiçosos.

Mas são jovens que têm acesso a educação de baixa qualidade e que, por isso, encontram dificuldade no mercado de trabalho. De fato, os gestores e as políticas públicas têm que olhar um pouco mais para eles
Joana Costa, pesquisadora do Ipea

Políticas públicas

A melhoraria nos serviços, os subsídios para o transporte e uma maior oferta de creches, para que as mulheres possam conciliar trabalho e estudo com os afazeres domésticos, são políticas que podem ser efetivadas até no curto prazo, segundo Joana.

Com base nas informações, os pesquisadores indicam ainda a necessidade de investimentos em treinamento e educação e sugerem ações políticas para ajudar os jovens a fazer uma transição bem-sucedida de seus estudos para o mercado de trabalho.

Considerando a incerteza e os níveis de desinformação sobre o mercado de trabalho, seria essencial para os jovens o fortalecimento dos sistemas de orientação e informação sobre o trabalho e a continuidade de políticas destinadas a reduzir as limitações à formação de jovens, com programas como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).

“Os programas de transferências condicionadas e bolsas de estudo obtiveram sucesso nos resultados de cobertura”, diz o estudo.

De acordo com o Ipea, o setor privado também pode contribuir para melhorar as competências e a empregabilidade dos jovens, por meio da adesão a programas de jovens aprendizes e incentivo ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais requeridas pelos empregadores, como autoconfiança, liderança e trabalho em equipe.

No Brasil, por exemplo, segundo dados apresentados pelo Ipea, há baixa adesão ao programa Jovem Aprendiz. De 2012 a 2015, o número de jovens participantes chegou a 1,3 milhão, entretanto esse é o potencial anual de jovens aptos para o programa.

É preciso ainda redobrar os esforços para reduzir mais decisivamente a taxa de gravidez de adolescentes e outros comportamentos de risco fortemente relacionados ao abandono escolar entre as mulheres e uma inserção laboral muito precoce entre os homens.

Conhecimento e habilidades

As oportunidades de acesso à educação, os anos de escolaridade média, o nível socioeconômico e outros elementos, como a paternidade precoce ou o ambiente familiar, são alguns dos principais fatores que influenciam a decisão dos jovens sobre trabalho e estudo, de acordo com a pesquisa. Em todos os países, a prevalência de maternidade ou paternidade precoce é maior entre os jovens fora do sistema educacional e do mercado de trabalho.

A pesquisa traz variáveis menos convencionais, como as informações que os jovens têm sobre o funcionamento do mercado de trabalho, suas aspirações, expectativas e habilidades cognitivas e socioemocionais.

Para os pesquisadores, os jovens não dispõem de informações suficientes sobre a remuneração que podem obter em cada nível de escolarização, o que poderia levá-los a tomar decisões erradas sobre o investimento em sua educação. No caso do Haiti e do México, essa fração de jovens com informações insuficientes pode ultrapassar 40%.

A pesquisa aponta ainda que 40% dos jovens não são capazes de executar cálculos matemáticos muito simples e úteis para o seu dia a dia e muitos carecem de habilidades técnicas para o novo mercado do trabalho.

Mas há também resultados animadores. Os jovens analisados, com exceção dos haitianos, têm muita facilidade para lidar com dispositivos tecnológicos, como também têm altas habilidades socioemocionais.

Os jovens da região apresentam altos níveis de autoestima, de autoeficácia, que é a capacidade de se organizar para atingir seus próprios objetivos, e de perseverança.

De acordo com a pesquisa, os atrasos nas habilidades cognitivas são importantes e podem limitar o desempenho profissional dos jovens, assim como a carência de outras características socioemocionais relevantes, como liderança, trabalho em equipe e responsabilidade. Soma-se a isso o fato de que 70% dos jovens que trabalham são empregados em atividades informais.

Entre aqueles que estão dentro do mercado formal há uma alta rotatividade de mão de obra, o que desmotiva o investimento do empregador em capacitação.

Realidade brasileira

No Brasil há cerca de 33 milhões de jovens com idade entre 15 e 24 anos, o que corresponde a mais de 17% da população. Segundo a pesquisadora do Ipea Enid Rocha, o país vive um momento de bônus demográfico, quando a população ativa é maior que a população dependente, que são crianças e idosos, além de estar em uma onda jovem, que é o ápice da população jovem.

É um momento em que os países aproveitam para investir na sua juventude. Devemos voltar a falar das políticas para a juventude, que já foram mais amplas, para não produzir mais desigualdade e para que nosso bônus demográfico não se transforme em um ônus
Enid Rocha, pesquisadora do Ipea

Além das indicações constantes no estudo, Enid destaca a importância de políticas de saúde específica para jovens com problemas de saúde mental, traumas e depressão.

A pesquisa foi realizada em parceria do Ipea com a Fundación Espacio Público, do Chile, o Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IRDC), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG).

(*Com informações da Agência Brasil)

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