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Gostaria de saber salário do colega? Empresas revelam dados de funcionários

Equipe da Buffer, empresa de tecnologia em São Francisco (EUA) que divulga os salários dos funcionários numa tabela - Divulgação
Equipe da Buffer, empresa de tecnologia em São Francisco (EUA) que divulga os salários dos funcionários numa tabela Imagem: Divulgação

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

08/06/2019 04h00

Você falaria seu salário para amigos, familiares ou colegas de trabalho? O assunto é tabu. Alguns especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a transparência serviria para equiparar salários de colaboradores, mas outros veem aspectos negativos, que vão de frustração de funcionários à queda na remuneração.

A startup Buffer, com sede em São Francisco (EUA), é uma das empresas que divulgam os rendimentos dos funcionários. Qualquer um pode acessá-los em uma tabela disponibilizada no site da companhia.

"Um sistema aberto de salário gera alta confiança na equipe, além de pagamentos mais justos, equitativos e sem preconceitos. Esperamos que essa transparência ajude outras empresas a pensar sobre como decidir os salários", disse o CEO Joel Gascoigne no site da startup.

Como a Buffer, a Verve, em Londres (Inglaterra), a Whole Foods e a SumAll, ambas em Nova York (EUA), dão transparência aos salários dos colaboradores e têm a mesma visão. No Brasil, umas das únicas empresas adeptas da prática é a Semco Partners, do investidor e empresário Ricardo Semler.

Transparência gera igualdade, diz especialista

Para o professor de liderança e gestão de pessoas da Fundação Dom Cabral, Paulo Almeida, a visibilidade pode ser um bom caminho para a equiparação salarial entre colaboradores que exercem a mesma função, principalmente homens e mulheres. "Seria uma forma de encorajar a igualdade", afirmou.

No Brasil, mesmo que a igualdade salarial entre gêneros seja estabelecida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e pela Constituição, a remuneração média das mulheres com ensino superior completo é R$ 4.949,14, enquanto a dos homens é de R$ 7.678,53, segundo o Relatório Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia.

Outro ponto positivo apontado pelo professor é que uma política salarial transparente poderia aumentar a confiabilidade do mercado e de potenciais candidatos. "Além de a empresa ser bem-vista pelos concorrentes, principalmente nesse momento em que o Brasil está focado no combate à corrupção, divulgar salários pode facilitar a decisão de potenciais candidatos ao escolher uma companhia."

Funcionários frustrados pela comparação

Almeida disse, no entanto, que a transparência também tem um lado negativo. Alguns colaboradores, segundo ele, poderiam se sentir mal pagos ao fazer comparações com os demais colegas, o que geraria desconforto, frustração e até pedidos de demissão.

"O ideal para evitar isso seria implementar a prática de forma correta, explicando o porquê das diferenças. Pode ser por meio de descrições das atividades ou até mostrar que o valor depende do tempo de serviço", disse.

Todd Zenger, professor de liderança estratégica da escola de negócios da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, tem opinião semelhante.

"Em ambientes em que o desempenho é difícil de avaliar com precisão e não é observável, todos acreditam que estão acima da média em termos de contribuições ou desempenho. Transmitir o pagamento individual deles, no entanto, mostrando diferenças, acionaria um processo de comparação social", disse à revista Time.

Salários podem ficar menores, diz estudo

Um estudo publicado na Harvard Business School também mostra aspectos negativos da transparência. Com base na análise das ofertas de trabalho entre 2010 e 2014 no TaskRabbit, plataforma em que empregadores contratam trabalhadores temporários, os pesquisadores constataram que a visibilidade dos rendimentos fez o pagamento médio cair entre 7% e 8%. Veja o estudo (em inglês).

A queda do salário ocorreria em longo prazo, segundo os autores da pesquisa, porque os empregadores negociariam de forma mais "feroz" os salários e os futuros colaboradores, por saberem os valores, seriam mais brandos.

"Nossa análise sobre equilíbrio salarial e taxa de contratação, vistos sob a luz da transparência salarial, revela consequências que são contra-intuitivas em um mercado para tarefas de baixa qualificação", disseram os pesquisadores à Ucla Review, revista da Universidade da Califórnia.

Investidor não gosta de dados abertos, diz especialista

Luiz Gustavo Comeli, manager do Distrito Spark Cwb, um hub de inovação dentro da FAE Business School, de Curitiba (PR), disse acreditar que a transparência seja positiva, mas demorará um pouco para "pegar" no Brasil. Segundo ele, as startups do país já trabalham fortemente com a questão da igualdade, mas a divulgação dos salários para o mercado externo ainda é um tabu dentro das organizações.

"Se você perguntar para um CEO de uma startup se ele divulgaria os rendimentos dos funcionários, provavelmente ele não veria problemas. Agora os investidores, que ainda estão dentro da cultura do segredo, dificilmente aceitariam. Há ainda muitas restrições em jogar com dados abertos".

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