Na contramão do mercado, empresas contratam mulheres grávidas até no 9º mês
A contratação de mulheres grávidas por empresas é rara, segundo especialistas. Mas, na contramão do que costuma acontecer no mercado de trabalho, algumas startups e grandes companhias brasileiras e internacionais admitiram gestantes nos últimos meses. Um detalhe chama a atenção: algumas delas estavam no nono mês de gestação.
É o caso da jornalista e advogada Anna Lethicia Rosseto, 36. Em 1º de março deste ano, ela foi contratada pela Trackmob, uma startup com sede em São Paulo que ajuda organizações a captar recursos para causas sociais.
Anna, que conquistou a posição de head de marketing digital, deu à luz ao seu filho 20 dias depois de iniciar na empresa. Ela está em licença-maternidade e voltará ao trabalho somente em agosto, no escritório da empresa em Curitiba (PR).
"Não esperava conseguir a vaga. Afinal, quem contrata uma pessoa para ficar meses recebendo sem trabalhar efetivamente?", disse Anna ao UOL.
Focamos no talento, e não na gravidez, diz fundador
A reportagem conversou com Jonas Araujo, fundador da Trackmob. Ele disse que contratou a então gestante porque a profissional demonstrou ser capaz de ajudar a empresa a atingir as metas estabelecidas. A gravidez, disse ele, não foi um ponto negativo.
"Simplesmente não fazia sentido não optar pela profissional, que foi superbem em um processo seletivo que envolveu cerca de cem candidatos, por causa de uma questão de curto prazo, que é a gravidez".
Araujo também falou que o fato de ter um funcionário parado por quatro meses -período que Anna ficará afastada- não vai gerar prejuízo. "Todo investimento tem um tempo de retorno. Portanto, se eu olhar o negócio em longo prazo, a contratação dela não tem problema algum, muito pelo contrário", afirmou.
Em MG, gestante também é contratada no nono mês
O caso de Anna não é o único. Em setembro de 2018 a designer Marcela Caldeira, 35, foi contratada pela ThoughtWorks, uma multinacional norte-americana da área de tecnologia com escritórios em quatro capitais brasileiras. Ela também estava com nove meses de gestação.
Marcela passou por todo processo seletivo, que durou dois meses, e conquistou a vaga de designer de experiência. Ela assume o posto depois da licença-maternidade. "Estar grávida não foi um obstáculo. A empresa deixou claro que era minha competência que estava em jogo", disse ao jornal "Correio Braziliense" na época da contratação.
Grávidas também são contratadas em outros países
Há exemplos de gestantes admitidas também em outros países. A revista "New York" fez uma matéria (texto em inglês) sobre sete mulheres que conseguiram emprego enquanto estavam grávidas.
Já a polonesa Zofia Wosinska relatou no LinkedIn (texto em inglês) como foi contratada no nono mês de gestação pela Leica Byosystems, uma empresa alemã da área dispositivos médicos. Ela assumiu o cargo de gerente de produto global sênior.
"Depois que recebi e aceitei a oferta do grupo, muitas pessoas ficaram surpresas ao saber que fui contratada tão tarde na gravidez. Ainda não é a norma", disse na rede social.
Contratação de gestante é exceção, diz especialista
Para Bernt Entschev, CEO da DeBernt Human Capital, empresa de consultoria em recursos humanos que atua há mais de 30 anos em Curitiba, a prática de contratar grávidas ainda é exceção, pois muitas empresas têm medo dos custos que terão que arcar com essas profissionais.
Entschev disse, no entanto, que os exemplos recentes podem mostrar uma pequena mudança de cenário. "São empresários com visão de médio e longo prazo capazes de entender que mais importante que a gravidez, uma condição passageira, é a competência das candidatas".
Entschev fez recomendações a gestantes que buscam emprego. "O ideal é que essas candidatas procurem por companhias com culturas organizacionais muito bem desenvolvidas e destaquem em seus currículos e durante as entrevistas o que podem fazer no futuro pela empresa."
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