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Investidor: veja os cuidados com empresas que estréiam na Bolsa

Sophia Camargo

01/11/2007 07h00

Com a estréia neste dia 31 na Bovespa das BDRs (Brazilian Depositary Receipts) da Laep Investiments (empresa do segmento lácteo, detentora das marcas Parmalat e Glória, entre outras), já são 60 empresas que abriram seu capital este ano, ante 26 estréias no ano passado.

É uma verdadeira enxurrada de IPOs (sigla em inglês para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial), que desperta cada vez mais o interesse (e o apetite) dos investidores por este tipo de negócio.

Inevitável, portanto, a pergunta: vale a pena investir em empresas que estão estreando no mercado? Quais os cuidados que o investidor deve tomar ao decidir colocar seu dinheiro nestes papéis?

A recomendação de Ricardo Humberto Rocha, professor do Ibmec São Paulo e coordenador do Laboratório de Finanças da USP, é para que o investidor seja ainda mais cuidadoso nestes casos, já que não é possível dispor de alguns dos instrumentos normais de avaliação dos investimentos, como a análise gráfica, que se baseia no histórico de desempenho das ações.

Para Rocha, é indispensável que o investidor leia o prospecto da oferta, o que por si só já é um desafio e tanto, pois costumam ser calhamaços capazes de assustar até mesmo os leitores mais experientes. O prospecto do IPO da Bovespa Holding, que estreou no dia 26 de outubro na Bolsa, tinha 590 páginas.

Enquanto algumas empresas que lançam suas ações ao mercado já são conhecidas do público mesmo enquanto mantinham seu capital fechado, outras representam um mistério - e, portanto, um motivo a mais para se ter bastante cuidado ao investir. "O que não se deve fazer nunca é investir no embalo dos amigos, porque todos estão fazendo", alerta o professor. "Lembre-se que, se tiver prejuízo, este será só seu."

Do alto dos seus mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, Gilberto Biojone, diretor-superintendente da Ancor (Associação Nacional das Corretoras de Valores, Câmbio e Mercadorias), aconselha os pequenos investidores a terem especial cautela com os IPOs.

Ele lembra que enquanto alguns lançamentos foram bastante rentáveis, outros representaram perdas significativas para o investidor (veja abaixo tabelas com maiores ganhos e perdas).

AS DEZ MAIS RENTÁVEIS
GVT Holding109,44
Anhanguera86,11
PDG Realt77,27
BR Malls Par65,33
Agra Incorp59,41
Metalfrio48,95
Fer Heringer39,71
Indusval38,09
Even32,17
MRV31,15
EmpresaValorização %
do lançamento até 26.out
AS DEZ MAIORES QUEDAS
Estácio-25,33
CC Des. Imob-23,07
Tecnisa-21,57
Guarani-20,74
Triunfo Part-18,42
Paraná-16,21
Log-In-15,79
Eztec-15,45
Agrenco-14,23
Banco
Patagônia
-13,19
EmpresaPerda % do
lançamento
até 26.out


O especialista explica que os motivos que podem levar ao fracasso de um IPO são muitos. "O que costuma acontecer, em termos gerais, é o seguinte: a empresa que fez a emissão deu um preço, justificou esse preço, contou uma história. Depois que se inicia a negociação, o mercado começa a testar a consistência da empresa. Para algumas companhias, o mercado andou bem; para outras, não. Empresas do mesmo setor sofreram mais, outras menos. O mercado começa a se perguntar porquê: será que é a gestão? Tudo isso influencia o desempenho de uma ação. Para o pequeno investidor, são questões complexas. Por isso ele deve se socorrer de ajuda especializada."

Alguns aspectos essenciais do negócio não podem ser esquecidos. Na hora de se decidir participar de um IPO, o investidor deve levar em conta o preço, a história e a oportunidade que o novo papel representa.

Afinal, quando a empresa faz uma oferta inicial ela irá competir pelo dinheiro do investidor. Para isso, deve mostrar a que veio, seja oferecendo um preço atrativo ou uma história interessante, ou ainda oferecer um diferencial em relação às outras empresas que já estão lá.

A questão é: se a empresa não tem um histórico de relacionamento com os investidores, eu não sei como ela vai me tratar, por que eu vou colocar dinheiro nesta ação que está chegando agora?

Segundo Biojone, uma única pergunta ajuda muito o investidor. "Questione sempre o que esta empresa traz de diferente. Se ela tem uma história parecida e um preço mais baixo, eu compro. Se ela tem um preço igual e uma história muito melhor, também compro. Mas se ela tem um preço igual e uma história igual a todo mundo, eu fico com todo mundo."