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Previdência muda risco automaticamente quando investidor envelhece

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

01/02/2013 06h00

Uma recomendação bastante comum em finanças pessoais é de que o investidor, ao poupar para a aposentadoria, dê ênfase para investimentos mais arriscados no início da aplicação (quando é mais jovem) e fique mais conservador à medida que envelhecer.

Já existem produtos no segmento de previdência privada que têm por diferencial fazer esse tipo de ajuste automaticamente, sem interferência do cliente: no mercado, são conhecidos como fundos ciclo de vida.

O investidor pode identificar facilmente esse tipo de produto porque, quase sempre, há uma data na denominação: 2030 ou 2040, por exemplo.
Essas datas não estão por acaso: indicam o ano previsto para o cliente sacar o dinheiro aplicado.

Um fundo para o ano de 2030, por exemplo, pode aplicar os recursos acumulados na seguinte proporção: metade em ações, outros 10% em produtos pós-fixados (como fundos DI, por exemplo) e o restante em produtos de renda fixa, porém um pouco mais arriscados, tais como títulos do Tesouro Direto de longo prazo.

Perto de 2030, a parcela do dinheiro aplicado em ações deverá ser bem menor, em torno de 4% do valor total. A parte do dinheiro em aplicações mais conservadoras, por sua vez, deverá representar mais de 80% do bolo.

A lógica por trás dessa distribuição de recursos é que o investidor mais jovem terá mais tempo para esperar os prováveis ganhos do dinheiro aplicado em ações, ou mesmo, recuperar eventuais prejuízos.

Para o investidor mais velho, no entanto, não se recomenda correr esse tipo de risco.

Produto é mais instável no início da aplicação

“Esses fundos não têm um comportamento previsível nos primeiros anos. Mas a cada vez que o gestor mexer na carteira de investimentos [o montante de aplicações escolhidas], vai tornar o produto mais conservador”, diz Plínio Sales, superintendente de Produto da Icatu Seguros, pioneira no lançamento desses fundos no Brasil.

No começo, a missão do responsável por administrar os recursos do fundo é fazer o dinheiro crescer; na etapa final, é proteger os recursos acumulados da inflação.

Em termos práticos, significa mais instabilidade para os rendimentos dos primeiros anos, porque o dinheiro está investido em produtos com maior chance de perda ou ganho (como ações).

A poupança é mais estável, mas provavelmente não vai fazer o dinheiro render da mesma maneira.

“O público que aplica nesse tipo de fundo tem que ter, naturalmente, um horizonte de longo prazo”, afirma o diretor-executivo de Investimento e Previdência do Itaú Unibanco, Osvaldo Nascimento.

Ele defende que a questão da instabilidade não deveria ser a  maior preocupação do poupador em um produto desse tipo. “Ninguém olha o preço do próprio apartamento todo dia. Mas é óbvio que esse imóvel tem muita variação de preço. E por quê? Porque considera o imóvel como um investimento de longo prazo”, diz.

De olho na aposentadoria dos filhos

O executivo do Itaú afirma que o fundo ciclo de vida é procurado principalmente por pais interessados em fazer as primeiras aplicações na aposentadoria dos filhos.

“A legislação tributária permite que os pais que abrem esses fundos para os próprios filhos possam deduzir o dinheiro aplicado no Imposto de Renda”, diz ele.

Sales, da Icatu, vê outro perfil de cliente. “Trata-se daquele investidor que não conhece previdência, não conhece investimentos, não pretende se dedicar a aprender sobre o assunto, mas confia o suficiente na capacidade do gestor [a instituição financeira] para deixar a aplicação no 'piloto automático', por assim dizer”, diz ele.

Fique atento ao mix de investimentos do fundo e às “mudanças de marcha”

François Racicot, especialista da consultoria Mercer (focada em previdência privada e recursos humanos), recomenda que o interessado nesse tipo de fundo de previdência busque informações sobre os tipos de aplicação em que o responsável pelo produto está autorizado a investir.

“Somente dizer que vai aplicar em renda fixa não é o informação suficiente. Renda fixa quer dizer muita coisa”, afirma. Uma informação fundamental é a maneira que o responsável pelo fundo vai fazer as mudanças no mix de aplicações desse produto.

Em tese, um fundo para aposentadoria em 2020 deveria ter a parcela do dinheiro aplicada em ações menor do que um fundo para 2040, inclusive nos primeiros anos.

Mas a situação pode ser um pouco mais complexa. Fundos com os mesmos prazos para o resgate final -2040, por exemplo- podem ser mais “agressivos” do que outros em que o gestor do fundo é um pouco mais conservador. O potencial de “sustos” do primeiro fundo, portanto, é maior.

“O investidor precisa saber qual é o seu perfil de risco, se ele não vai se preocupar tanto com as variações da Bolsa. O que não deveria acontecer é, no meio do caminho, ele pedir para mudar de um fundo 2040 [em tese, de maior risco] para um fundo 2020 [mais conservador]. É como se ele dissesse: 'eu não pretendo mais me aposentar em 2040'”, acrescenta Racicot, da Mercer.

Um universo restrito

Ainda existem poucas instituições financeiras, como o Itaú, Banco do Brasil e HSBC, que oferecem os fundos de aposentadoria do tipo ciclo de vida. A maior parte dos produtos oferecidos está no segmento de previdência privada aberta (VGBL e PGBL), principalmente para planos individuais.

Fundos de pensão estão aderindo de forma gradativa ao produto.