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Aumento dos juros nos EUA: como isso afeta o Brasil e o seu bolso

Shutterstock
Imagem: Shutterstock

Sophia Camargo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/12/2015 17h04

Como a decisão sobre o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos afeta o Brasil e o seu bolso?

Os Estados Unidos são considerados a economia mais segura do mundo. Um aumento da taxa de juros lá, ainda que mínimo, tem a capacidade de tirar recursos investidos em outros países e levar esse dinheiro para aquele país, provocando uma desvalorização das moedas. Com menos dólares no Brasil, por exemplo, o real fica mais fraco e o dólar sobe.

Para Alberto Felix de Oliveira Neto, responsável pela Tesouraria do Banco Máxima, o mundo considera os Estados Unidos uma economia livre de riscos e há uma tendência de que os recursos migrem para lá quando a taxa de juros aumenta.

"O reflexo disso seria um aumento na taxa de juros nos outros países, além da fuga de capitais em direção aos Estados Unidos, valorização do dólar e depreciação das demais moedas", diz.

Esse é, em resumo, o motivo pelo qual os países do mundo todo se preocupam com a reunião do Fed, o banco central americano.

Brasil deve sofrer mais

No caso do Brasil, a preocupação é ainda maior, pois a situação econômica e política interna está extremamente conturbada. Nesta quarta-feira (16), o Brasil sofreu a segunda perda do grau de investimento, dessa vez pela agência classificadora de risco Fitch.

"Estamos vivendo a tempestade perfeita: grave crise política, desemprego, inflação, juros e dólar em alta e rebaixamento do país", diz Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest.

Por isso, segundo ele, fatores externos como a possibilidade de alta da taxa de juros nos EUA agravariam ainda mais essa crise, pressionando a taxa de câmbio e a inflação.

A agência de classificação de risco Moody's afirma que o Brasil é um dos países emergentes que mais devem sofrer com a alta de juros dos EUA.

Para Clodoir Vieira, professor de finanças do Centro Universitário Senac, outra consequência imediata do aumento da taxa de juros americana seria o aumento dos custos para as empresas brasileiras que têm necessidade de buscar recursos no exterior para se financiar. "Elas terão de pagar mais caro em função de tudo isso", diz.

Como isso afeta a vida das pessoas?

Para Vieira, a alta dos juros nos Estados Unidos não afeta diretamente a vida das pessoas, mas indiretamente todos acabam sendo atingidos.

"As empresas vão repassar os custos mais elevados de captação do dinheiro. Além disso, provavelmente o dólar deve voltar a subir", diz.

O que fazer com os investimentos?

A recomendação unânime dos especialistas é que as pessoas mantenham o dinheiro na renda fixa, como Tesouro Direto e fundos de investimento com taxas de administração de até 1% ao ano.

"Aconselho a investir tanto em títulos atrelados à inflação, pois poderemos continuar tendo anos de inflação elevada, como títulos pós-fixados atrelados à Selic", diz Oliveira Neto.

Clodoir Vieira diz que a Bolsa é um investimento a ser evitado por pessoas que não tenham conhecimento nesse momento. "É só para quem tem fôlego para aguentar um período de pelo menos três anos e quem realmente tem apetite por risco, pois a renda fixa está pagando muito bem."

E o dólar?

Para Nicola Tingas, economista da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), os mercados já esperavam o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, e o real não deve sofrer uma desvalorização muito maior apenas por esse motivo.

"Nesta hora em que subiram os juros, podemos ter espasmos de mercado de um ou dois dias, pois as tesourarias vão ajustar suas posições. Acredito que muito mais impactante para o dólar é o rebaixamento do grau de risco", diz. "Nossa situação interna pesa bem mais."

Para Mauro Calil, no entanto, há possibilidade de o dólar ultrapassar rapidamente a casa dos R$ 4,50.

A orientação dos especialistas para quem precisa da moeda se divide. Para Mauro Calil, quem precisa da moeda deve comprar tudo de uma vez.

Tingas aconselha a ir comprando aos poucos, para fazer um preço médio.

Todos recomendam, no entanto, a não especular com a moeda. "O mercado não está para amador", diz Tingas. "O melhor que as pessoas têm a fazer agora é cuidar do dinheiro centavo por centavo, fazer bom uso dele."