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Previdência Privada

Você pode arriscar e ganhar mais com sua previdência privada; veja cuidados

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

26/09/2018 04h00

As aplicações em previdência privada crescem rápido no país. O problema é que elas ainda estão altamente concentradas em uma carteira muito pouco variada de investimentos e que, no geral, rendem bem menos do que poderia.

Em boa parte dos casos, os fundos de previdência privada dão retornos menores do que opções bem básicas como títulos do Tesouro, CDB e até a poupança.

Mais de 90% do dinheiro colocado lá está aplicado em fundos de renda fixa, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

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O que pouca gente sabe é que, uma vez que contrata um plano de previdência, o cliente pode escolher onde quer que o seu dinheiro seja aplicado, e as opções incluem vários outros fundos além da renda fixa, como fundos multimercado, os balanceados e fundos de ações.

Eles são compostos por opções de renda variável e que são mais arrojadas, como ações, moedas, imóveis e até investimentos no exterior.

São aplicações que aumentam o risco de perdas e as oscilações do investimento, o que exige cuidado e uma dose maior de atenção ao longo dos 20, 30 ou 40 anos em que o dinheiro ficará lá rendendo. Por outro lado, também dão a possibilidade de rendimentos maiores.

"A economia do país caminha para um futuro de juros menores, o que torna a renda fixa menos vantajosa do que foi no passado", disse João Batista Mendes Ângelo, presidente da comissão de produtos por sobrevivência da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

"Em um contexto de longuíssimo prazo como a previdência, a diversificação dos investimentos faz todo o sentido", afirmou.

Veja perguntas e respostas sobre o que é importante considerar na busca por rendimentos maiores ao se fazer um investimento em previdência privada.

Como funcionam os investimentos em previdência privada?

O dinheiro é aplicado em fundos criados e geridos pelas seguradoras exclusivamente para isso, que são os fundos de previdência.

O investimento só pode ser feito por meio de fundos, quer dizer, não é possível fazer a compra direta dos ativos, como de títulos públicos, CDB's, ações.

O beneficiário pode optar por deixar todo seu dinheiro em um único fundo ou em vários, e pode ir mudando essa composição ao longo do tempo dentro das opções de sua seguradora. A qualquer momento ele pode entrar em contato com a empresa e pedir para fazer uma realocação.

Quais são as opções de investimentos disponíveis?

As principais opções oferecidas hoje pelas empresas de previdência privada são os fundos de renda fixa, de ações, multimercado e balanceados.

Os fundos de renda fixa são compostos por papéis mais conservadores como títulos públicos, CDBs e letras de crédito (como LCA e LCI).

Os demais misturam, em maior ou menor proporção, renda fixa e renda variável. Podem abarcar ações, debêntures, ETF's, fundos imobiliários e até investimentos no exterior, como moedas e ações de empresas estrangeiras.

Incluir renda variável não aumenta risco de perder dinheiro?

Sim, é um risco em qualquer investimento de renda variável. Quanto mais arrojado o investimento, maior o potencial de ganhos, mas também de riscos, e a possibilidade de perder dinheiro não é descartada.

Os especialistas afirmam, porém, que, em investimentos de longuíssimo prazo, as oscilações da renda variável vão se anulando ao longo do tempo e tendem a sair com o saldo positivo ao fim.

"No longo prazo, a renda variável tende a render mais do que o CDI e a renda fixa", disse Marcelo Wagner, diretor financeiro da Brasilprev, braço de previdência privada do Banco do Brasil e dona da maior carteira de previdência privada do país.

"Em um horizonte de 20, 30 ou 40 anos, a probabilidade de perder é remota, porque, mesmo que o capital flutue, há ainda muito tempo à frente para recuperá-lo."

Meu rendimento está negativo, o que faço?

Com mais renda variável no portfólio, é normal que as oscilações aumentem e que meses e períodos negativos se alternem aos de variação positiva.

Um comportamento errado, mas muito comum das pessoas, é se desesperar aos primeiros sinais de queda e querer resgatar o dinheiro ou, no caso dos planos de previdência, tirar a parte do capital que está no fundo em queda e passar para outro menos instável.

"É a pior coisa que o investidor pode fazer, porque, ao resgatar, ela cristaliza aquela perda, sendo que, se tiver paciência de esperar, o valor tende a voltar com o tempo", disse Wagner, da Brasilprev.

"Pode ser uma queda circunstancial, que tem potencial de se recuperar mais à frente, ou a pessoa pode também mudar a estratégia e aproveitar os ciclos econômicos de altos e baixos para explorar outras oportunidades de investimentos", disse Ângelo, da FenaPrevi.

Quero colocar tudo em renda variável, posso?

Para a grande maioria dos casos, não. Pelas regras atuais, os fundos de previdência privada não podem ter mais do que 70% de sua composição em renda variável.

A única exceção são os chamados investidores qualificados, que são pessoas com um patrimônio superior a R$ 1 milhão em aplicações financeiras. Para esses, é permitido alocar até 100% do capital da previdência privada em renda variável.

Há também um limite de 10% para os investimentos no exterior, como moedas e ações de empresas estrangeiras.

Qual é a medida ideal entre renda variável e renda fixa?

Varia muito de acordo com o perfil da pessoa (conservador, moderado ou agressivo) e o momento da vida dela.

Quanto mais jovem a pessoa, maior a parcela que se aplicar na renda variável. Conforme o momento de se aposentar ou de fazer o resgate chega, deve-se ir migrando aos poucos para a renda fixa.

Como escolher os melhores fundos?

A primeira coisa é ter consciência de qual o seu interesse e sua tolerância ao risco, para não escolher investimentos que possam decepcionar depois.

A grande maioria dos fundos de previdência privada é pós-fixada, inclusive os de renda fixa, o que significa que o rendimento varia mês a mês e que simplesmente olhar para o histórico não diz o quanto ele pode subir no futuro.

De qualquer maneira, é importante acompanhar os rendimentos e compará-los a outros fundos similares ou a índices que servem de referência. Isso dá uma ideia da eficiência da gestão.

Um fundo de renda fixa que esteja rendendo menos que a taxa Selic ou o CDI, por exemplo, que são os principais indexadores desse tipo de investimento, indica uma gestão fraca.

Fazer a comparação entre fundos similares, inclusive com os de outras seguradoras que não a sua, também dá um norte: um fundo multimercado, por exemplo, que esteja rendendo mais que outro do mesmo tipo, com composições similares, indica uma gestão melhor.

Os fundos de outra seguradora estão melhores, posso mudar?

Sim. É possível fazer a portabilidade de uma empresa para outra, ou de um tipo de plano para outro dentro da mesma empresa, sem nenhum prejuízo.

Isso significa que não é necessário sacar tudo o que aplicou até ali, pagar os impostos que são aplicados à hora do resgate e reinvestir do zero em outro lugar. Tudo o que foi poupado e os respectivos rendimentos são transferidos integral e automaticamente.

De quanto em quanto tempo é preciso revisar os investimentos?

O ideal, disse Ângelo, da FenaPrevi, é acompanhar sempre os rendimentos de seus fundos e fazer uma revisão a cada um ou dois anos —"nem que seja para fazer um balanço de como o patrimônio evoluiu naquele período e chegar à conclusão de deixar como está."

Para aqueles com menos tempo, menos interesse ou até menos conhecimento para ficar analisando e reposicionamento investimentos, Ângelo disse que vale a pena se aproveitar ao menos dos grandes marcos da vida para fazer a avaliação. "A pessoa se casou, teve um filho, mudou de emprego: são momentos que valem para revisitar o plano e reajustar as escolhas", afirmou.

A minha previdência vem da empresa onde trabalho. Também posso diversificar?

Sim, é a chamada previdência privada fechada. Diferentemente da previdência aberta, que abarca os planos comerciais vendidos no mercado por bancos e seguradoras, a previdência fechada é mantida pela empresa e por seus funcionários e ex-funcionários.

Nelas, os participantes também têm a possibilidade de escolher entre uma variedade de opções de renda fixa e renda variável e fazer a reformulação da carteira de investimentos de seu plano de tempos em tempos.

"Nas maiores fundações, com grande patrimônio e muitos participantes, é comum haver a oferta de perfis de investimento, e a pessoa pode escolher se deseja direcionar sua poupança para um perfil mais agressivo, moderado ou conservador", disse Guilherme Velloso Leão, diretor-executivo da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar).

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