Previdência privada rende menos que Tesouro e CDB em 12 meses; veja se vale
A busca por alternativas para a aposentadoria faz a procura por planos de previdência privada crescer rápido no Brasil. Desde o começo de 2017, o total de dinheiro investido nesse tipo de aplicação no país aumentou 18%, chegando a R$ 757,5 bilhões em maio de 2018, segundo os dados mais recentes da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Esse capital todo, no entanto, é ainda muito concentrado e, no geral, rende pouco. Cerca de 90% do total está nas mãos dos cinco principais bancos do país --Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa e Santander.
Leia também:
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Um levantamento com base nos dados de mercado feito pela Monetus, startup de gestão de investimentos digital, estima que 70% dos fundos de previdência privada renderam nos últimos 12 meses menos do que o CDI ou que a Selic, duas taxas de referência que andam juntas e que, em um ano até junho, acumularam alta na faixa de 7,3%.
"Há casos de fundos dos grandes bancos que renderam apenas 80% do CDI", disse o presidente da Monetus, Daniel Calonge. Isso é algo em torno de 5,8% ao ano.
É menos do que investimentos básicos de renda fixa como os títulos públicos e CDBs e que acompanham a Selic e o CDI. O Tesouro Selic, por exemplo, é uma opção de título que remunera exatamente a taxa Selic, que rendeu 7,5% nos 12 meses até junho.
Um CDB que remunere 100% do CDI, por sua vez, pagou 7,4% no mesmo período, mas, a depender da corretora e dos prazos, há opções que oferecem até 120% ou 130% do CDI, o que, neste caso, seriam rendimentos de 8,9% a 9,6%. Todos (inclusive a previdência privada) estão sujeitos a desconto de Imposto de Renda de acordo com o prazo da aplicação.
Aplicar em previdência privada não vale a pena?
Isso significa, então, que previdência privada é perda de tempo e que a melhor opção para a aposentadoria é poupar direto em outras aplicações que vão render mais? Não necessariamente.
"A previdência privada tem benefícios tributários que outros investimentos não têm e é, sim, a melhor opção para a aposentadoria", disse a planejadora financeira Marisa Dornelles, certificada pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros).
Com uma tabela de Imposto de Renda própria, os planos de previdência têm opções que chegam a descontar apenas 10% de imposto, enquanto o mínimo da maioria das outras aplicações de renda fixa é 15%.
Além disso, eles têm desenhos pensados especialmente para o longo prazo e que atendem a diferentes tipos de perfis, caso do PGBL, do VGBL e das tabelas progressivas e regressivas de imposto (veja aqui as principais vantagens e desvantagens de um investimento em previdência privada).
Existem opções fora dos bancos
O segredo, portanto, está em pesquisar e comparar bem as opções de previdência privada disponíveis no mercado antes de fechar com a primeira oferta --não à toa, geralmente vinda do gerente do banco onde já se tem conta.
"As pessoas acabam ficando com a previdência do banco onde já é cliente, porque é mais cômodo ou por falta de informação", disse Calonge, da Monetus. "Mas há várias seguradoras independentes [sem vínculo a banco] que conseguem rentabilidades bem maiores, mesmo sem sair de um perfil conservador, investindo só em renda fixa."
O levantamento feito pela Monetus encontrou fundos de previdência aplicados em renda fixa, fora dos bancos, que chegaram a render até 112% do CDI.
Como funciona a previdência privada e onde adquirir
A contratação de um plano de previdência privada deve sempre ser feita por uma seguradora. Mesmo se a compra foi no banco, na prática, é a seguradora do grupo que detém e opera o produto. Todo grande banco tem a sua, como a Caixa Seguradora, a Bradesco Seguros ou a BB Seguros, do Banco do Brasil.
Fora deles, há ainda as seguradoras tradicionais que também oferecem planos de previdência privada. Ikatu, Mapfre, Porto Seguro, Sul América, Tokio Marine e Zurich são algumas delas.
Todo o dinheiro que cada cliente coloca mês a mês em seu plano de previdência é aplicado pela empresa em fundos de investimentos, criados exclusivamente para isso. Funcionam como qualquer outro fundo: montam uma cesta formada por produtos financeiros diversos, com o objetivo de fazer aquele dinheiro render alguma coisa a cada ano. O dinheiro que o beneficiário terá direito a sacar ao fim dos investimentos, depois de 20 ou 30 anos, é resultado desses rendimentos.
Escolher ações ou renda fixa?
As opções de fundos de previdência são variadas, e o cliente pode escolher em quais quer que seu plano seja colocado. Incluem fundos arrojados, como de ações e multimercado, que abarcam opções de risco como a Bolsa e ativos em dólar. A esmagadora maioria, porém (93%, segundo a Anbima), ainda vai para a renda fixa, em fundos construídos com produtos conservadores e de baixo risco como Tesouro, CDB, LCA ou LCI.
Os grandes bancos costumam concentrar a administração desses fundos internamente. Com o amadurecimento do mercado, porém, muitas das seguradoras independentes passaram a delegar essa gestão para corretoras de valores e gestoras especializadas em investimentos.
"Hoje já é possível ir a uma corretora, a mesma que vende ações, e comprar um plano de previdência privada", disse Marisa, da Planejar . "Quem detém o plano é a seguradora, mas muitas corretoras distribuem esses planos e os oferecem entre seus produtos, às vezes até com taxas e condições diferentes."
Você pode trocar de plano sem perdas
Já tem um plano de previdência privada, mas encontrou outra opção melhor, que rendeu mais ou que cobra menos taxas?
Sem problema. Pela legislação atual, é possível fazer a migração do seu plano atual para qualquer outra instituição, sem perder tudo o que foi investido, o que já acumulou de rendimentos até ali e também sem precisar sacar o montante, pagar os impostos, e depositá-lo novamente em outro lugar depois.
“É como a portabilidade do número de celular”, afirmou Calonge. “A pessoa, basicamente, transfere o dinheiro que já tem de uma instituição para outra e, a partir daí, ele passa a render pela nova gestora.”
O que levar em consideração ao comparar planos?
Ao se contratar um novo plano de previdência ou migrar do que já tem para outro, há uma trinca de condições que a pessoa deve considerar e que deve sempre ser questionada ao gerente ou ao corretor para comparar as diferentes opções:
- Rendimento: a grande maioria dos fundos de previdência privada é pós-fixada, o que significa que o rendimento varia mês a mês e não é possível saber, de antemão, quanto ele vai aumentar no futuro. Ainda assim, vale solicitar para as empresas os rendimentos do último ano ou até de um período maior e fazer a comparação entre elas. Rendimentos maiores indicam uma gestão mais eficiente dos recursos (é importante, porém, que a comparação seja feita entre fundos da mesma natureza, isto é, fundos de renda fixa com renda fixa, de ações com ações e assim por diante).
- Taxa de administração: todos as operadoras cobram uma taxa de administração anual, geralmente de 1,5% a 4% ao ano sobre o valor total aplicado. Essa taxa varia entre as instituições e deve ser levada em consideração na escolha: quanto menor, melhor.
- Taxa de carregamento: é uma outra taxa, que pode ser cobrada na entrada ou na saída. Ela costuma girar em torno dos 3% e também varia entre as provedoras. Sempre que um valor é aplicado na conta, desconta-se dele 3% (taxa de entrada), ou, quando for feito o resgate, desconta-se 3% do total (taxa de saída). Hoje, porém, há muitas seguradoras que oferecem isenção das taxas de carregamento de acordo com fatores como os valores aplicados mês a mês (para a taxa de entrada) ou o tempo da aplicação até o resgate (para a taxa de saída).
E se a seguradora quebrar?
A grande desvantagem da previdência privada em relação à maioria dos investimentos tradicionais de renda fixa está na segurança: ela não tem o amparo do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), um fundo formado pelos bancos que restitui até R$ 250 mil aos investidores caso a instituição onde está seu investimento quebre. O FGC é válido para aplicações como poupança, CDB e letras de crédito.
A rigor, isso significa que, caso a seguradora onde você acumulou sua previdência por décadas venha a quebrar, há o risco de seu patrimônio se perder junto com ela, inclusive se for uma seguradora ligada a um banco.
Há um consenso entre especialistas da área, porém, de que as chances de isso acontecer são extremamente pequenas, já que todas as seguradoras são controladas de perto e devem seguir regras financeiras rigorosas da agência reguladora do setor, a Susep (Superintendência de Seguros Privados).
Além disso, antes de chegar à falência de fato, a operadora de previdência privada que comece a mostrar sinais de desequilíbrio nas contas sofre uma intervenção da Susep, que assume a gestão até que o negócio se reestruture ou até que o máximo de credores seja pago. Beneficiários dos planos são os primeiros na lista de prioridades nesse caso.
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