Na França, criadores de gado temem chegada de carne sul-americana
Sainte-Cécile, França, 17 Jan 2018 (AFP) - Cédric Mandin é um fazendeiro nato. Ele pertence à quarta geração de sua família dedicada à criação de gado bovino da raça Charolesa na remota comuna rural de Sainte-Cécile, no oeste da França, mas teme que ela seja a última.
Seu medo decorre do acordo comercial em negociação entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) - uma das regiões mais competitivas do mundo na produção e exportação de carne bovina - cuja assinatura parece mais próxima que nunca.
Essa perspectiva lhes assusta. Com o tratado, "ficaríamos numa situação insustentável", garante pecuarista de 44 anos que, com seu irmão François, herdou há 20 anos a gestão de Le Moulinet, uma criação de 250 vacas em aleitamento a 400 km de Paris.
Atualmente, Mandin vende seus animais com prejuízo. "Hoje, nos pagam entre 3,60 e 3,70 euros o quilo de carne, faltam uns 70 centavos para cobrir nossos custos de produção", explica.
"Temos um verdadeiro déficit, se acrescentamos a carne sul-americana, todo esse volume maciço dentro da Europa, corremos o risco de que os preços despenquem", afirma.
- Setor em crise -O setor bovino francês, o primeiro da Europa, atravessa uma profunda crise em meio a uma queda da receita e um aumento do endividamento dos criadores de gado.
"Passamos quatro anos em crise, quatro anos tentando de tudo para otimizar nossos custos, chegamos a um ponto em que não vemos o que mais poderíamos fazer", afirma Mandin.
Se os dois blocos chegarem a um acordo, pelo menos 70 mil toneladas de carne bovina do Mercosul entrariam na UE todo ano com tarifas aduaneiras reduzidas. A quantidade ainda pode aumentar, já que o bloco sul-americano considera essa oferta insuficiente.
Apesar de essa cota representar apenas 1% da produção total europeia e 4,5% da francesa, os criadores de gado temem que o mercado não possa absorver esse adicional. A carne sul-americana se somaria às 65 mil toneladas que a UE se comprometeu a importar do Canadá, com a assinatura do acordo CETA, em um contexto de queda do consumo de carne na Europa.
Para Philippe Chotteau, diretor do departamento econômico do Instituto de Pecuária da França, a entrada de gado a preços mais competitivos "acentuará a crise em todo o setor".
Segundo seus cálculos, os preços de venda poderiam cair mais de 10% e entre 25 mil e 30 mil empregos desapareceriam na França neste setor.
"Os pecuaristas franceses vamos ser os grandes perdedores deste acordo", lamenta Mandin, que encontrou algum alívio após a recente promessa da China de reabrir suas fronteiras ao gado francês em até seis meses.
"Ainda precisa se concretizar, mas seria uma boa notícia", estima.
Além das preocupações econômicas, entretanto, há inquietações na França sobre a "rastreabilidade" da carne e os "padrões de segurança alimentar" aplicados nos países do Mercosul, surgidas após o escândalo de carne adulterada em março de 2017 no Brasil, líder mundial na exportação de carne.
Mandin defende a "especificidade" do gado francês. "Nossos animais são identificados desde o nascimento. No Mercosul, só quando saem das fazendas. Eu sou capaz de dizer o nome do pai e da mãe de cada uma das minhas vacas. Há uma verdadeira rastreabilidade durante a vida dos animais", garante.
Após quase duas décadas de estagnação, o acordo entre os dois bloco se aproxima, mas a janela de oportunidade para fechá-lo é curta, devido às eleições deste ano no Brasil.
Seu medo decorre do acordo comercial em negociação entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) - uma das regiões mais competitivas do mundo na produção e exportação de carne bovina - cuja assinatura parece mais próxima que nunca.
Essa perspectiva lhes assusta. Com o tratado, "ficaríamos numa situação insustentável", garante pecuarista de 44 anos que, com seu irmão François, herdou há 20 anos a gestão de Le Moulinet, uma criação de 250 vacas em aleitamento a 400 km de Paris.
Atualmente, Mandin vende seus animais com prejuízo. "Hoje, nos pagam entre 3,60 e 3,70 euros o quilo de carne, faltam uns 70 centavos para cobrir nossos custos de produção", explica.
"Temos um verdadeiro déficit, se acrescentamos a carne sul-americana, todo esse volume maciço dentro da Europa, corremos o risco de que os preços despenquem", afirma.
- Setor em crise -O setor bovino francês, o primeiro da Europa, atravessa uma profunda crise em meio a uma queda da receita e um aumento do endividamento dos criadores de gado.
"Passamos quatro anos em crise, quatro anos tentando de tudo para otimizar nossos custos, chegamos a um ponto em que não vemos o que mais poderíamos fazer", afirma Mandin.
Se os dois blocos chegarem a um acordo, pelo menos 70 mil toneladas de carne bovina do Mercosul entrariam na UE todo ano com tarifas aduaneiras reduzidas. A quantidade ainda pode aumentar, já que o bloco sul-americano considera essa oferta insuficiente.
Apesar de essa cota representar apenas 1% da produção total europeia e 4,5% da francesa, os criadores de gado temem que o mercado não possa absorver esse adicional. A carne sul-americana se somaria às 65 mil toneladas que a UE se comprometeu a importar do Canadá, com a assinatura do acordo CETA, em um contexto de queda do consumo de carne na Europa.
Para Philippe Chotteau, diretor do departamento econômico do Instituto de Pecuária da França, a entrada de gado a preços mais competitivos "acentuará a crise em todo o setor".
Segundo seus cálculos, os preços de venda poderiam cair mais de 10% e entre 25 mil e 30 mil empregos desapareceriam na França neste setor.
"Os pecuaristas franceses vamos ser os grandes perdedores deste acordo", lamenta Mandin, que encontrou algum alívio após a recente promessa da China de reabrir suas fronteiras ao gado francês em até seis meses.
"Ainda precisa se concretizar, mas seria uma boa notícia", estima.
Além das preocupações econômicas, entretanto, há inquietações na França sobre a "rastreabilidade" da carne e os "padrões de segurança alimentar" aplicados nos países do Mercosul, surgidas após o escândalo de carne adulterada em março de 2017 no Brasil, líder mundial na exportação de carne.
Mandin defende a "especificidade" do gado francês. "Nossos animais são identificados desde o nascimento. No Mercosul, só quando saem das fazendas. Eu sou capaz de dizer o nome do pai e da mãe de cada uma das minhas vacas. Há uma verdadeira rastreabilidade durante a vida dos animais", garante.
Após quase duas décadas de estagnação, o acordo entre os dois bloco se aproxima, mas a janela de oportunidade para fechá-lo é curta, devido às eleições deste ano no Brasil.
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