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Diminuem expectativas de encontrar sobreviventes de tragédia em Brumadinho

28/01/2019 22h06

Brumadinho, Brasil, 29 Jan 2019 (AFP) - Os socorristas continuavam nesta segunda-feira (28) recuperando corpos da tragédia ocorrida na sexta-feira em Brumadinho, Minas Gerais, sem deixar de lado a esperança de encontrar sobreviventes em uma região que começa a avaliar o impacto ambiental da ruptura de uma barragem da mineradora Vale.

O número oficial de mortos aumentou nesta segunda de 58 para 65, enquanto a cifra de desaparecidos diminuiu de 292 para 279. Segundo equipes da AFP que assistiram à recuperação de vários corpos, o balanço de vítimas fatais pode aumentar consideravelmente nos próximos boletins.

"As chances (de encontrar sobreviventes) são muito pequenas considerando o tipo de tragédia, que envolve lama", disse o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

A Vale, pressionada judicial e economicamente, disponibilizou centros de antedimento para os familiares das vítimas e anunciou o pagamento de 100.000 reais para cada família atingida. À tarde, a Justiça do Trabalho determinou um novo bloqueio de contas da empresa, desta vez no valor de 800 milhões de reais, para garantir as indenizações trabalhistas.

As operações de resgate são realizadas desde domingo à noite com a ajuda de 136 efetivos israelenses. A proposta de ajuda do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi aceita pelo presidente Jair Bolsonaro, que busca estreitar relações com o Estado hebreu.

Após o rompimento da barragem, no começo na tarde de sexta-feira, enxurradas de resíduos de mineração e água atingiram casas, estruturas da empresa e veículos, cobrindo-os em segundos.

Com 39 mil habitantes, Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, amanheceu nesta segunda em relativa calma, contrastando com o clima de domingo, quando a Vale acionou uma sirene durante a madrugada alertando para o risco iminente de ruptura em outra barreira na mina Córrego do Feijão, epicentro da catástrofe.

A igreja simples de cores claras, típica desta zona central de Minas, é agora um centro de comando dos diferentes corpos de resgate.

- Sombria ronda de helicópteros -Também aterrissam ali os helicópteros, que dispõem os cadáveres com redes, em uma operação que, esta tarde, aumentou o ritmo, pois a lama está secando: os socorristas veem um corpo e avisam o helicóptero, que o recolhe e coloca ao lado da igreja.

De lá, vai para um caminhão refrigerado e depois para o Instituto Médico Legal.

Cobertos por plásticos, é possível reconhecer a forma dos corpos pendendo no ar. Ao lado da igreja, fora do recinto onde estão as equipes, três homens cavam sepulturas no modesto cemitério de Córrego do Feijão sob um sol que torna a situação mais difícil, mas é o melhor aliado dos socorristas.

A lama invadiu a região e os bombeiros trabalham em condições duras, sobre a lama e a areia movediça de até 15 metros de profundidade, fazendo escavações em busca de sobreviventes ou corpos. Quanto mais sólido for o terreno, mais rápido irão.

- Incerteza -Fora da lama, centenas de pessoas continuam aguardando notícias de familiares e amigos.

No centro de atenção aos familiares estabelecido pela Vale nos arredores de Brumadinho, os gritos interrompem o silêncio.

José Ferreira da Silva, um operário de 55 anos, ainda tem esperanças de encontrar seu filho, Josué Oliveira da Silva, empregado de uma empresa terceirizada da Vale, que havia completado 27 anos dois dias antes da tragédia.

Não tem notícias dele desde a última vez que ligou, na quinta-feira, como todas as noites.

"Ele está na lista de desaparecidos. A gente ainda tem esperança de que ele possa estar desacordado", afirma, tentando conter as lágrimas atrás dos óculos escuros.

Veio junto com sua nora, que chora inconsolavelmente, e sua esposa, mas não confiam nas informações que a Vale lhes dá.

Para ele, que reside na vizinha Ibirité e viveu toda a vida no campo, seria bom que deixassem as famílias se aproximar da área do desastre para colaborar nas buscas.

"Poderíamos tentar ajudar, estamos desesperados", acrescenta.

- 'Crime ambiental' - O vazamento de lama e de rejeitos de mineração após o rompimento da barragem avançou até o rio Paraopeba, afetando o fornecimento de água potável à aldeia indígena Nao Xoha ("espírito guerreiro"), a um 20 quilômetros do complexo de mineração.

"Ontem (domingo) às 04h00 notamos que o rio estava chegando sujo e à tarde começamos a ver peixes mortos", contou por telefone à AFP o cacique Háyó Pataxó Hã-hã-hãe.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi até o local, onde vivem 27 famílias para levar doações e prestar ajuda.

"Estamos em uma situação muito séria (...). Dependíamos do rio e o rio morreu. Não sabemos o que fazer", disse o cacique Háyó.

A Secretaria do Meio Ambiente prepara um relatório sobre a situação do rio Paraopeba, informou a assessoria do gabinete.

"É muito preocupante, estamos vendo o avanço de toda essa lama tóxica, e a perspectiva é que avance 220 quilômetros até outra barragem, onde dizem que esses resíduos de mineração podem ser represados (...), mas são projeções", disse à AFP Marcelo Laterman, geógrafo e porta-voz da campanha Clima e Energia do Greenpeace, que exige punição para a Vale por "este crime ambiental".

À noite, dezenas de pessoas protestaram em frente à sede da Vale, em Botafogo, na zona sul do Rio, para demonstrar sua indignação.

- Ações da Vale despencam -As ações da Vale despencaram nesta segunda-feira quase 25%, na primeira sessão da Bolsa de São Paulo desde a tragédia.

A Justiça bloqueou 12,6 bilhões de reais e a empresa acumula multas de 449 milhões de reais.

A barragem não era usada há três anos e era verificada regularmente, segundo a Vale.

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