Sem competições para cobrir, imprensa esportiva encara "maior desafio" de sua história
Paris, 23 Mar 2020 (AFP) - A imprensa esportiva sofre duramente com a interrupção inédita do noticiário devido à suspensão das competições esportivas por conta do coronavírus e, embora tente compensar abordando um conteúdo mais generalista ou apelando para matérias e vídeos de arquivo, enfrenta "o maior desafio" de sua história.
Futebol, basquete, tênis, ciclismo... as competições nacionais e internacionais foram adiadas ou canceladas nos últimos dias à medida que a pandemia do coronavírus se propagada pelo mundo, deixando as mídias especializadas praticamente sem assunto e sua grande audiência sem seu passatempo favorito.
A Eurocopa e a Copa América, duas das competições mais importantes do futebol previstas para serem disputadas entre junho e julho, foram adiadas para 2021 e somente um evento segue na corda-bamba: os Jogos Olímpicos de Tóquio, agendados para começar em 24 de julho.
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, admitiu nesta segunda-feira (23) que o adiamento dos Jogos poderá se tornar "inevitável" e as dúvidas sobre a realização da Olimpíada é a única notícia de atualidade que alimenta as manchetes esportivas.
"O jornalismo esportivo neste momento está diante do maior desafio de sua história", admite à AFP Juan Ignacio Gallardo, diretor do jornal mais lido da Espanha, o esportivo Marca.
"Ficamos sem informação e precisamos nos reinventar", afirma Vicente Jiménez, diretor do principal concorrente, o diário As.
- Adaptação -O desafio mais imediato consiste em se adaptar a esta "seca" de informação sem precedentes.
Assim, estes jornalistas espanhóis e veículos de referência em outros países, como o L'Equipe francês, reduziram o número de páginas em suas edições impressas.
Seus jornalistas se concentram, por exemplo, em cobrir o impacto da pandemia no esporte, como o italiano Gazzetta dello Sport, que dá protagonismo aos jogadores da Juventus que deram positivo para o coronavírus, mas também a dar informações gerais sobre a pandemia, algo inédito para a imprensa especializada.
"Pela primeira vez na história do Marca adicionamos duas páginas de informações gerais na edição impressa", explicou Gallardo, que também criou uma nova sessão chamada "Leituras para ficar em casa", com artigos sobre a história do futebol.
No As, cerca de quinze repórteres se dedicam a cobrir informações gerais para a edição impressa. No site, foi feita uma transmissão ao vivo sobre a crise do coronavírus.
- Queda da receita -Já o L'Equipe segue escrevendo matérias sobre esportes que ainda sobrevivem apesar da pandemia, como o sumô e o 'e-sport', os jogos de videogame.
No geral, todos estes veículos incluem também conselhos sobre como praticar esportes no confinamento e recomendações para se cuidar com dietas saudáveis, muitas vezes apresentadas pelos próprios atletas isolados em suas casas.
Mas há incerteza sobre a capacidade dessas medidas de reter os leitores.
Assim como a imprensa que cobre assuntos gerais, a esportiva está registrando um aumento no número de visitas aos sites, motivado pelo grande interesse causado pela pandemia e pela necessidade do público de se manter informado.
Mas os analistas alertam que um aumento do número de visitas aos sites não deverá compensar a queda de receita com publicidade, consequência inevitável da recessão econômica que se aproxima a nível global.
- Retransmissões -Este é um risco que as emissoras de televisão também correm, à falta de jogos ao vivo para transmitir e, por consequência, de milionários contratos publicitários com anunciantes, suspensos durante a crise.
Por enquanto, algumas emissoras tentam frear a queda de audiência retransmitindo jogos históricos.
Na França, o Canal+ substituiu o futebol e a Fórmula 1 por filmes e séries, enquanto que as emissoras esportivas Eurosport e BeIn passam essencialmente jogos do passado.
Outras emissoras interromperam totalmente suas atividades, como o canal de informação 24 horas RMC Sport News, que deixou de ir ao ar em 16 de março.
- Entediados sem futebol - "É claro que sentimos falta do futebol, principalmente nos fins de semana. Mas não é catastrófico, há outras prioridades neste momento", como conter a pandemia, afirma à AFP o francês Xavier Bouillon, de 40 anos, torcedor do Paris Saint-Germain.
E embora poucas pessoas coloquem em dúvida a necessidade de paralisar o esporte por motivos de saúde pública, no Twitter proliferam comentários de internautas que reclamam do "tédio" que é a vida sem futebol.
burs-app/mb/am
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