Boeing desiste de compra da divisão comercial da Embraer
Nova York, 25 Abr 2020 (AFP) - A construtora aeronáutica americana Boeing anunciou, neste sábado (25), que rescindiu um acordo de US$ 4,2 bilhões para adquirir a divisão de aviões comerciais da sua rival brasileira Embraer.
Na parte da tarde, a Embraer acusou a americana de "rescindir indevidamente" o contrato, usando "falsas alegações" para evitar cumprir seus compromissos.
"A Embraer acredita firmemente que a Boeing rescindiu indevidamente o Acordo Global da Operação (MTA) e fabricou falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação e pagar à Embraer o preço de compra de U$ 4,2 bilhões", disse a brasileira em comunicado.
A companhia americana atravessa uma crise pela emergência da pandemia de coronavírus e problemas com seu modelo 737 MAX.
Um memorando de entendimento, assinado pelas duas companhias em julho de 2018, estipulava a formação de uma joint venture na qual a Boeing teria 80% da participação na divisão comercial da Embraer. Os 20% restantes permaneceriam sob controle da brasileira.
Uma segunda empresa mista se encarregaria da comercialização do avião militar C-390 do grupo brasileiro.
O acordo deveria ser finalizado até sexta-feira, 24 de abril.
Mas a Boeing explicou neste sábado que exerceu seu direito de desistir do contrato por a Embraer "não atender às condições necessárias", segundo comunicado de imprensa.
"A Boeing trabalhou diligentemente nos últimos dois anos para concluir a transação com a Embraer. Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas", justificou Marc Allen, responsável da Boeing para esta parceria com a Embraer.
"O objetivo de todos nós era resolver as pendências até a data de rescisão inicial, o que não aconteceu", disse.
As duas empresas poderiam prolongar as negociações, mas finalmente desistiram de continuar a operação.
Vão manter, porém, o contrato vigente relativo à comercialização e manutenção conjunta da aeronave militar C-390 Millenium, assinado em 2012 e ampliado em 2016.
O plano de fusão da Boeing e Embraer foi anunciado alguns dias após a entrada em vigor da parceria entre a Airbus e a canadense Bombardier, que permitiu aos europeus assumir o controle do programa Cseries.
Com a aquisição da Embraer, a Boeing competiria com sua rival europeia no segmento de aeronaves regionais.
Ao mesmo tempo, permitiria à Embraer se beneficiar da força comercial da Boeing.
O projeto de aquisição recebeu a autorização de todas as autoridades envolvidas, exceto a da Comissão Europeia, que temia que a operação deixasse o terceiro principal participante de um mercado já altamente concentrado fora de competição e abriu uma investigação a esse respeito.
Embora a Boeing não tenha especificado os motivos de sua desistência, a decisão chega em um momento difícil para a companhia aérea.
A pandemia de COVID-19 afetou enormemente as viagens aéreas e as companhias estão cancelando ou atrasando a compra de aeronaves.
O grupo também foi forçado a suspender temporariamente as atividades em suas fábricas nos Estados Unidos por causa das medidas de contenção destinadas a combater a propagação do coronavírus.
Além disso, a Boeing é afetada pelos problemas com seu modelo 737 MAX, proibido de voar há mais de um ano após dois acidentes que mataram 346 pessoas. Ainda não há data prevista para a retomada das operações dessas aeronaves.
O valor da empresa na Bolsa de Nova York caiu 61% desde o início deste ano. O grupo pediu cerca de US$ 60 bilhões do governo federal para atender às suas necessidades e às de seus 17.000 subcontratados no país.
A Embraer também está em uma situação difícil.
Em março, a brasileira registrou perdas significativas no quarto trimestre de 2019 e se recusou a anunciar metas para 2020 devido à incerteza prevalecente no mercado de aviação devido à pandemia.
Desde janeiro, o valor de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo caiu 60%.
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